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 E ali, mais uma vez a risada alegre e contagiante ecoava entre as árvores, chamando-me.

Os cabelos loiros, que confundiam minha visão conturbada, se espalhavam com o vento forte e como sempre suas costas eram a única visão que tinha.

— Eren...

A voz estava longe demais, contorcida como se tudo estivesse chiando, apenas da maneira como um sonho poderia ser.

Um sonho.

Os olhos arregalaram-se na escuridão proporcionada pelas cortinas, capturando o grande nada que era o teto branco da habitação. Levantou com calma, sentindo seus ossos acordarem lentamente no que lhe concerne estralando em alguns pontos. Sentado no colchão, observou com cautela as roupas jogadas pelo quarto como se fosse a coisa mais fascinante de todo o universo.

— Idiota, levanta que o papai... Olha só, a princesa acordou por vontade própria hoje!

Olhou ainda meio alheio para a porta, sendo exposta a figura de Zeke escorada no batente com sua mão na maçaneta, sorrindo com o deboche habitual de um irmão mais velho. Eren apenas ergueu o seu dedo médio em direção ao homem, ainda fraco demais para pronunciar qualquer xingamento.

— Não vou nem falar onde que você vai enfiar esse dedo, moleque! Levanta logo, o pai está te esperando para tomar café e eu preciso sair — respondeu devolvendo o gesto e logo se retirando.

Choramingou baixinho e voltou os olhos para as roupas espalhadas... Ergueu-se ainda tomado pela preguiça e caminhou até uma das portas dentro do cômodo, entrando no banheiro pequeno e se deparando com o reflexo de si próprio. Não poderia estar pior: o cabelo liso espetado para diversas direções e a baba seca no canto da boca. Tinha dó de quem sonhasse em acordar consigo todos os dias.

Lavou o rosto com pressa, buscou a escova que pousava pacificamente no mármore escuro, penteou os fios embaraçados que já alcançavam um pouco abaixo de seu ombro, e retornou o objeto até seu local de origem. Escovou os dentes e voltou para seu quarto, lembrando de abrir as cortinas para que um pouco luz entrasse no ambiente.

Procurou por uma camiseta na bagunça de sua gaveta, achando uma blusa de manga longa preta com símbolos estranhos entalhados e certificou-se de por seus jeans escuros que se encontrava largado pelo chão. Já vestido, se colocou à frente do grande espelho, posicionando seus últimos acessórios. Calçou-se com os coturnos gastos e partiu a descer ao encontro do resto da família.


— O quê fazer quando seu irmão se veste igual a uma "E-girl", google pesquisar! — Zeke que estava buscando por algo na geladeira, parou para observar o jovem que havia acabado de entrar na cozinha.

— Você fala como se vestisse muito melhor, né... Bom dia, pai! — retrucou enquanto pegava uma torrada solitária no prato do homem sentado à mesa, lendo o jornal da manhã. Recebeu somente um múrmuro desinteressado como resposta. — Cuidado para não te confundirem com um velho na rua e perguntarem se quer ajuda, seu "indie"!

— Pelo menos eu não choro no banheiro escutando Demolition Lovers, sai de 2005 emo! A moda agora é homem elegante, entende?! As gatinhas gostam de um cara que entende elas, um cara charmoso e que se veste bem! — falou o loiro, enquanto arrumava seu cardigã bege com um sorriso presunçoso.

— Ah, então elas não gostam de você?! Porque nenhum desses atributos se encaixam viu, acho que entendi agora! — disse rindo da cara de desgosto expressa no irmão, retornando a comer o pão em sua mão.

Ackerman'sOnde histórias criam vida. Descubra agora