Capítulo Doze

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Parecia tão hipócrita para mim tentar fazer Cam mudar de ideia e desistir de se casar comigo, mas fazia semanas que eu estava com ele na cabeça, que suas palavras vinham me assombrar, fazia dias que eu ficava olhando para a janela e para as portas esperando o momento em que ele vai aparecer. Thomas Audley, o rapaz vinha a Lallybroch quase todos os dias, e tente Jenny sempre me pedia para acompanhar Maggie e Thomas em um passeio. Maggie e eu temos um acordo, eu ficava a alguns metros de distância e não nos falaria nada caso houvesse um ou dois beijos roubados.

Pela manhã minha tarefa era cuidar das crianças, o que causava uma enorme dor em meu peito, elas me adoravam e eu as adorava, mas doía muito vê-las e saber que eu nunca teria um bebe como eles, não teria um marido ou me entregaria verdadeiramente e ninguém. Antes do jantar eu ia ao pomar e depois a vila com Marie, depois do jantar eu praticava violino, que papa conseguiu para mim. Em uma de nossas conversas ele havia me explicado que não distinguia muito bem os sons e acordes e que para ele as músicas eram apenas um ruído em seus ouvidos, mas que ele sabia que pela empolgação das pessoas em me ouvir eu era boa naquilo. Então um dia ele me trouxe um violino, me deixando inteiramente sem fôlego e alegre, foi como se um pedaço da minha vida tivesse se encaixado, mesmo que as outras partes ainda estivessem embaralhadas.

Naquela noite em particular, Marie havia desaparecido do quarto enquanto achava que eu estava dormindo e fiquei sozinha, eu tentava não dormir, já que meus sonhos começavam serenos com Cam e depois as cenas de um acontecimento vinham e eu já não conseguia voltar a dormir.

Olhei para o teto esperando, mas algo em mim fez com que eu levantasse e andasse até o espelho, a camisola branca cobria todo meu corpo, eu não podia vê-lo muito bem apenas com a luz da lareira, peguei uma vela e mudei o espelho de posição para que eu pudesse me ver melhor, a vela acesa dava uma luz trêmula, mas eu conseguia me ver mais claramente.

Observei a camisola, fiquei me perguntando se dessa vez teria coragem de me olhar no espelho e ver como Cam veria meu corpo, se ele veria apenas as cicatrizes ou se ele veria mais que isso. Deixei a vela de lado e abri os botões da camisola, eu a escorregava lentamente por meu corpo, se podia ver claramente as sardas espalhadas por meus ombros e seios, em minhas costas havia muito mais como essas, elas seguiam a pele branca até o ventre, eu não sabia se conseguiria olhar para as cicatrizes que me seguiriam para o resto da vida.

Olhei para os meus olhos no espelho esperando ver um monstro deformado, desejando que eu não visse a mim mesma, queria mais do que tudo me ver como era antes, desejando que parte da minha alma não tivesse sido quebrada em pedaços. Fechei meus olhos com força para tomar uma decisão, eu poderia me olhar e nada aconteceria, eu não seria transportada para um de meus momentos mais difíceis e não seria obrigada a vivenciar tudo novamente, como eu havia feito todas as noites.

Ao abrir os olhos e encarar meu corpo o que eu vi me surpreendeu, eu não parecia um monstro, era só um corpo, a cicatriz não estava tão horrível quanto eu imaginei que estaria, elas eram menores do que eu me lembrava. Elas estavam rosadas com a cicatrização, não abertas como me lembrava. Abaixei meu olhar para a coxa, ali era o lugar em que eu sentia mais repulsa em olhar, a Madre nunca me disse o que estava escrito...

Botei a camisola em meu corpo e me afastei do espelho, assim que eu me sentei na cama ouvi o barulho de algo batendo na janela, de primeira eu ignorei, mas depois começou a bater mais coisas na janela, com a minha curiosidade peguei a vela ainda acesa e fui olhar o que estava acontecendo.

Havia uma figura escura embaixo da minha janela, ele andava de um lado para o outro olhando para o chão à procura de mais pedrinhas, abri a janela para olhar melhor e uma pedra acertou minha testa.

ー Ai! ー Grunhi. O homem que a princípio pensei que fosse Thomas me olhou, apertei os olhos e estiquei a mão que segurava a vela. ー Cam?

ー Faith! Graças a Deus achei que não viria nunca. ー Ele disse. Eu nem sabia como ele encontrou a janela do meu quarto, na verdade eu nem sabia porque ele estava ali, mas não importava, meu coração batia com força no peito e senti ainda mais vontade de chorar. ー Preciso falar com você...

Em Busca de FaithOnde histórias criam vida. Descubra agora