Metade De Tudo... Ou Nada!

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Acordar bem cedo, umas seis horas da manhá, me preparar para sair às sete horas, passar no parque antes das sete e meia, deixar uma esmola para um sem-teto, chegar ao trabalho antes das oito horas, sair depois de meio-dia, almoçar, voltar para o trabalho à uma e meia da tarde. Após ir embora, passar no banco e sacar metade dos lucros do més, ir para casa. Essa tem sido minha rotina todo dia primeiro do mês há cinco anos.

Minha esposa e meus filhos me abandonaram faz alguns anos. Não foi por falta de nada, nem de amor. Acredito que o medo supera qualquer outro sentimento do ser humano. As três da manhã sempre procuro estar dormindo. As vezes me levanto para tomar água ou ir ao banheiro, e é nesse momento que coisas estranhas acontecem. Vejo vultos no escuro - são sempre garotinhas, parecem tristes e furiosas. Nunca faço estardalha ço ou tento correr. Já me acostumei, mas sustos eu sempre levo.

Minha vida financeira tem melhorado. Fui promovido duas vezes nos últimos quatro anos. Meu salário é muito mais do que posso gastar, levando-se em conta a vida que levo. Moro sozinho e não preciso de tanta comida, então sempre sobra bastante no fim do mês. A metade do que ganho fica comigo em meu quarto, todo o tempo à vista em cima da cômoda. No início de cada mes levo tudo para um mendigo no parque.

Há noites em que não consigo dormir. Ouço choros de garotas no meu quarto, é irritante e assustador. Tomo bastante café no trabalho para suprir a falta que fazem as boas-noites de sono.

As vezes me pergunto se sou mesmo feliz. Hoje consigo fazer qualquer coisa, mas acho que ter tudo na mão sem precisar lutar fez minha vida ficar um tanto sem graça. Agora me sinto mal. Esse é um contrato sem volta, pois o mendigo da praça vai continuar sacrificando garotinhas todo més. Se não o fizer, minha alma será levada mais cedo para o inferno.

O Livro MalditoOnde histórias criam vida. Descubra agora