C I N C O

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Josephine

Peggie ainda me olhava esperando uma explicação, e eu ainda estava de toalha em sua sala de estar, o cabelo pingando.

— Posso me trocar primeiro? — Pergunto apontando para minha mochila com as roupas. Ela me olha por um instante, creio que pensando se deve ou não deixar que eu fique em sua casa por mais tempo. Por fim, ela suspira e aponta para um cômodo no corredor. Ela me leva até seu quarto, mas fica junto comigo.

— Não vou roubar sua casa, Peggie. Não sou uma ladra.

— A quantia em dinheiro dentro da sua bolsa diz o contrário.

Aquele comentário me magoou, mas errada ela não estava de pensar aquilo, afinal eu dei motivos para tais pensamentos. Suspirei triste e me troquei rápido, não querendo que ela visse mais do meu corpo.

— Quando foi que você teve uma refeição descente? — Ela pergunta não desviando a atenção das minhas costelas que fazem questão de aparecer.

— Antes do meu pai ir em bora, pra falar bem a verdade.

Ela não disse nada e sentou na cama, depois de eu me trocar, a encarei séria.

— Não vou mentir para você, peguei aquele dinheiro do meu padrasto, sim. Por meses eu tentei descobrir a senha para poder pegar o dinheiro e ir em bora de lá logo. Eu seu que o que fiz não é certo, mas eu tinha direito de ter aquele dinheiro, afinal quem trabalhava lá era eu, e nem ganhava metade do que deveria ganhar naquela espelunca que eles chamam de bar. Eu roubei aquele dinheiro pois se não, eu não conseguiria criar uma nova vida aqui do zero. Me desculpe se fiz você desconfiar de mim, eu não roubaria você ou seus filhos, ou sua lanchonete. Não quero que pense o pior de mim. — Digo tudo encarando seus olhos que acabam se enchendo de lágrimas, não entendo porque. — Se você quiser chamar a polícia, eu entendo... — Me calei quando ela se levantou e me abraçou com cuidado. Arregalei os olhos e fiquei sem ação.

— Vamos cuidar desses machucados e pentear esse cabelo. — Ela mudou de assunto drasticamente, saiu do quarto e voltou em seguida com uma caixinha rosa com uma cruz brilhante colada em cima. — Zoe que confeccionou a caixinha de primeiros socorros. — Ela sorri orgulhosa e logo depois retirou uma gaze, e alguns remédios. — Pode arder um pouquinho. — Apenas acenei com a cabeça e ema molhou a gaze, e começou a passar delicadamente por meu rosto, fiz uma careta de dor e ela sorriu e depois assoprou levemente, fazendo aliviar um pouco.

Limpou mais um pouco e depois com outra gaze passou algum remédio que dessa vez não ardeu, fez um pequeno curativo na lateral do meu rosto e sorriu para mim.

— Prontinho.

***

— O que você pensa em fazer agora? — Pergunta Zoe, enquanto comemos. Ficarei na casa dos Manson essa noite. Dou de ombros:

— Procurar um lugar para morar e um emprego, a parte da escola já está resolvida.

— Bem, enquanto você não acha nem um nem outro, pode ficar aqui, né mãe? — Ela pergunta, Peggie me olha e sorri novamente. Ela tem um sorriso tão acolhedor.

— Pensei em amanhã procurar algo, não quero incomodar mais do que já incomodei, aliás, gostaria de agradecer vocês por terem me acolhido aqui. — Digo com sinceridade, nunca esqueceria o que aquela família fez, não são todos que ajudam um desconhecido assim, e que o trazem para dentro de sua casa.

Dormiria com Zoe, e ela pareceu ficar bem animada, tentei prestar atenção em tudo o que ela tagarelava, mas estava muito cansada de tudo o que aconteceu e acabei adormecendo rápido, sonhando com olhos verdes que julguei já ter visto antes.

Besides The Life | HerophineOnde histórias criam vida. Descubra agora