IV

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Armin era auxiliado por seus pais a subir aquela escadaria de pedras. Mesmo tendo força suficiente para matar qualquer um com suas próprias mãos, seu corpo não aguentou tamanho esforço qual fizera para trucidar cada centímetro do corpo daquele homem. Não havia sentido tanto ódio há tempos, sempre controlado pelo bem de sua família e de si próprio; mas acabou por desnortear-se quando fora desafiado por tal.

Sua consciência retornando gradualmente quando já passavam pela cozinha. Percebeu que não mais andava e agora Erwin o segurava no colo, com Levi seguindo-o logo atrás. Sabia estar sendo guiado para seu quarto, precisava tomar um banho e retirar aquelas roupas que faziam suas narinas arderem pelo cheiro forte do sangue que começava a secar. Os olhos começando a focar e identificar os objetos ao seu redor; olhou para suas mãos, vermelhas, como se usasse uma luva. Não havia um pedaço de sua própria pele exposta, a imensidão do vermelho vibrante cobrindo até mesmo embaixo de suas unhas. 

"Papai, pode me colocar no chão.", ditou quando a porta dupla abriu e revelou seus aposentos. Com um sorriso, Erwin o colocou no solo e saiu para ajudar Kenny com a pequena "bagunça" que seu querido filho havia feito. Fechando a porta, Levi o ajudou primeiro a tirar a blusa escura que grudava em seu peito, encharcada. Após ser despido com a ajuda dele, caminhou ainda meio tonto até a porta onde levava ao banheiro da suíte, não era muito diferente do outro cômodo, era de cor clara e parecia ter saído de algum filme antigo. Uma banheira de porcelana ocupava um dos cantos, com a vista de uma pequena janela ao seu lado.

Nem mesmo esperou que ela enchesse por completo, apenas ligou a torneira e sentou-se lá. A água quente caia em direção a seus pés, aliviando um pouco da tensão que sentia. "Querido? Está tudo bem? Posso entrar?", escutou da porta. Um resmungo mais alto saiu de sua boca, sinalizando um "sim".

Uri entrou, buscou pelo banquinho que ocupava a parte de baixo da pia e o levou-o até detrás da banheira, onde a cabeça do jovem estava apoiada. Com leveza, sentou-se e se pôs a retirar o elástico que prendia fortemente os fios dourados em um coque alto. 

Levi entrou com uma muda de roupas e toalhas felpudas logo depois, colocou todos os panos em cima de um baú encostado na parede. A água já cobria seu peito, a cor amarronzada causada pelo sangue que o sujava. Julgando ser suficiente, Levi desligou a torneira e se colocou de joelhos ao lado do objeto.

Armin apenas direcionou seu rosto ao encontro do parente, estava muitíssimo cansado e o carinho em seus cabelos lhe davam sono.

O moreno molhou uma toalha na água da banheira, levando em seguida ao rosto de sua criança. Com uma mão segurou o queixo juvenil, enquanto a outra tratava de passar a toalha molhado pelas bochechas sujas de sangue. "Entregou o que lhe pedi para Eren?" o platinado, focado em pentear os fios embaraçados, perguntou gentilmente. Acenando em concordância, Armin deu sua resposta. 

"Quando vai contar ao garoto?", molhando a toalha mais uma vez, Levi questionou observando quais mais pontos ainda teriam que ser limpos. "Contar o quê?" o loiro voltou seus olhos para a água escura. "Você sabe o que.", retornou a toalha para o rosto com sangue seco. "Uma hora você vai precisar contar a verdade. Sabe como odiamos omitir qualquer coisa para os outros, não precisamos ter vergonha.", analisando a feição do rapaz disse com esperteza.

"Eu sei...", suspirou derrotado, "Só penso que está cedo demais para isso. Não preciso assustar ele agora.". O silêncio tomou o local, até mesmo acreditou que o assunto havia morrido ali mesmo, mas não. "Assim espero. Não me importo quando vai contar, desde que seja o mais breve possível, pois se não contar, eu vou!"

Ackerman'sOnde histórias criam vida. Descubra agora