Capítulo Trinta e Sete

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                     💭Satou Mafuyu💭

Acordei um pouco mais cedo do que o normal por espanto, e sem nenhuma surpresa, ainda estava no hospital. Olhando ao redor, vi Uenoyama-kun sentado na poltrona. Quando ele notou que acordei, chegou um pouco mais para frente, e encostou sua mão na minha.

- Como você está? Pareceu não ter sonhado muito bem. -

De fato, o sonho que eu tive foi... Terrível. Eu sonhei novamente com aquelas noites quando eu era criança, foi como se eu passasse por todos aqueles momentos em sequência, parecia que aquele sonho não tivesse fim. Apenas fiquei em silêncio, sem saber o que falar ou qual expressão fazer. A última coisa que eu quero agora, é preocupar Uenoyama-kun de novo porém ele está bom demais em ler minhas expressões é saber o que estou mentindo. Não sou capaz nem de dizer a verdade, nem de mentir. Como esperado, ele pareceu perceber que minha reação foi um tanto vaga, e seu rosto mudou levemente de expressão para uma mais tranquila.

- Mafuyu, quer conversar sobre? Mesmo tudo tendo acabado, você não está tranquilo. Pode dizer, estou aqui para te ouvir. -

Ele disse segurando minha mão com mais força, e foi quando eu perdi completamente a barreira que construí durante anos para impedir que alguém me visse em um estado crítico.

- Sim... Eu quero te contar tudo, quero que saiba de tudo... Uenoyama-kun, obrigado. -

Coloquei minha outra mão por cima da dele e a segurei firme também, impedindo-o de a soltar por algum tempo. Ele apenas acentiu e esperou pacientemente que eu começasse a falar.

- Eu... Suponho que Hiiragi já te contou da maioria das coisas porém... Permita que eu repita suas palavras... -

Uenoyama-kun acentiu levemente e sorriu, voltando a esperar que eu estivesse pronto. Me senti mal por alguns segundos, porém comecei a falar de qualquer jeito.

- Ele, sem surpresa alguma, sempre me odiou. Que eu me lembre, eu não podia falar nem fazer nada sem ser agredido fisicamente ou verbalmente, as vezes até os dois... Eu realmente não me lembro como isso tudo começou, nem por que começou... Porém antes disso, ele realmente era como um pai muito bom... Foi como se o fato de eu simplesmente ter aprendido a falar fosse uma ofensa enorme para ele, e então ele mudou... -

Uenoyama-kun não deixou minha mão uma vez sequer, e escutava atentamente toda a história, que eu tenho certeza dele já ter ouvido.

- Ficamos anos e anos assim. Eu falava, ele se irritava, e eu era agredido. Chegou a um ponto que isso passou a dificultar minha vida com outras crianças, que eram bem mais fortes e brilhantes e eu sentia inveja delas... Todos os dias, eu lamentava sobre o quão corajosas elas eram e eu? Não era nada, nem nunca fui... -

Olhei para baixo, procurando mais palavras para continuar a falar.

- No final eu era agredido por eles também. Por que segundo eles, eu era "estranho". E eu realmente não os culpo por isso. Se qualquer pessoa ver uma criança que não fala, e ao invés prefere observar, vão pensar que é anormal e vão resolver não se aproximar demais... Muitos dizem que não são assim, mas quando aparece algum caso do tipo agem igual ou pior... -

Soltei a mão de Uenoyama-kun e abracei minhas pernas ao invés, sentindo minha cabeça começar a se lotar de pensamentos novamente.

- Por muito tempo eu cansei de tentar procurar ajuda, e apenas deixei com que as coisas acontecessem... Eu estava exausto. Se Yuuki-chan não tivesse me estendido a mão naquele dia, eu provavelmente estaria morto agora por que eu... -

Depois disso não consegui terminar a falar, e ao invés abracei mais e mais minhas pernas, já sentindo-as doloridas junto com meus braços.

- Por que você simplesmente desistiu da vida? -

Uenoyama-kun completou, e eu lentamente acenti. Naquela época, eu tentei tirar minha vida de diversas formas, porém nenhuma delas foi eficaz e sai com ferimentos em todas. Mas graças a isso, nenhuma dor é realmente insuportável para mim.

- Eu não estava pensando direito... Para mim não havia mais soluções, eu poderia apenas fazer qualquer coisa. Eu conseguir dormir já era um milagre naquela casa... -

Abaixe um pouco a minha cabeça, recebendo alegremente os carinhos que ganhei entre meus cabelos encaracolados. Porém não tive coragem de levantar a cabeça e olhar para seu rosto agora, visto que suas mãos vacilavam as vezes. Eu não estava com medo de sua expressão por achar que ele estaria irritado, frustrado ou com ódio, mas sim por que meu rosto demonstra isso. Eu não consigo mais esconder nada dele, e não sei se isso é bom, ou ruim.

De forma repentina, comecei a tremer levemente não sabendo mais controlar minhas emoções, e por um segundo, a ideia de pedir para ele sair da sala foi considerada por mim. Eu não quero que ele me veja em um estado miserável, não quero que ele veja o quanto sou sentimental na verdade, e muito menos:não quero que ele me veja chorar. Porém o que me surpreendeu não foi o fato de que ele recuou, mas o fato de que ele me abraçou!

- Mafuyu, está tudo bem em chorar... -

Uenoyama-kun disse afagando um pouco mais cabelos, atingindo bem o meu ponto fraco emocional. Não sei por que, mas ali mesmo, eu simplesmente me derrubei em lágrimas enquanto o abraçava com muita força.

- Está tudo bem, já acabou... -

Ele beijou minha testa gentilmente, enquanto falava palavras confortantes. Eu me senti muito confortável em seus braços, acabei me esquecendo do tempo e não sei por quanto tempo eu chorei... Porém sei que me senti bem melhor após isso.

- Uenoyama-kun... Obrigado... Por tudo. -

Ele apenas sorriu. Finalmente, está tudo bem... Pelo menos por alguns segundos, antes que Saeko-san praticamente invadisse.

- Saeko-

- HIIRAGI ELE... ELE SE MATOU! -

__iiiiiiiih que final foi esse??? Ah, preciso de alguns dias para me recuperar hehehe!

Lágrimas de Inverno(Given)Onde histórias criam vida. Descubra agora