V I N T E U M

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Josephine
 Parece que passaram horas em que fiquei sentada ali, chorando e preocupada com Hero. Até me trouxeram um copo de água com açúcar que não consegui beber porque minha garganta estava apertada de mais para passar alguma coisa.
Sei que em algum momento chamaram a polícia pela agressão. Escutei o diretor me chamar na diretoria para conversar com os policias, mas simplesmente não conseguia me mover.
Vejo Dan correr em minha direção e perguntar repetidamente o que houve com Hero e "onde caralhos aquele filho da puta do Justin se meteu". Eu escutava tudo ao meu redor, mas ter alguma reação sobre isso? Nada. É como se meu corpo estivesse entorpecido. Estou tão preocupada com ele...
— Vamos, srta. Langford. Precisamos relatar o que houve. — O diretor fala enquanto um policial aguarda ao seu lado. 
Nesse momento, o ginásio está vazio, restando apenas eu, Dan, o diretor com o policial e uma garota que não reparei que estava ali no canto, roendo as unhas e nos encarando com aflição.
— Ela está em choque. —  Dan responde ao diretor enquanto me olha com o semblante preocupado.
— Recebemos a denúncia feita por algum aluno da escola e precisamos abrir o boletim de ocorrência logo. Precisamos encontrar o rapaz e colher as provas.
— A pancada na cabeça dele, e a confusão não são provas suficientes? — Escuto minha voz falar, mas está estranha, grossa.
—Fui eu. — A garota que reparei ter cabelos loiros escorridos e olhos borrados com lápis preto dá um passo à frente com um olhar vacilante.
— Desculpe? — O diretor encara ela e ele provavelmente está perdendo a paciência.
Bem, ele que se foda.
— Fui eu quem fez a denúncia e gravei tudo. — Ela afirma e me dá um olhar de... compreensão?
— Ótimo, vamos para minha sala. — Ele diz, me pegando pelas mãos e me arrastando até sua maldita sala. Essa escola só tem diretores idiotas, primeiro foi aquela mulher, que foi transferida, e agora esse que parece não dar a mínima para nada.
Depois de me jogar na cadeira em frente ao babaca do diretor, encaro a garota pelo canto dos olhos. Seu cabelo repartido no meio é escorrido e esconde metade do seu rosto, mas consigo ver seu nariz pequeno e arrebitado. Ela tem um estilo meio rock ‘ n’ roll e unhas pintadas de preto.
— Pois bem, se você tem uma informação que preste, comece a falar. — Diretor Babaca fala.
Ela me olha acho que com medo, eu sei lá, minha cabeça parece estar em outro lugar.
— O Justin empurrou a escada em que ela estava em cima, e quando o rapaz que estava em baixo foi impedir ele o ameaçou. Então a Josephine caiu e ele a agarrou. Ele passou a mão nela duas vezes, sendo que ela pediu para ele parar. O namorado dela escutou e no calor do momento socou o Justin. Josephine tentou impedir ao máximo e quando estavam saindo, ele atacou o Hero com um pedaço de madeira. Tenho tudo gravado desde o início no meu celular. — Ela fala tudo muito rápido, e como é que ela sabe meu nome se eu nunca prestei atenção nela?
Ela continua: — Justin é um lixo de pessoa, principalmente com as mulheres.
Não sei porque, mas apenas sai da minha boca:
— E ele tentou me estuprar uma vez.
Realmente estou admirada do fato de que minha voz não contém emoção alguma.
— O que podemos fazer? Não tem provas contra isso. Agora o vídeo, mostre.
O policial intervém.
— Assumo daqui. Vocês poderiam me acompanhar até a delegacia? Você pode dizer isso lá? — Ele se refere à garota e ela assente.
Ligo para Peggie no caminho e tento explicar tudo sem desmoronar e parecer calma. Claro que ela surta e se oferece para me acompanhar na delegacia, mas digo que não há necessidade afinal eu não iria atrapalhar o serviço dela por uma coisa que posso resolver.
Na delegacia, faço uma o boletim de ocorrência e narro tudo do meu ponto de vista. Acabo descobrindo que Justin tem uma pequena fixa criminal e recentemente foi denunciado por agressão por uma garota. Meu pensamento vai para Molly automaticamente.
Depois da garota — que descobri chamar-se Elsa— deixar o vídeo como evidencia para a polícia, saímos juntas.
