Olhe Para Mim

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Já vi várias coisas estranhas na estrada. Na maioria, ninguém acreditaria. Sou caminhoneiro, então viajo bastante. Meu parceiro de estrada havia falecido, e na única vez que precisei viajar sozinho algo perturbador aconteceu.

Estava na estrada. Era noite e passava por uma floresta com névoa bem densa, o vento frio fazia os galhos das árvores assobiar. Avistei ao longe um ser se mexendo na beira da estrada. Quando me aproximei percebi ser uma moça. Era loira e trajava um vestido vermelho. Parei para ver se estava tudo bem. Ao perguntar o que fazia sozinha na floresta, ela me respondeu apenas:

- Está frio. Posso entrar?

Não recusei.

A garota não me olhava nos olhos. Sua visão estava sempre voltada para a frente, nunca para os lados. Não tremia mais de frio, seu rosto estava pálido e muito sério. Perguntei se sentia-se bem. Ela apenas confirmou com a cabeça. Acabei deixando pra lá.

Quando estávamos passando perto de uma cabana abandonada, ela me pediu para parar um pouco. Não fazia sentido parar ali, mas pensei que estivesse com a bexiga apertada, então concordei.

A garota ficou encarando o para-brisa por um momento, então me contou sua história. Ela estava em uma festa, seu namorado agiu como um babaca e tentou estuprá-la. Ela fugiu e acabou na floresta sozinha. Disse que se eu não tivesse aparecido provavelmente não encontraria o caminho de casa sozinha.

- Você mora nessa cabana? perguntei.

- Não, mas vou ficar por aqui. Quando a névoa passar vou conseguir chegar em casa - disse, ainda olhando para a frente.
Eu não queria deixá-la sozinha naquela cabana, então me ofereci para levá-la até sua casa, ao que ela recusou.

Não me olhava, eu não entendia o porquê. Então resolvi perguntar:

-Por que você não me olha?
Gaguejando, a garota respondeu:
- Porque esse adesivo na sua janela me dá arrepios.
Ao conferir do que ela estava falando, meus olhos se arregalaram e saímos juntos do caminhão pela porta do outro lado.
Eu mesmo não acreditaria se não tivesse visto com meus próprios olhos. Acabamos dentro da cabana, pois a figura sorridente na minha janela era meu parceiro que já havia falecido.

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