Hoje tenho quinze anos. Quando matei meus dois irmãos eu tinha dez. É impossível esquecer seus olhares pouco antes de morrer, e não era eu aquela noite, era a voz me controlando.
"Mate os dois."
"Eles precisam morrer."
"Você é o mais especial."
Na época em que eu ouvia tudo isso não podia fazer nada, ou seja,podia apenas ouvir.
Minha mãe me odeia. Ela nunca mais me olhou da mesma forma e acho que nunca mais vai olhar. Ela é uma psicóloga renomada, no entanto preferiu que estranhos me orientassem. Eu precisava de ajuda, o que nunca tive dela. Não sei ao certo o que meu pai pensa de mim. mas ele foi o que mais me apoiou, e sempre esteve ao meu lado até me ver melhorar.
Não moramos mais na mesma casa. Aquele lugar morreu para mim junto com meus irmãos. Mesmo estando tão longe, as lembranças ainda permeiam minha cabeça. Dormir não era mais um problema, e acordado eu apenas tentava evitar os pensamentos ruins.
Relaxado, meu sono era profundo, e foi nesse momento que ela retornou:"Ele precisa morrer também."
"Mate-o."
"Não o deixe viver."
Paralisado... Todo o meu corpo estava imóvel, e a voz novamente tomava conta de mim. Tentei gritar, mas não saíam palavras de minha boca, e a voz ainda soava em meus ouvidos. "Ele precisa morrer também."
Não podia contar para ninguém o que estava acontecendo comigo, eles iriam querer me internar novamente. Eu sabia que a voz não iria vencer, pois não sou mais criança, não tenho por que dar ouvidos a ela.
"Você está sob o meu controle agora."
"Ele precisa morrer."
"Será você se não for ele."
A voz voltava todas as noites. Eu sentia meu rosto se umedecer. Eram minhas lágrimas. Eu estava com medo de ceder a ela. Não sou um monstro. Mesmo que me odeie por tudo que já fiz, não consigo me culpar. Não sou um monstro.
"Você quer morrer?"
"Será você se não for ele."
"Mate-o."
Não! Era o que eu queria poder dizer, mas por alguma razão não conseguia. Talvez não fosse possível vencer, eu havia perdido da última vez, e provavelmente a voz não iria desistir tão fácil.
Sentia minha respiração, e percebi algo também. Eu conseguia mover minha língua enquanto dormia. A voz, astuta como sempre, tentava me fazer ceder, ela queria que eu o matasse. Mas jamais faria isso, pois ele foi o único que confiou em mim.
O gosto de sangue quente invadiu minha boca. Meu corpo podia ser movido novamente, então abri os olhos.
Sua boca se movia no escuro. Seu hálito era de menta. Acho que não sabia que eu havia acordado, pois minha mãe ainda dizia:
"Mate-o."
"Ele precisa morrer."
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O Livro Maldito
HorrorCreepypastas Macabras e Contos de Terror. ⚠️ALERTA⚠️ Este livro é um tanto diferente. São mais de 70 histórias curtas de terror que vão do sobrenatural até coisas terríveis que os ser humanos podem fazer. E quando eu digo terrível explica quero dize...