IX

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— Você precisa vir comigo! — disse Uri olhando para os lados, procurando alguém que pudesse escutá-los.

— Senhor, sabe que não posso — A mulher loura e com roupas simples respondeu. — Se descobrirem, irão me matar!

— Se você continuar aqui, eles vão te matar! — falou. — Aila, venha comigo, daremos um jeito de que não a vejam. Você não pode mais continuar aqui!

A mulher ponderou por alguns segundos, mas ainda sem dar uma resposta concreta para o amigo. Ela usava seus cabelos longos em um coque malfeito, de vestido azul simples, e não utilizava acessórios - aquilo pertencia apenas a "realeza". Conseguia ainda ser bonita, mesmo com o sofrimento estampado em seu rosto.

— Por favor — Continuou o Reiss. — Não conseguirei ser feliz sabendo que a deixei neste lugar, você é minha melhor amiga e acima de tudo, me ajudou quando precisei. Venha comigo, daremos um jeito! Sabe que para minha nunca foi uma serva, merece mais do que poderá conseguir aqui dentro, minha querida.

Aila questionou-se mais algumas vezes, não havia nada a perder fugindo com o outro... Confirmou com a cabeça e em seguida abraçou o amigo com força.

— Seu casamente será em duas semanas, precisamos achar uma forma de sair daqui sem nos verem — Uri sorriu com a euforia que aparecia enquanto ela bolava o plano, sempre sendo uma moça muitíssima inteligente. — Durante a noite, a cerca para a floresta é muito mal vigiada, até pensei em comentar com o chefe das guardas sobre como um ataque poderia facilmente vir dali...

O sorriso de Uri apenas aumentava, os dois poderiam sair dali juntos e seguir suas vidas. Com o conhecimento de Aila sobre as dimensões do castelo e o controle de Uri, sairiam do local sem problemas. Os dias estavam contados para seu casamento com a jovem Frieda.

O Reiss batia o pé impaciente em frente a porta de seus aposentos, lua estava alta no céu e todos pensavam que o castelo inteiro já havia adormecido. A figura dos cabelos longos e louros fora vista e ele logo soube que esse era seu sinal. Com a capa de cetim clara cobrindo seu rosto, correu para a cozinha, onde os empregados já não mais estavam. Tomou todo cuidado para que não fizesse barulho algum durante todo o seu trajeto.

Ao chegar ao local combinado, a moça, com uma bolça de pano sobre as costas, se preparava para correr todo o caminho sob a chuva.

— Está pronta? Onde vai ficar? Pode vir comigo e Kenny se quiser — Ofereceu, vendo-a negar com a cabeça.

— Não se preocupe, irei para a Inglaterra. Recomeçarei minha vida longe de tudo isso — falou sorrindo e abrindo silenciosamente a porta de madeira, que dava diretamente ao jardim.

Uri segurou à mão de Aila para conseguirem correr até a floresta juntos. Passaram por alguns guardas desatentos e outros dorminhocos, ao verem as enormes árvores correram até a metade da floresta juntos, onde poderiam estar finalmente seguros para sua oficial despedida. Ambos molhados pela chuva forte, mas felizes pelo sentimento de libertação.

— Vá e seja feliz com o homem que escolheu — falou a moça, com seus olhos castanhos brilhando em alegria. — Você merece, meu amigo!

— Espero que seja muitíssimo feliz na Europa, e que consiga finalmente realizar seus sonhos — A puxou para um abraço apertado, molhando ainda mais suas roupas. — Quero que saiba que sou profundamente grato por cada momento e segredo que guardou por mim.

— E eu, me sinto lisonjeada de poder estar e servir você por todos esses anos... Me tratou com tanta gentileza e afeto que o considero um irmão, Uri. Sempre mande notícias, irei sentir sua falta.

Apertaram ainda mais o abraço, sorrindo. Porém, o momento se encerrou ao escutarem barulhos altos vindo do começo da mata; entreolharam-se e sabiam que este era o momento de fugir, concordaram com a cabeça mais uma vez e seguiram seu caminho. Uri correu mata adentro, enquanto a jovem foi para seu lado oposto, em direção a marina, onde poderia pegar um navio e se ver longe daquelas terras.

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