Capitulo 24

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        Quatro anos mais tarde...

- Melinda, é a milésima vez que aviso. Não deixes os meus desenhos espalhados por todo o lado! - Gritei do andar de cima, ela tinha a mania de vasculhar os meus desenhos para poder aprender os meus traços - Se os estragares não te vou perdoar.

- Desculpa -  Ouvi a voz quase inaudivel vindo da cozinha.

        Ajoeilhei-me para juntar os montes de papeis num só. Ela fazia isto todas as semanas. Tirava os desenhos das gavetas, desarrumava as minhas pinturas e usava os meus materiais para treinar nas suas obras. Há cerca de um ano que começei a pintar. Despertei uma parte da arte de mim, e como não tinha muita coisa para fazer e nem tinha trabalho também os começei a vender.

        A minha familia vivia comigo na mansão. Cada um contibuía como podia mas também não éramos pobres assim como não éramos ricos. O meu pai carregava e cortava lenha na aldeia, a minha mãe era mulher-a-dias e conseguia sempre arranjar algum lugar para trabalhar, a Melinda limpava a casa enquanto estavamos todos ocupados e eu pintava. Se não fosse mais três pequenos meninos o dinheiro chegava e sobrava mas não me posso queixar porque todos me alegram os dias.

        Estou feliz por estar a levar esta vida. Não me vejo como uma criança mas sim como uma mulher, uma mulher que finalmente cresceu. Tenho tratado a Melinda como se fosse minha filha, os nossos pais têm passado muito tempo fora por causa  o trabalho e dá-me tempo para aprender a lidar com as crianças.

        Suspirei.

        Passaram quatro anos sem nenhuma resposta, sem nenhum sinal ou mensagem. Nunca o esqueci, pode parecer estupido mas não. É impossivel esquecê-lo, quando eu moro na sua casa, quando vivi a maior parte da minha vida com ele, quando os momentos que tive com ele foram intensos. À noite ainda choro, ainda chamo pelo seu nome e sonho com o seu toque. Tantos anos, tanto tempo. Sem Sasha e sem Napoléon.

        Martín também sentia a falta de Sasha. Nem ele nem eu sabemos o que aconteceu. Se morreu ou se continua viva por aí, claro que não gosto de pensar que ela tenha morrido mas acho que não há muitas outras altenativas. 

        Eu ainda espero por ele como se fosse o primeiro dia. Gosto de pensar que ele não me esqueceu e que está só a fazer com que tudo corra bem comigo, que foi para me fazer feliz. Claro que preferia o ter aqui mas talvez a minha mãe tenha razão. Sou humana então tenho de agir como uma pessoa normal, ter um homem normal, uma familia normal e morrer de velhice ao lado do meu marido humano.

        Isso podia ser normal mas na minha cabeça ainda não fazia muito sentido. Fazia mais sentido ficar com um vampiro que era imortal até morrer. Simplesmente isso, sei que com isso não podia ter filhos nem podia dizer a toda a gente que era o meu marido quando eu fosse uma velha, teria de mudar de sitio várias vezes. 

        Parei para pensar.

     Olhei detalhadamente para cada traço dos meu lápis. Se eu não o tivesse desenhado provavelmente teria me esquecido da sua cara, dos seus lindos olhos e o seus lábios suaves e quentes. Na parede tinha uma pintura sua, com a camisa que eu lhe tinha roubado e as calças pretas que ele sempre usava, o cabelo ondulado preto para trás com os olhos azuis convicentes. Não o iria perder também da minha mente como o perdi em carne.

         Levantei-me com o monte de folhas nas minhas mãos. Uma parte de mim diz que devia de partir para outra, tentar algo diferente como amar outra pessoa mas o outro lado diz para esperar, que mais tarde ele viria para me ter. 

           No pequeno cofre que tinha na ultima gaveta do meu móvel inseri o código, abri-o. Lá dentro estava a carta que Napoléon me tinha deixado antes de se ir embora, estava a começar a rasgar-se de tanto a abrir e fechar. O papel estava manchado das lágrimas que larguei durante tanto tempo agarrada às palavras dele, à voz dele que me vinha à cabeça enquanto balançava cantarolando ao mesmo ritmo da tristeza.

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⏰ Última atualização: Mar 21, 2015 ⏰

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