D E Z O I T O

258 31 4
                                    

Josephine
— Me deixa em paz Hero! — Grito de uma forma desesperada enquanto tiro meu cabelo do rosto. Suor frio escorre pela minha testa.
— Mas que porra! Eu só quero ajudar caralho! — Escuto um estrondo e sei que ele socou ou chutou algo.

Mas no momento não me importo com nada. Acho que fiquei ali por pelo menos cinco minutos, e quando finalmente crio coragem para levantar, abro a porta, e me olho no espelho, pálida, olhos e nariz vermelhos.
Meu desespero volta quando vejo que Stephen está parado na porta, com os braços cruzados enquanto me olha com uma expressão indecifrável. Me lembro dessa pose, os braços cruzados, quando ele me dava alguma bronca.

— Podemos conversar? — Ele pergunta de forma duvidosa.

— Eu pareço querer conversar com você? — Respondo de forma ácida enquanto lavo meu rosto e minha boca, que tem um gosto horrível.

— Eu sei... eu nem deveria estar pedindo isso para você, mas por favor, me deixe pelo menos tentar.

— Explicar o que? Que você resolveu abandonar sua família por causa de uma garota mais nova? Não, obrigada.

— Josephine, eu me arrependi todos os dias ok? E você acha que eu não tentei entrar em contato com você? — Ele fala com a voz parecendo angustiada.

Começo a rir de sua falsidade.
— Oh, jura? Tentou mesmo? Então, por que eu nunca recebi uma ligação sua, qualquer coisa?

Ele franze o cenho em confusão.
— Em todos os seus aniversários, datas comemorativas, qualquer dia, eu ligava para você, depositava dinheiro na conta da sua mãe. Me matava um pouco mais quando não conseguia falar com você, mas de certa forma me consolava quando via que estavam recebendo o dinheiro.
Congelo por um momento.
— Dinheiro? Nunca houve um tostão!
Do que você está falando? Eu depositei dinheiro na sua conta desde quando você tinha 10 anos! Apesar de ter sido um covarde, não queria que vocês passassem necessidade.

Paro de respirar por um momento, e me curvo diante da pia, abro a torneira e passo um pouco de água no pescoço. Então quer dizer que todos esses anos, eu passei necessidade à toa, eu poderia ter tido uma vida menos de merda se eu soubesse desse dinheiro, poderia ter juntado quando minha mãe começou a gastar tudo... em bebida e em drogas.

— Deixa eu te dizer uma coisa, Stephen. Esses anos que passaram, foram um inferno. Desde que você se mandou, minha mãe se tornou outra pessoa. Começou a namorar caras babacas, a beber e usar drogas, passei fome e sofri nas mãos dela e dos vários namorados. O atual tentou me estuprar quando consegui fugir para cá. Enquanto você vivia sua vida perfeita com sua ninfeta. — Finalizo com o olhar perdido e ele parece ainda mais pálido do que eu.
Quando ele ia falar algo, a diretora surge na porta.
— Sr. Langoford, o que está acontecendo aqui? — Ela passa seus olhos de mim para ele de uma forma acusadora.
— Me desculpe Sra. Campbell, não tenho condições de continuar a palestra, não estou me sentindo muito bem.
— E por que está aqui no banheiro com a Senhorita Josephine? — Ela ainda mantém a postura desconfiada.
Porque ele é a porra do meu pai, sua vaca! Não precisa me olhar achando que estou tentando seduzir ele ou algo do tipo!
Ela viu meu estado e apontou os banheiros, não reparei que este era o feminino, me desculpe.
Sra. Campbell parece acreditar, pois me olha e faz um sinal com a cabeça para que eu saia do banheiro, faço isso sem pensar duas vezes, mas quando chego na porta, por algum motivo olho para trás, e a expressão no rosto de
Stephen de alguma forma faz meu peito apertar.
Quando finalmente vou indo para a sala, encontro Hero, Dan e Matt encostados em uma parede. Hero está de costas por isso escuto quando ele está dando algum tipo de bronca em Dan.
— Se você falar algo sobre isso perto dela eu corto sua língua, entendeu? Ela tá magoada e brava, e...
— Cara. — Dan tenta interromper Hero, mas ele bate em sua mão e continua falando.
— É sério porra, ela não quis minha ajuda, mas...
— Está tudo bem Hero, não precisa ameaçar o Dan. — Digo atrás dele, que dá um pulo de susto e arruma a mochila.
— Hei, você está aí. Como se sente? — Ele pergunta receoso, e para não deixar transparecer, dou de ombros.
— Melhor irmos para a sala. — Digo com a voz monótona e ando na frente.

Besides The Life | HerophineOnde histórias criam vida. Descubra agora