— Obrigada por isso. Você facilitou bastante para nós. — Agradeço enquanto arrumo a mochila em meu ombro. Preciso ver Hero o quanto antes.
— Eu conheço o Justin desde o primário e posso afirmar que ele sempre foi babaca. Principalmente com o Hero. — Ela murmura de cabeça baixa.
— Por que? — Pergunto meio confusa.
— Ele tinha uma coisa que o Justin não tinha com frequência. E o Hero ficou tão devastado... — Ela se interrompe no meio da frase e me olha com os olhos verdes arregalados. — Falei demais, desculpe. Espero que ele fique bem. Tchau. — Ela fala daquele jeito rápido e sai praticamente correndo. São apenas três da tarde e minha cabeça lateja. Preciso descobrir em qual hospital levaram Hero então me lembro que ele adicionou o número da mãe dele no meu celular, acho que ele queria que a gente conversasse.
Aperto o botão de chamar com os dedos trêmulos.
— Sra. Fiennes? É a Josephine. Como o Hero está? — Pergunto meio receosa. E esse ela não souber ainda do que aconteceu? Tarde demais.
Ela responde com uma voz chorosa.
— Oi Josephine, ele está internado. Te passo o endereço por mensagem, espere um pouco. — Dois segundos depois vejo a localização.
— Ok, estou indo para aí.
— Querida... Melhor não... ele está descansando.
— Por favor, eu entendo. Mas eu preciso ver ele, porque se não, acho que vou ter um surto. Por favor. — Imploro enquanto desisto de segurar as lágrimas. Escuto um suspiro e ela responde apenas com um ok. Imediatamente, desligo o celular e vou para o hospital.
 
Hero
Minha cabeça dói tanto. Estou confuso, com dores e meus olhos não querem abrir, parece que as pálpebras foram coladas e é uma sensação horrível. É como se eu estivesse dormindo, mas consigo escutar tudo o que as vozes em minha volta dizem.
Minha mãe diz um nome no telefone e sei que ela está com o semblante preocupado só pelo tom de voz que está usando.
Sinto um cheiro de pinho e de alvejante, esse cheiro estranho que você só sente quando vai ao hospital. Eu devo estar em um, e quando tento lembrar o que me fez vir parar aqui, minha cabeça dói mais ainda e vejo um grande borrão branco.
Eu desisto de tentar entender que merda aconteceu comigo e acabo caindo no sono, minhas pálpebras desistem de lutar para abrirem e cedem ao sono, e mergulho num abismo sem sonhos e com muita dor de cabeça.
***
O colchão ao meu lado esquerdo afunda um pouquinho, um cheiro de um perfume doce e gostoso pinica meu nariz, e me dá vontade de me aproximar mais para sentir melhor o cheiro. Parece familiar, mas ao mesmo tempo não. Confuso.
Estou nesse estado em que está meio dormindo e meio acordado, mas sinto totalmente quando uma mão toca meu rosto delicadamente, e faz carinho no meu cabelo.
— Hei Hero. Você vai ficar bem, não é? — Uma voz suave diz baixinho enquanto continua com os carinhos.
— Você me assustou tanto... — Sinto lábios escovarem os meus em um beijo suave e meu coração salta do peito.
— Abra os olhos amor... — Essa voz que parece um canto de sereia me faz querer enfrentar a difícil luta entre mim e minhas pálpebras. Mas eu luto e abro os olhos.
Encontro olhos muito azuis, — mas não eram verdes? —vermelhos, me encarando. Um cabelo loiro longo e um rosto angelical. Sua mão está quente na minha pele. Preferia os cabelos castanhos, mas ela fica linda de qualquer jeito.
— Katherine. — Sorrio brevemente e seguro sua mão na minha. Seus olhos ficam tristes e confusos na hora. Não gosto desse olhar e meu peito contrai, como se eu precisasse fazer algo para tirar essa expressão triste do rosto dela.
— Katherine? Não, Hero. Sou eu, a Josephine.
Josephine? Quem diabos era Josephine?
— Me desculpe, mas quem é você e por que está me beijando? Mãe! — De repente fico irritado e começo a me mexer na cama. Minha mãe aparece na porta e olha para essa loira como se pedisse desculpas. Mas pelo o que?
