Minha Melhor Amiga

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Na infância não fui muito popular na escola. Sempre tirei ótimas notas, mas isso geralmente não faz você ser notada. Sempre acabava agindo da maneira certa, mesmo que para mim desse tudo errado. Então na escola cu cra vista como careta.

Quando completei onze anos, apaixonei-me por um garoto muito interessante. Ele não tinha uma fama muito boa na escola, mas eu não ligava. Passava o recreio todo olhando para ele. Nunca pude me declarar, ate porque eu seria rejeitada, e provavelmente humilhada também.
Com dezesseis anos, por fim, fiz uma amiga. Bom, pelo menos uma que vale a pena chamar de amiga. Todas as outras que eu havia tido eram tão impopulares quanto eu, e isso nunca me trouxe nada de bom Por conta da amizade de Gisele, conheci várias pessoas. Acabei mudan do bastante minha atitude e me tornei o que muitos hoje chamam de garota rebelde.

Nunca havia contado a ninguém sobre meu amor por Alex. Mas um dia Gisele me pegou olhando fixamente para ele. E, depois de me dei xar vermelha cantando a musiquinha dos dois apaixonados embaixo da árvore, ela prometeu guardar segredo. Eu sabia que podia confiar nela, e ela também confiava em mim, pois já tinha me contado vários segredos.

Éramos inseparáveis. Eu roubava dinheiro da minha mãe e saíamos juntas para beber e fumar, e, claro, comprar roupas. Mas quase no fim do ano Gisele começou a namorar. Não passávamos mais tanto tempo juntas.

Meus dias aos poucos tornaram-se melancólicos, não parava de pensar em Gisele e no que seria da gente por causa desse namoro. Ela era quase uma rainha na escola, tinha beleza para dar e vender, e muitas garotas a invejavam. Ela me ensinou como me arrumar, como agir perto de garotos e tudo o que eu sei sobre ser realmente alguém.

Por ficar perto dela, ganhei mais atenção e cheguei ao estágio com que todas as garotas como a gente sonham: o estágio da inveja. Gisele era a que as outras mais invejavam, isso era claro, mas consegui um pou: co disso também. Muitas me imitavam e queriam ser como eu. Juntas mandávamos em todas as demais.

Certa vez, Gisele me convidou para ir ao shopping com ela e seu namorado. Foi desconfortável estar ali sobrando entre os dois. Não seria uma experiência que eu iria querer repetir. Então, quando fomos embora,foi um alívio para mim.

Dois dias depois, atendi meu celular e a mãe de Gisele estava completamente desorientada. Gritava e chorava. Chegou a me implorar para dizer para onde sua filha havia fugido. Respondi que não estava sabendo de nada.

Já se passaram vinte anos, e Gisele nunca mais apareceu. Todos a deram como morta, mas sua família sempre teve esperança de um dia encontrá-la. Muitos ainda se lembram dela, e eu sinto demais a sua falta. Consegui conquistar o coração de Alex e nos casamos. Temos duas filhas e vivemos superbem, mas ainda hoje não me sai da cabeça aquela sensação de desconforto ao ver Gisele e ele se beijando naquele dia no shopping. O que mais me alivia quando penso nisso é lembrar o quanto Gisele implorou por sua vida antes que eu a matasse.

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