Capítulo dois

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Acordar nunca foi uma coisa difícil, não para mim é claro. Mas eu não tinha mais tanta certeza se eu queria levantar. Marie não estava na cama, eu não me lembrava dela vindo para o quarto, mas suas coisas ainda estavam lá. Fiquei olhando para o teto quando ouvi a porta ser fechada.

- Marie? - Perguntei. - Por onde esteve?

- Oui. Era Julian, ele queria falar comigo. - Eu a olhei por um instante e suas bochechas estavam tão vermelhas que era de certa forma engraçado.

- Sei.

- Não seja irônica. - Ela falou sorrindo.

- Ele a pediu em casamento?

- Como iríamos nos casar, Faith? Não temos dinheiro ou lugar para ficar?

- Podemos nos juntar com o primeiro grupo de ciganos que encontrarmos. - Ela estremeceu.

- Eles são mais bárbaros que os escoceses. - Revirei os olhos. Eles não pareciam bárbaros. - Mas não, ele não me pediu em casamento.

- Mas você não dormiu aqui... - Então levantei a cabeça depressa meus olhos encontrando com os dela. - Você quer me contar algo, Marie?

- N-non, eu dormi aqui. Por que eu iria querer contar algo? - O tom vermelho claro começou a se tornar escarlate. Eu neguei com a cabeça, não queria que ela achasse que eu iria repreendê-la, mas eu faria perguntas como qualquer outra mocinha curiosa.

- Tudo bem. Está diferente...

- Non, non estou, eu estou normal como sempre. - O fato dela estar se justificando era estranho.

- Você está bem? - Perguntei começando a ficar preocupada. Ela se sentou ao meu lado e ficou olhando para mim.

- Estou bem. - Ela garantiu. O sorriso tomando conta de seu rosto. - Você quer que eu conte?

- A mais é claro. Você achou que isso fosse acontecer e eu não fosse notar?

- Você notou agora... - Eu levantei as sobrancelhas e ela riu. - A alguns meses eu e Julian estávamos descendo uma das ruas de Paris, sabe fazendo algumas entregas... - Assenti, eu me lembrava, como eu tinha virado noviça não fazia mais as entregas com ele. As entregas davam algum lucro, não muito. Mas davam alguma coisa. - Mas depois que conseguimos o dinheiro ele me olhou e me beijou.

- No meio da rua? - Perguntei.

- É claro que não. Quando nos viramos em um dos becos, não tinha ninguém e como ninguém nos conhece aqui achamos que...

- Poderiam dizer que são marido e mulher? - Ela assentiu.

- Não fizemos nada. - Garantiu. - Mas eu fiquei pensando no que Deus pensaria.

- Pensaria que vocês se amam muito. - Respondi.

- Claro, você é a própria mensageira de Deus. - Revirei os olhos para ela. Ela sempre fazia essa brincadeira quando eu falava algo sobre como eu achava que Deus faria algo.

Minha barriga roncou e eu a olhei, eu deveria ter comido algo na noite anterior. Não falei mais sobre as relações de Marie e Julian, ou se quer pensei sobre o assunto, mas ele ainda estava ali, rondando minha cabeça...

- Bonjour, ruivinha. - Disse Cam quando descemos as escadas. - Vamos tomar café da manhã e depois vamos na minha carruagem até Lallybroch.

- Está bem. - Passei por ele e pensei no que ele disse, mas uma parte me deixou muito intrigada. Carruagem? Não era uma carroça? - Sr. Smith...

- Cam, por favor.

- Cam, você disse carruagem?

- Sim, ruivinha. Eu tenho uma carruagem. - Ele deu de ombros. - Você quer ajuda com o seu inglês, podemos treinar um pouco. - Ele me deu um sorriso branco e encantador. Os olhos azuis encarando os meus, as leves sardas em seu rosto e os cabelos castanhos, tudo isso formava um conjunto de um belo rapaz.

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