— Você está brincando, não é? Só pode ser uma brincadeira de mal gosto. — A garota sussurra e se afasta da cama, ela me olha com uma expressão desagradável de dor e aperta o peito, como se tentasse diminuir, talvez.
— Você que deve estar de brincadeira. Por favor, saia. — Respondo grosso, se Katherine souber que uma garota que estranhamente se parece com ela me deu um selinho será motivo de mais brigas, e estou farto de brigar com ela.
— Hero, não fale assim. — Minha mãe adverte, mas ignoro.
O queixo dela treme e com um último olhar, ela se vai.
(...)
Eu fiquei em observação por mais alguns dias. Dan veio me visitar todas as vezes, e eu sei que ele queria me contar algo pois olhava para os lados toda hora e roía as unhas. Eu perguntava o que era e ele sempre dizia “quando você sair do hospital”, e todas as vezes que eu perguntava da Katherine ninguém respondia ou fingia que não tinha ouvido, e isso me irritava muito.
Mas quando o médico perguntou o motivo que fez com que eu levasse uma pancada, eu não soube o que falar. Alguém havia me batido forte na cabeça, causando uma perda leve de algumas memorias mais recentes e outras mais antigas. De acordo com o médico, é uma coisa normal principalmente sentir algumas dores, enjoos e cansaço. Nosso cérebro é uma coisa muito louca mesmo.
Felizmente, minha estadia no hospital é curta, e logo estou em casa. Meus pais me tratam como se eu fosse um bebê, cheios de cautela e cuidados. Até gosto disso, mas porra, isso é irritante pra cacete também.
Durante o caminho para casa, peço para que eles me falem coisas que eu não conseguia lembrar, momentos, e sempre quando perguntava de Katherine, ninguém respondia. Eu tentei ligar para ela, mas o número não existe. Que porra aconteceu?
Com a minha pancada, peguei alguns dias de atestado, então ficava jogando vídeo game todo dia com Dan. Estava jogado na cama, fui conferir as redes sociais de Kathe, então a porra do mundo começou a rodar e minha cabeça doer.
Primeiro, em seu perfil do Instagram, estava desativado. Seu número inexistente, e então seu perfil do Facebook estava como “em memória de Katherine Banners”. Isso é algum tipo de brincadeira de merda?
E por que caralhos só agora reparei que meu fundo de tela é uma foto minha com a garota loira sentada do meu colo? Observo melhor a foto. Ela está com a cabeça encostada em meu peito, enquanto seguro suas pernas em meu colo como um bebê, e eu tenho esse olhar de idiota apaixonado na porra do rosto.
Antes de começar a surtar de vez, Dan entra pela porta do meu quarto. Me levando e mostro o celular pra ele.
— Que. Porra. É. Essa? — Pergunto entredentes. Ele me olha com seus olhos arregalados e me puxa para sentar na cama.
— Cara, eu sabia que iria sobrar pra mim. — Ele diz, mas acho que foi para ele mesmo. — Certo. Vamos fazer isso rápido. Já passou da hora de você voltar ao normal. Katherine morreu, Hero. Você namora essa garota, a Josephine. Que por infelicidade do destino, lembra um pouco a vac... Katherine.
O que?
Antes que eu pense no que estou fazendo, empurro Dan da cama, que cai de bunda no chão. Ele me olha assustado, mas parece que ele esperava essa reação minha.
— Que porra você está dizendo, Daniel? Você é meu melhor amigo, mas se continuar com essa merda, eu vou te dar uns socos para você voltar ao seu juízo normal.
— Você que precisa voltar ao seu juízo, seu idiota.
Então ele passa o restante do dia me explicando tudo o que aconteceu, desde a morte de Katherine, até a aparição dessa loira na minha vida. São muitas informações que não sou capaz de organizar na minha cabeça, e infelizmente ainda não consigo lembrar de praticamente nada.
 
Algumas semanas depois...
Evito a garota loira o máximo que eu posso. Na escola, parece que foi proibido comentar sobre a minha pancada. Sei que foi Justin agora, e sei que ele está desaparecido. Tento não notar os olhares e os inevitáveis cochichos que surgem quando passo. Tento ignorar tudo.  Quando Dan perdeu o restante da paciência que tinha comigo, me contou da melhor forma que Katherine havia morrido. Eu fiquei irritado, eu quis quebrar algo, mas depois... Passou. O fato de que a garota que achei que amava ter morrido não me afeta tanto do jeito que eu pensei, mas fingir que não noto os olhares tristes da loira, isso sim acaba comigo.
Eu só queria conseguir lembrar.
O natal estava próximo, estava tudo decorado e todos estavam animados para o baile que teria. Reviro os olhos quando escuto Dan e Matt combinarem seus ternos, e esquecerem que eu estou aqui, de vela.
— Independente disso, se você beijar outro juro que é um homem morto. — Dan diz de uma forma dócil enquanto passa as mãos nos cabelos de Matt.
— Como assim? — Pergunto com o cenho franzido. Que merda?
Dan me olha como se fosse óbvio o que ele estava falando.
— Parece que inventaram uma coisinha pra deixar o baile mais interessante. Na hora da música romântica vão apagar todas as luzes e desfazer os pares. A graça é você tentar achar seu par no escuro. — Dan explica, mas faz uma careta para algo atrás de mim.
Antes que eu pergunte, uma cabeleira preta com rosa entra no meu campo de visão.
— Oi, Hero. — Ela sorri amavelmente, enquanto enrola uma mecha de seu cabelo bonito no dedo. — Eu sou a Molly, nós éramos amigos antes de... você sabe. — Ela diz enquanto olha para baixo e morde o lábio.
— Ahn... não eram não, minha querida. Quem bateu a cabeça foi o Hero, mas você que fica fora das ideias? — Dan resmunga para ela. Pela sua expressão, parece que ela vai chorar.
— Dan! Que grosseria. — Me viro para ela novamente, dando-lhe atenção.
— Me desculpe por ser inconveniente... Só queria saber se você gostaria de ir ao baile comigo. — Ela fala toda tímida, e sinto minhas bochechas corarem.
— Ah, faça-me o favor, essa pose toda pra cima de mim? — Dan resmunga irritado, mas decido ignora-lo.
— E então? Se você não se sente confortável, tudo bem, eu...
— Eu topo. Me passa seu número. — Sorrio lhe entregando meu celular. Ela passa seu número e prometo mandar uma mensagem para ela. Assim que ela saiu, Dan me dá um soco no braço.
— Que porra é essa Daniel? — Pergunto irritado, massageando meu braço onde ele socou.
 — Você só pode estar maluco. Ir ao baile com esse projeto de piriguete? Hero, acorda. Ela é uma vaca assanhada, e nós não gostávamos dela. — Ele esbraveja.
— Amor... fala mais baixo... — Matt sussurra, percebendo que algumas pessoas ficaram olhando para o surto que Dan estava tendo.
— Olha, eu poderia até não gostar dela antes, mas quem sabe isso foi uma oportunidade de conhecer ela melhor?
— Meu Deus, quanta merda que você está falando. Quer saber, vou sair daqui. Até depois.
Dan sai realmente irritado e Matt me encara com um pedido de desculpas no rosto.
— Desculpe cara... ele está muito preocupado com você, e acaba sendo meio grosso as vezes. Melhor eu ir atrás dele, você vai ficar bem?
Também irritado, decido só concordar com a cabeça.
[...]
Conforme minha rotina ia voltando ao normal, minhas dores de cabeça estavam melhorando e já me lembrava de algumas coisas, como meu trabalho vestido de papai Noel. Fiquei a tarde toda em lojas e em alguns shoppings tirando fotos com crianças e adolescentes, a maioria meninas em grupo que ficavam cochichando e rindo quando eu piscava para elas.
Quando o dia do baile chegou, por algum motivo que não tinha nada a ver com a Molly, estava ansioso e nervoso. Não sei explicar o porquê, e não queria admitir para mim mesmo que talvez tivesse a ver com a loira...Josephine?
Recentemente, eu vinha sonhando com ela todas as noites, sonhos vívidos, alguns meios... intensos, que sempre me fazia acordar de pau duro, ou outros em que estava apenas abraçado com ela. Mas quando acordava, aquele vazio me atingia, e a sensação era como se eu estivesse doente;
Como hoje é sábado, tinha em mente dormir a manha toda, mas acabei acordando as 7 da manhã, então decidi correr um pouco. Me troco, pego meu celular e fones de ouvido e desço para tomar café.

Besides The Life | HerophineOnde histórias criam vida. Descubra agora