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    As vozes se misturavam a cada pessoa daquele refeitório,os diversos alunos conversando com seus grupo de amizade faziam com que ficasse incompreensível desvendar o que estava falando,porém em momento algum demonstrei importância para aquilo, apenas queria ficar sozinha e pensar em uma forma de organizar minha vida e escolher de forma adequada,uma solução plausível e que não afete ninguém ao meu redor.

   Sentada naquela mesa no canto e com uma bandeja a minha frente com meu lanche  intocado, observava apenas a tela de meu celular que se mantinha negra por meu aparelho estar desligado. Minhas unhas batucando sobre aquela superfície plana,era sinal de nervosismo e dúvida,meus pés batendo contra o chão era uma inquietude que deveria ser resolvida antes de retornar para minha últimas aulas. Precisava me tranquilizar.

   Sentindo os olhares de cinco pessoas do outro lado daquele lugar, soube que se questionavam o motivo de não ter me juntado a ambos e o porquê de me manter distante de qualquer outra pessoa daquele colégio. Tinha como resposta o fato de que ambos quererem espaço,quererem pensar sobre o que havíamos conversado a horas atrás e tudo que anda acontecendo em minha vida e que escondo.

  Me levantando daquela mesa,guardo meu celular em meu bolso e pego a bandeja seguindo para a pequena mesa onde ambas eram postas,jogo o lanche intocado no lixo e sigo para a saída daquele lugar. Não quero conversar e muito menos explicar nada a ninguém,pois apesar de estarmos indiferentes um com os outros,aqueles que tenho como amigos, questionariam meu afastamento.

   Seguindo pelo corredor vazio daquele colégio, suspiro profundamente enquanto colocava minhas mãos no bolso de minha jaqueta que portava um maço de cigarro e um esqueiro. Esse colégio tem regras rígidas e dentre elas está a proibição de fumar e beber,o que me faz esconder tudo em minhas roupas, pois é o único lugar que não procuram.

   Subindo as escadas do andar que possuíam algumas salas em reforma, sigo em direção a qual ouvi suas palavras,onde enxerguei o desprezo verdadeiro em seus olhos,pois mesmo que Dylan negue,naquele dia ele me odiou e desprezou o fato de estar tentando conversar consigo, desprezou minha presença e a insistência em querer explicar o que de fato estava acontecendo e o que pretendia. Ele me odiou com tudo de si,me odiou de uma forma inexplicável.

   Adentrando aquela sala fechando a porta atrás de mim,me aproximo da janela com vista para o jardim e me sento em uma mesa após retirar o plástico que a protegia de qualquer coisa relacionada a obra. Tirando o maço de cigarro e o esqueiro em meu bolso da jaqueta,pego um cigarro o colocando entre meus lábios e o acendo dando a primeira tragada sentindo a fumaça adentrando em meus pulmões. Curtindo o gosto da nicotina, mantenho meu olhar nos poucos alunos sentados na grama verde,uns ouvindo música, outros lendo algum livro e os demais em uma conversa animada.

   Quando tinha meus quatorze anos,quase completando quinze,tinha a crença de que minha vida não seria diferente dos demais adolescentes que conhecia, acreditava que sofreria pelos mesmos processos e teria novas experiências,mas como o destino nunca foi a meu favor, recebi uma rasteira aos quinze anos que me impediu de me reerguer como a Sunny,me impediu de continuar sendo a garota ingênua, sonhadora e confiante. Bastou um acontecimento tráfico para tudo deixar de ser as mil maravilhas.

   Olhando para o cigarro entre meus dedos,o levo até meus lábios dando uma terceira tragada. Mantendo meu olhar baixo, suspiro soltando a fumaça pelo nariz enquanto encarava a faixa branca em minha mão,pois os ferimentos ainda se encontravam com os diversos pontos que me levei e não estavam se cicatrizando com facilidade, já que não estava tomando os remédios e muito menos passando a pomada cicatrizante.

   Terminando meu cigarro, apago a bituca na mesa e a deixo sobre aquela superfície gélida,assim como meu coração e alma. Com um sorriso nos lábios por me lembrar de tudo que fiz durante esses anos fodidos,me sinto um lixo insignificante que não é digno de tudo que possui. Sempre soube,porém não queria acreditar,mas nada e nem ninguém poderia arrancar esse sentimento de dentro de mim,pois o ódio que sinto por muitas pessoas, não chegam aos pés do que sinto por mim, não se comparam ao quanto odeio cada parte de meu corpo,cada célula que o forma.

Irmão do meu melhor amigo [FINALIZADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora