V

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A chuva caía na escuridão da floresta. O passo apressado de um jovem colidia na lama com seus sapatos finos, produzindo um dos poucos sons daquele nada. A todo momento o olhar assustado era voltado ao caminho que veio para averiguar se ninguém o seguia. A capa de cor clara cobria todo seu rosto e balança com o vento, mas molhada pela chuva não espantava o frio de tremer o queixo que o atingia.

Seus pés doíam, não se encontravam devidamente protegidos para pisarem com tanta agressividade pelas pedras e troncos que passava correndo, e nem se importou com a dor profundo que obteve ao colidir com uma pedra pontuda e grossa, simplesmente ignorou e seguiu seu caminho mais rápido ainda. Permitiu-se sorrir ao ver adiante um espaço livre de árvores, junto da estrada de terra.  

Seu semblante fechou ao sentir seu corpo ser agarrado no momento que diminuiu a velocidade. Estava pronto para gritar e bater em quem quer que fosse, mas havia sido silenciado por uma enorme mão quente, posicionada em frente a sua boca. Com olhos arregalados, observou o rosto daquele homem quando sua visão voltou a focar novamente.

— Ken, você me assustou! — Tirou a mão pesada de seu rosto, recebendo uma risada contida como resposta.

— Desculpe, meu rei.

Com ambas as mãos, Kenny puxou o capuz da capa de cetim, revelando cabelos loiros que atingiam o ombro do pequeno homem junto ao rosto juvenil, com seus grandes olhos violetas. As mãos no rosto pálido e gelado, encostou seus lábios em um selar carinhoso. 

O contato do rosto quente, com os lábios trêmulos e frios de Uri, lhe davam um delicioso choque. Permaneceram apenas com o contato superficial por alguns segundos, mas o loiro logo tratou de prender seu parceiro pelo pescoço e puxá-lo para si. As línguas se encontraram com volúpia, sem necessidade de controle, apenas aproveitando o momento enquanto a chuva caia forte em suas cabeças; suspiros saiam de ambos os homens, felizes pelo contato.

— Você está livre, meu amor — Kenny se separou ofegante para se pronunciar, sorrindo. — Você finalmente está livre!

Os dois riram apaixonados, Uri tomando a iniciativa para puxar Kenny até o espaço da estrada. Um cavalo negro e bonito os esperava, que relinchou ao avistar a figura loira. Uri soltou-se de Kenny para correr até o animal.

— Olá Brutus, querido. Também senti sua falta — Uri falava rindo, enquanto acariciava o rosto do animal.

— Meu rei, precisamos ir antes que nos encontrem. Acompanha-me nessa jornada? — Kenny, que já estava montado no cavalo, ofereceu com um sorriso sua mão para o outro a subir. 

— Com todo prazer, meu caro.

Segurou a mão do amado, com impulso subiu atrás do Ackerman e se acomodou o melhor possível. Passou seus braços pela cintura robusta do moreno e segurou-se firme quando começaram a sair daquele lugar. Brutus corria com velocidade pela estrada de terra, deixando qualquer lembrança que um dia esteva ali. 


— Querida, precisamos proteger Levi. Não podemos deixá-lo aqui.

Mattia tentava fazer de tudo para que sua esposa o escutasse, com o pequeno garoto em seu colo. Embrulhado com roupas quentes, dormia sereno no ombro do pai.

— Leve-o para Kenny e Uri, eles saberão o que fazer em qualquer situação, mas não sairei daqui! — Kuchel verbalizava enquanto guardava os pertences mais importantes da criança em uma pequena trouxa. Ao se dirigir para pegar um dos bonecos favoritos de Levi, acabou encontrando o seu baralho de tarot, decidida enfiou todas as cartas na bolsa, não teria mais utilidade para si.

— Você vai morrer! — falou incrédulo, tão alto que até mesmo Levi abriu os olhos assustado.

— Independente! Mattia, confie em mim, apenas faça o que estou te pedindo e depois retorne para Salém o mais rápido que conseguir. É tão difícil assim?

Ackerman'sOnde histórias criam vida. Descubra agora