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Era surreal pensar nessa situação, doloroso olhar para aquelas pessoas vestindo cores escuras, segurando rosas vermelhas e brancas,com lágrimas molhando seus rostos pálidos. Não chorei, não derrubei sequer uma gota de lágrima desde que entrei nesse cemitério, não havia mais o que chorar, não havia o que dizer e muito menos reação para demonstrarmos. Apenas adentrei esse lugar e me sentei o mais longe possível dos pais de Gustavo.

Meus pais estavam ao meu lado, Dylan segurava uma de minhas mãos e meus amigos se mantinham próximos,porém a única coisa que tomou minha consciência,foi o fato de estarmos velando meu amigo,de estarmos sepultando alguém que fará falta. Gustavo acabou conseguindo o que tanto desejou,conseguiu consumar tudo o que um dia tentei impedir, em pensar que poderia ter seguido meus extintos,assim, talvez,ele estaria vivo.

Sentindo a brisa fria bater contra meu rosto,me permiti fechar meus olhos e me lembrar dos melhores momentos que compartilhamos. Gustavo era alguém que conseguia arrancar sorriso das pessoas somente com um gesto, alguém que não dizia, mas sempre demonstrava se importar. Estava doendo saber que ele se foi, doendo saber que nosso último contato terminou em uma briga.

Minutos e horas se passaram, as pessoas se despediam do jovem que se deu por vencido,as rosas foram deixadas sobre o caixão fechado. Seus pais foram os últimos a se despedirem do filho,conhecia e história de ambos e poderia dizer estar sentindo a dor de ambos,pois Gustavo não mantinha contato com eles devido a uma discussão a anos atrás,e agora,seus pais estavam ali com o propósito de se despedirem do único filho. Era dolorosa toda essa situação.

Então, depois de todos irem embora,me forcei a ficar de pé soltando a mão de Dylan e caminhei em direção a ele. Meu peito se apertou,o nó se formou em minha garganta e minhas mãos ficaram ainda mais trêmula. Suspirando profundamente,me permiti tocar sobre aquela superfície enquanto sentia minhas pernas falharam.

- Ainda parece mentira - murmurei sentindo-me cansada, estava exausta - acho que será difícil me acostumar com essa ideia,de me acostumar que você conseguiu tudo o que tentei lhe impedir. Está doendo, Gusta! Você não sabe o quanto.

Erguendo meu olhar para a pessoa que parou ao meu lado, não pude pensar em nada,pois não imaginava lhe encontrar ali,ainda mais chorando como estava. Alana parecia estar sofrendo pela morte de Gustavo e, naquele momento, não me importei com sua presença, não me importei em tê-la por perto.

- Ele me ligou a três dias atrás,disse que queria conversar - Alana sussurrou abaixando-se ao meu lado - tínhamos nos acertado, estabelecemos um relacionamento amigável. Então ele me disse que sentia falta da amiga, revelou que por uma besteira que vinha cometendo frequentemente, estava perdendo a única pessoa que se importava...- Alana suspirou fechando seus olhos e sorriu fraco enquanto lágrima desciam por seu rosto - recebi a notícia hoje de manhã!

Não poderia ficar ouvindo suas palavras, não podia acreditar que acabei ferindo ainda mais aquele que jurei cuidar. Criando forças e coragem,deixei a rosa branca sobre o caixão de Gustavo e me afastei rapidamente,o que fez meus pais e amigos se apressarem a vir atrás de mim.

Cobrindo meus cabelos com o capuz da blusa preta que estava vestindo,afundei minhas mãos nos bolsos frontais da mesma e me permitir seguir para um lugar que me deixaria sentir a presença dele, precisava ir até a casa de Gustavo, precisava sentir que,mesmo aceitando a morte,ele estaria comigo.

- Sun...- Dylan chamou por mim e me virou em sua direção - vamos pra casa comigo, você precisa descansar!

Em um sinal de cabeça,neguei seu convite. Tirando minhas mãos do calor que os bolsos de minha blusa estava me proporcionando,me aproximei de seu corpo e lhe abracei sendo retribuída, olhando para alguns metros atrás,pude ver meus pais e meus amigos,ambos nos observando com olhares preocupados e abatidos.

Irmão do meu melhor amigo [FINALIZADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora