Capitulo 21

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Passaram-se mas dois meses, continuo a aguentar a minha angústia, continuo a esconder o meu sofrimento de mim mesma. Minto para mim própria mas são mentiras em vão, falsas esperanças que penso que mais tarde irão ser recompensadas pela dor. Bolas, juro que pensei que ele voltaria mais cedo e que não iria ficar lá fora, sabe-se lá onde a fazer sabe-se lá o quê. Só espero que não esteja com outra qualquer, isso seria pior de tudo.

Felizmente não tenho estado sozinha, meu deus seria horrível se estivesse estado. Tenho tido a companhia de Melinda e Sasha tem vindo por vezes tomar um chá comigo, apesar de não ter voltado a beber mais nenhum depois de ele se ter ido embora.

Isto assim está complicado.

Todos me dizem que preciso de algo mais para me distrair mas não dá, tudo o que faço me faz lembrar dele. Quando treino penso nele porque eu treinava para ser como ele, quando cozinho lembro-me dele porque fazia sempre a nossa comida, quando durmo penso que estou no seu quarto e ele não está aqui, até mesmo quando olho para Melinda porque o fato dela ser morena com olhos claros faz-lhe parecida com Napoléon.

Para onde quer que olhe, lá está ele, mas não aqui. Viajo na mente e no coração, apenas aí é que o sinto, que me lembro do seu toque que me arrepiava a pele, que vejo o seu olhar pregado nos meus olhos.

Suspirei.

Recordações não são suficientes para ser feliz.

Tenho descoberto coisas novas com a minha irmã mais nova e isso faz-me sentir tão ingénua, uma miúda de doze anos sabia muito mais que eu. Ela até estava apaixonada porra! Uma rapariga como ela já sabe o que é o raio do amor e eu ainda não sei nada. Talvez porque ela tem mais companhias e conhece mais gente.

Sou uma infeliz ingénua que tem idade para ser a coisa mais porca e nojenta que anda no planeta mas na verdade estou aqui presa em casa. Nem tive coragem de sair de casa. Sasha é que me tem trazido tudo o que preciso, comida, roupa, de vez em quando chocolates mas cada vez que penso nisso só me lembro da Morgana, cruzes credo.

Estava na biblioteca à procura de uns quantos livros para me entreter mas sempre fui muito limitada a escolhas, nunca tive uma mente muito aberta. Se quero aquele será sempre aquele.

Tentei chegar ao livro que estava na última prateleira que me tinha chamado a atenção, era vermelho escuro com umas letras em dourado. Estava cheio de pó e encontrava-se num canto escuro e distante. Pus me nas pontas dos pés mas não o consegui alcançar a treta do livro, comecei a tentar escalar o móvel mas senti-o a abanar por isso desisti da ideia de me espalhar no chão.

"Tenho sempre de escolher o meais complicado".

Mesmo assim não desisti de o tentar apanhar, mas era em vão porque só consegui tocar com as pontas dos dedos. Ser um pouco mais alta não faria mal a ninguém.

Senti uns fios de cabelo a caírem por cima do meu ombro e vi que alguém alcançou o livro avermelhado mais facilmente que eu.

- Já devias de sabre que saltos altos dão sempre jeito - Virei-me para ela, sabia que Sasha estaria cá não tardava - Bem, em lama nem por isso.

- Sabes a minha opinião acerca dos saltos.

Olhei melhor para ela e ela trazia uma traça presa de um lado da cabeça deixando o resto do cabelo ondulado para o outro lado. Trazia um vestido vermelho com uma camisa branca a acompanhar, o vestido não acabava no chão mas sim pouco abaixo do joelho deixando as suas belas botas de camurças pretas à vista.

Se não a conhecesse diria que ela só andava assim para impressionar todos os homens mas na verdade, ela adorava-se ver-se assim. Dizia que se sentia feliz e segura quando se sentia bem consigo mesma.

Laços perdidosOnde histórias criam vida. Descubra agora