Capítulo um

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Posso dizer que crescer em um convento é interessante, talvez não completamente, mas sempre há o que fazer. Eu nunca me vi como freira, ou um dia Madre, não era algo que eu realmente quisesse, eu via todas elas como minha família, mas era... Era sempre vazio, elas se importavam umas com as outras e elas teriam me apoiado se eu dissesse, mas todas elas iriam me mostrar motivos para ficar. Todas me dariam o dinheiro que haviam guardado e depois me levariam, como uma freira, até o porto.

- Obrigada. - Sussurrei para a Madre. Ela me olhou, os olhos contendo um sorriso que não realmente aparecia em seus lábios.

- Quando encontrar seu caminho, me mande uma carta. - A voz um pouco rouca chegou até meus ouvidos. Era impressão minha ou a madre estava a ponto de chorar? - Não esqueça de orar todas as noites, não esqueça o seu rosário. - Ela passou a mão pelos cachos da minha cabeça. - Não se esqueça de entrar na igreja de cabeça coberta, você sabe que o cabelo de uma dama é uma tentação para os homens. - Ela fez mais uma longa pausa. - Ah, não faça nada imoral antes do casamento. - Senti meu rosto ficando cada vez mais quente.

- Claro, Madre. - Murmurei.

- E...

- Sim? - Questionei, aquilo era uma despedida. Eu sabia disso, mas como uma menina que cresceu em um orfanato eu sabia que nunca era uma boa ideia demonstrar sentimentos, principalmente se for chorando. 

- Não se esqueça de mim. Mande lembranças para Claire. - Ela disse. Não consegui me segurar e a abracei, eram poucas as situações que eu a abraçava, mas seus abraços eram tão calorosos que me faziam ficar horas sorrindo e quando eu me lembrava tempos depois eu voltava a sorrir. - Não entre em confusões. - Disse por fim. - Agora varra o chão, menina. - Ela deu uns tapinhas em meu braço me mandando fazer meu trabalho.

Voltei a varrer o chão, sentindo meus olhos arderem. Sorri, pensando em como era estranho eu estar feliz e triste ao mesmo tempo, como se eu estivesse deixando a minha casa e única família para trás. E de certa forma era isso mesmo, eu estava deixando tudo para trás por pessoas que talvez não me quisessem. Ou que não estivessem vivas, mas valeria a pena.

Como freira eu nunca saí de Paris, muito menos para ir a um porto, eu descobri que os portos realmente cheiram mal, não chega muito perto do cheiro que tem em Paris. Eu não posso dizer que pensei que o cheiro fosse esse, mas eu estava acostumada a odores estranhos.

-Nossa como está quente. - Disse Marie ao meu lado. Eu sabia que estava quente, sentia as gotículas de suor descendo pela minha coluna. Os cabelos da minha nuca ficaram presos com o suor. - Você acha estranho usar roupas comuns? - Eu a olhei por um momento, era verdade, tinha muitos anos que eu não usava roupas comuns.

- Eu não tinha pensado nisso. Mas é sim.

- Ah eu imaginei. - Ela me olhou por alguns momentos, minha cabeça viajando pelos pensamentos e coisas que eu diria quando os encontrasse. - Como é não ser mais uma freira?

- Eu era noviça, você sabe.

- Ah, eu sei. Mas você não é mais.

- Eu ainda posso voltar e caso nenhum deles me queira, eu volto.

- E se eles quiserem? Vai se casar e ter filhos? - Então parei, eu parei porque eu não fazia a mínima ideia do que faria.

- Vou seguir minha vida, um dia de cada vez.

- Ainda bem que você não fez seus votos. - Ela me lembrou disso. Ainda bem mesmo, meu Deus, imagina se eu tivesse feito os votos? - Por que não fez seus votos?

- Porque eu não queria virar freira.

- Mas você cresceu para isso. - Eu a olhei por um tempo, não notando as pessoas que andavam à minha volta. - Faith?

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