XIV

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A sala do trono no castelo Marleyano estava cheia, múrmuros baixos e elegantes preenchiam as paredes de pedra. A luz entrava e estrategicamente direcionava-se ao trono rústico, dando-lhe maior atenção do que qualquer outro objeto da sala. Havia diversas pessoas com suas peculiaridades, tanto físicas quanto mágicas, que se uniam naquele dia em um bem maior. 

Se voltasse alguns meses atrás, Eren sequer conseguiria se imaginar em um local, ou situação, como aquele. Ele de certa forma fazia parte de tudo que estava acontecendo naquele momento. Em tão pouco tempo sua vida tornou-se algo fantasioso e perguntava-se constantemente se independente das escolhas que fizesse no passado, ele ainda iria poderia viver aquilo. Ele gostava de acreditar que sim.  

Esperava pacientemente no grande portal, apenas observando todas aquelas pessoas, esperando o momento de se juntar a elas. Duas crianças loiras passaram correndo em sua frente, rindo e buscando uma pela outra. Eren sorriu e olhou para trás, já sabendo quem aparecera. 

— Vocês ficaram mesmo com esses pirralhos? — perguntou.

— Eu gosto de crianças — Ymir respondeu dando de ombros, chegando com Historia ao seu lado. A loira com roupas leves e claras, e a parceira com trajes semelhantes a uma armadura, assim como os de Eren. 

— Eu achei que eles relutariam por conta do pai, mas nem ao menos choraram — Historia disse. — Rod não fazia bem nem para os próprios filhos...

— E bom — Ymir falou —, Hisu e eu já estamos querendo começar uma família, de qualquer forma. 

Eren olhou divertido para o casal. É, elas deveriam tentar, passaram por coisas suficientes para afirmarem o amor que possuíam uma pela outra, deveriam fazer o que desejassem antes que acabasse sendo tarde demais. 

— E vocês resolveram começar isso com essas pestes? — Mikasa apareceu atrás de Historia, assuntando-a. — Mas acho que estão certas, Annie também queria ter filhos, ou alguma coisa parecida com isso. 

Todos sorriram e concordaram. Já se passava algumas semanas desde a morte de Annie, no começo Mikasa havia se afastado drasticamente de tudo, mas agora falava da amada com um sorriso no rosto perante as lembranças que ainda aqueciam o seu coração de pedra. 

Permaneceram no enorme corredor iluminado, apenas conversando sobre banalidades, aproveitando o momento gostoso e alegre que podiam vivenciar naquele momento. Pouco tempo depois, Jean, Marco, Berthold e Reiner apareceram. Jean e Eren logo começaram com suas piadas e brincadeiras infantis, fazendo o resto rir. Tudo estava como deveria estar, um momento de paz que desejavam imensamente que se tornasse eterno. 

Entraram no salão com mais alguns acompanhantes desconhecidos. Era como um sonho, pessoas vestidas em roupas e estilos com diferenças gritantes, mas que conversavam com tranquilidade. Eren e Jean se chocaram diversas vezes com as apresentações de fadas, outros elfos e criaturas que nem o conhecimento folclórico que possuíam poderia lhes preparar para saber de tal coisa. Precisavam resistir, por diversas vezes, a vontade de beliscar sua pele apenas para confirmar que aquilo não era pura imaginação. 

Mesmo que o lugar estivesse cheio, todos evitavam pisar no enorme tapete vermelho que seguia desde a entrada até o trono de pedra; alguns soldados se mantinham em posição de cada lado do altar de pedra, com a ponta de sua espada apontada para o chão. Todos esperavam pacientemente a chegada de seu novo defensor e rei, pronto para dar-lhe às devidas boas-vindas. Acontecimento esse que não se demorou para ocorrer.

O primeiro a passar pelo portal de entrada fora Uri, fazendo com que todos se calassem no mesmo instante; o homem estava com roupas fora de seu estilo habitual, calças e sapatos escuros, casaco preso com diversos botões e um manto de pele por cima de seu ombro. Eren viu que em frente do altar, Levi e Erwin assistiam sem interferir, ambos com vestimentas semelhantes às de Uri. 

O Ackerman subiu e se posicionou atrás do trono, onde se tinha o vislumbre de uma caixa de vidro forrada com camurça roxa; ao olhar novamente para frente, as pessoas viraram em sincronia para o portal da entrada, novamente. 

