Prólogo

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A biologia nos diz que nascemos, crescemos, nos reproduzimos, envelhecemos e morremos. Essa é a ordem natural das coisas, mas o meu bebe, minha filha tão pequena nunca respirou, sorriu, falou, chorou, fez coco ou xixi. Ela dormiu e ainda dorme. Eu poderia ter mil sonhos com a minha Faith, mas nenhum deles seriam reais.  

 Maio de 1764

- Vamos Faith, você só tem que apagar as velas. - Disse Marie parada ao seu lado. Hoje seria um ótimo dia, um dia esplêndido e maravilhoso. Assopro as velas, Marie e Julian bateram palmas. - Como é ter dezoito anos? - Perguntou. Dei de ombros sorrindo. 

- Como ter dezessete. - Respondi. - Julian, você está com o nosso ouro? 

- Claro. - Ele colocou as bolsas com as moedas em cima da mesa. - Isso dá para meses de sobrevivência. Bom, nossos rostos estão estampados por toda Paris.   Temos que partir o quanto antes. 

- Não vi nada que se parecesse comigo nas ruas de Paris hoje. - Falei. Julian me olhou.  Julian podia ser muito exagerado as vezes, não éramos criminosos.- Ah vamos lá, estamos juntando para sair do continente a meses, poderíamos ir para as Américas, mas nos decidimos por Edimburgo e vocês viram o retrato falado da Madre, aquele homem sou eu só que um homem. 

- Faith, você está nos fazendo fugir do orfanato. - Revirei os olhos. 

- Não venham comigo se não quiserem, mas eu tenho um nome. Um pai e uma mãe, talvez até irmãos. 

- Pensei que fossemos sua família, Faith. - Disse Marie. 

- Vocês são, são minha família e é por isso que vocês vêm comigo. Vamos, Marie, nós duas sabemos que mulheres órfãs só tem duas opções. Ou vira freira, ou uma mulher da vida. E nós duas sabemos que eu não tenho vocação para viver em um convento, muito menos para ser uma mulher de vida fácil. 

- Nem eu. - Disse ela. Estávamos guardando dinheiro a quase cinco meses, o suficiente para pagar três passagens de navio pelo canal até Edimburgo e depois alimentação e um quarto em alguma estalagem. 

- Certo, mas eu sou um francês, Faith. - Ele pronunciou ainda mais o sotaque francês. 

- Eu também, mon cher. - Toquei em suas faces. Havia conseguido os nomes Claire e Jamie Fraser, ao que parecia a minha semelhança com eles era tanta que a Madre contou para a irmã Sophie e Marie que estava na sala ouviu toda a conversa há uns dois anos. E desde então eu planejo a minha ida para Edimburgo e de lá para Inverness e então Broch Tuarach, encontraria minha mãe e pai. - Vivi a minha vida inteira em Paris, mas a vida não é muito boa para nós pobres órfãos. 

- Você não é órfã. - Lembrou Julian. 

- Sou, porque pelo que eu sei meus pais me abandonaram. Ele foram embora e nunca me procuraram. Além do mais, eu só quero conhecê-los. Saber se eles têm mais filhos e saber o por quê. 

- Talvez consigamos um emprego. E se eles não há quiserem vamos para as Américas. 

- Isso.  Mas temos que ficar juntos, porque somos uma família e família sempre fica. 

- Não vai nos esquecer, não é? Quando você se encontrar com seus pais? 

- Não, como eu poderia esquecer vocês? São minha família. - Eu os abracei, sentindo meus olhos queimarem com as lágrimas. 

- Mas e se não nos quiserem lá? - Perguntou Marie. 

- Então não me querem, eu fico onde vocês estiverem. Se não estiverem comigo, então... - Fiz uma pausa. - Então não ficarei com eles. 

Eles devolveram o abraço, diferente de mim Julian e Marie conheceram os pais. Eles foram os únicos a sobreviver. Julian perdeu os pais para o sarampo. E os pais de Marie morreram em um incêndio. Os dois não cresceram aqui e era óbvio para mim que eles são apaixonados. Mas eu cresci rodeada de freiras, então não posso dizer com certeza o que era amor. Eu apenas lia sobre o amor, escondido é claro as freiras não ficariam muito felizes sabendo que eu já li livro que tem um suicídio. 

Eu tenho que ir falar com a Madre, ela foi minha instrutora e eu não queria que ela ficasse muito perturbada. E eu tinha aula de música com ela. As outras crianças sempre ficavam com raiva de mim, eu não ganhava uma atenção especial, mas eu estava disposta a ajudar e ela começou a me dar aulas particulares porque eu a procurei, eu a ajudava no hospital. Foi assim que eu peguei sarampo, mas não fiquei com marcas nem nada, foi muito leve na verdade. A Madre estava esperando eu decidi virar freira, no momento eu era só uma noviça. Mas eu seria uma noviça para sempre, porque eu não tinha vocação para virar uma freira. 

Desci do alojamento indo para a sala da madre. Onde eu a encontraria para as aulas e depois para irmos à igreja, preparar a missa. Empurrei a grande porta e entrei. 

- Madre? - Minha voz ecoou pela sala. Ela estava no piano, debruçada em algumas partituras. 

- Faith, venha, sente-se aqui.  - Fui em sua direção e me sentei ao seu lado. - Sabe porque eu a ensinei tudo o que você sabe? 

- Não, senhora. 

- Por que eu tinha esperança de que um dia você seria uma Madre melhor do que eu. Você é doce e gentil, inteligente, mesmo que seja tão teimosa quanto uma mula. - Dei uma risadinha. - Mas você tem garra, você luta pelo que quer. Então eu deveria saber, a alguns meses, quando você começou a se atrasar para os compromissos, que você estava tramando algo. 

- Madre... - Falei sentindo uma culpa sem sentido atravessar meu peito. 

- Não querida, está tudo bem. Para onde planejam ir? - Perguntou. 

- Edimburgo. 

- Pois bem, você deve ter dinheiro guardado. - Assenti. 

- Quando você planeja ir. 

- Está tarde, no meio da missa. 

- No meio da missa? Meu Deus, Faith. Você deveria ir no fim da missa, quando as pessoas estão saindo. 

- Vocês já tem o dinheiro para embarcar? 

- Sim, madre. - Disse com a voz embargada. 

- Ah, não chore minha filha. Você deve saber o que está fazendo. - Ela me abraçou de lado e deu um beijo em minha testa. - Vamos, toque comigo. Uma última vez. 

E nós tocamos, a Madre Hildegarde foi como uma mãe.  Aquela manhã ela me disse que não tinha notado minha semelhança com o tal Fraser até algum tempo atrás. Que alguma das irmãs deve ter me trocado sem querer, e o bebe dos Fraser  -o outro bebe- foi enterrado. A mãe do outro bebe foi embora e me deixou. Mas há alguns anos eu comecei a ter a aparência do meu "pai". 

Naquela tarde, durante a missa eu coloquei uma roupa comum, para me misturar com as pessoas. Os outros dois fizeram o mesmo e no fim, com meu rosário em mãos e uma bolsa com muitas moedas, fui de encontro ao meu destino. 

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Oi gente, espero que vocês tenham gostado e que estejam tão animados quanto eu para começar essa nova fanfic. Se vocês gostaram não esqueçam o voto de vocês e de deixem um comentário também, eu vou adorar ler e responder. Beijos, até a próxima. 

Prévia: Faith descobre que seu estômago e o oceano não se dão muito bem. 

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