Capítulo três

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Ao que parecia não tinham estalagens de Inverness para Lallybroch. Mas não tinham problemas já que o tempo parecia agradável. Nós viajamos até mais ou menos às oito, já que tinha começado a ficar escuro, o tempo começando a esfriar. Estiquei minhas mãos para o fogo, Cam mantinha uma distância de quase um metro, como deveria ser. Tudo estava como deveria ser.

- Está ficando ansiosa. - Falou Cam.

- Não. Não estou. - Respondi.

- Eles não estão falando com você. E essa falta de comunicação está fazendo você pensar.

- Claro.

- Me conte algo. Conte sobre a sua vida como noviça.

- Minha vida ia muito bem, eu tinha casa e comida.- Fiz uma longa pausa. - Agora não tenho mais.

- Mas foi você que decidiu ir.

- Sim, eu sei.

- Está arrependida? - Fiquei olhando para o fogo, me fazendo a mesma pergunta, mas eu não estava arrependida, eu estava cansada, nervosa e com lembranças que deveria ter sumido a muito tempo.

- Não. Eu não estou arrependida de procurar minhas raízes.

- Então, me diz. Agora que você não é freira, pretende se casar e ter filhos?

- Por que todo mundo me faz essa pergunta? - Falei ainda olhando para o fogo. - Acho que não. Mas você já me fez essa pergunta.

- Sim, eu só queria saber se você tinha reconsiderado...

Cam não disse mais nada, apenas ficou ali e me deixou com os meus pensamentos. Então a ideia de estar sendo rude com uma pessoa que só está tentando me conhecer veio a minha mente. Eu estava sendo chata, ele só queria conversar e eu poderia me esforçar para isso.

- Desculpe. - Falei olhando para ele.

- Pelo que?

- Por ter sido rude. Eu estou passando por um momento difícil, minha cabeça fica em um momento lá trás e no futuro.

- Ainda é muito recente? - Perguntou. Mas eu não sabia o que ele queria dizer, ou talvez eu soubesse.

- O que? - Perguntei.

- O que fez você mudar, eu diria que seu coração foi partido. - Especulou.

- Não especule sobre o meu mau humor. - Falei. -Sabe qual é a pior parte? - Perguntei antes que ele continuasse.

- Não.

- Eu não gosto muito de você, mas ainda sim sinto vontade de me abrir com você. - Ele levantou as sobrancelhas.

- Me conte, nós não vamos nos ver de novo. Nunca mais, não vai nem dar tempo de sentir pena de você. - Olhei para os dois do outro lado da fogueira.

- Não posso contar. - Minha voz foi sumindo como se eu fosse começar a chorar. - Não estou pronta para falar.

- Então, me diga algo que aconteceu antes, não naquele momento fatídico, mas antes é que você nunca vai se esquecer. - Eu o olhei pensando. Tudo naquele dia era inesquecível.

- Compaixão, tenha compaixão irmã Faith. Se tiver isso tudo vai dar certo. - Eu o olhei. - Eu tive compaixão e fui arruinada... - Eu passei um bom tempo sem dizer nada. Os olhos claros de Cam me encarando, com a curiosidade de um felino, seus olhos brilhando. Eu tinha a leve impressão de que eles mudavam de cor, como mágica.

- Entendo. - Ele disse. A voz rouca e o corpo levemente inclinado em minha direção.

- O seu nome vem da bíblia? - Perguntei. Ele negou os olhos mais brilhantes se mesclando com o fogo.

Em Busca de FaithOnde histórias criam vida. Descubra agora