Armin olhava para o trono sem desviar os olhos, andando com firmeza até o altar e o seu devido lugar. O seu cabelo loiro, antes longo, estava curto em um sinal de mudança; usava calças e blusa claras, com um manto de pele branco que atingia o chão e balançava com o seu andar elegante. Armin estava exuberante, tinha certeza que deveria estar tirando o fôlego da metade das pessoas dali. Antes que subisse o altar, ajoelhou-se sobre uma perna abaixando a cabeça, sibilando algum tipo de oração. 

Uri colocou a coroa antiga, e repleta de pedras graciosas, sobre a cabeça de Armin; pegando a mão direita do neto para colocar o anel de safira-azul em seu dedo, levantando a mão e beijando a joia por alguns segundos. Armin se virou para a multidão, o manto longo rondando seu corpo e encaixando-se perfeitamente com o brilho das pedras. Uri entregou-lhe um cetro, para que segurasse com sua mão direita, e uma orbe, com a mão esquerda; ambos dourados, esbanjando o ouro em sua composição.

Eren já não estava mais no meio das pessoas, e sim próximo de Armin, mas longe o suficiente para não atrapalhar a cerimônia. Armin às vezes jogava seus olhos rapidamente para o moreno, suas mãos tremiam levemente segurando o cetro e a orbe, Eren apenas sorriu quando Armin olhou-lhe novamente, tentando acalmar o amado.

— Armin Ackerman Reiss, filho de Marley e Paradis, para juntar ambos em um só novamente e assim cessar a guerra entre nossos povos — Uri disse, deixando seu tom de voz alto para que todos conseguissem ouvir. — Promete, em nome de todos os Deuses e seres místicos, zelar por cada magia e espécie conhecida, habitantes de suas terras? 

— Prometo — Armin respondeu, apertando os objetos em suas mãos. 

— Promete, que como Rei, será justo diante de iniquidades que poderão chegar em nosso caminho? 

— Prometo!

— Armin Reiss Ackerman, Rei da antiga, e agora próspera, Oazovy! — Uri falou, retirando o cetro e orbe das mãos de Armin e deixando que ele se sentasse no trono. — Deus salve o Rei!

Armin suspirou, apertando discretamente o apoio de pedra. Retomou rapidamente sua posição erguida, escutando todos os glorificarem. Viu com o canto do olho a aproximação de Eren, com sua roupa de cavaleiro, apoiando a mão na espada em sua cintura. Uri chamou sua atenção, segurando ao seu lado uma almofada arroxeada com uma coroa semelhante a de Armin, porém menor e bem menos enfeitada.

As pessoas se acalmaram com a aparição de Eren, que se ajoelhou em frente a Armin e abaixou a cabeça. Com calma retirou a nova coroa de onde era apoiada e a colocou sobre os cabelos castanhos e longos, deixando que Eren levantasse sua cabeça lentamente. Ofereceu a mão direita, deixando que Eren selasse seu anel, assim como Uri. No lugar da grande safira, Eren beijou a pequena pedra branca do anel quase escondido no dedo de Armin, era sua aliança. Eren tinha uma igual.

— Prometo ficar ao seu lado na miséria, na fome e qualquer outro tipo de desgraça que alcançar nosso caminho, pois nem a morte poderá nos separar — Eren falou, olhando no fundo dos olhos de Armin, que abriu um sorriso discreto. 

O moreno se colocou ao lado oposto de Uri no trono, suas mãos para trás e o peso da coroa em sua cabeça. 

Agora Mikasa e Ymir atravessavam o tapete, ambas ajoelhando em sincronia em frente a escada do altar. Armin se levantou de uma só vez, virou-se para o consorte e puxou a espada da cintura de Eren rapidamente, assustando o moreno pela força. 

 — Eu, Rei de Oazovy, declaro Mikasa Ackerman e Ymir Reiss, as guardiãs da coroa Real — Com a ponta da espada, passou ao lado dos ombros das mulheres, oficializando suas palavras. — Suas vidas, agora, serão em nome da proteção de nosso reino e de vossos súditos.

Mikasa e Ymir sorriam ao olharem para Armin, lisonjeadas por receber tal título tão nobre. 

Doravante tudo seria desta maneira. O Rei uniria os povos com suas palavras e com seu amado ao lado, fazendo valer cada vida e sentimento perdido em meio a batalhas passadas, honrando suas origens, familiares e amigos queridos. Tamanha trajetória dolorosa que causou a si e aos seus próximos, não mais seria um peso. Armin não mais negaria sua verdadeira forma, não negaria o demônio que habitava seu corpo, não se disfarçaria em uma máscara infantil e inocente; agora ele teria caminhos a serem guiados e que seriam afetados por suas futuras escolhas, deveria usar seu pior lado como um benefício. Poderia se dizer que seria agora  o momento de mudanças, mudanças para um novo mundo.

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