CAPÍTULO 06

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Antony Hernandez

Eu estava ansioso porque ainda não tinha nenhuma notícia da Linda. A pele da minha mão já estava vermelha de tanto que eu puxava. Me sentia anestesiado e a sensação que tinha era de morte. Odiava ficar em hospitais porque tinha recordações horríveis. Eu já estava a ponto de sumir dali, mas de repente chega um furacão ruivo de mais ou menos 1,60 desesperada à recepção e pergunta algumas coisas. Fiquei observando todo seu nervosismo, mas quando essa mulher me vê começa a fazer um tremendo escândalo.

— Você matou minha amiga, não foi?! Foi por sua culpa que ela sofreu o acidente! Por que ninguém me dá nenhuma informação? Não posso viver sem minha amiga! — Lágrimas desciam em seu rosto enquanto ela gritava comigo e me dava socos no peito.

Segurei suas mãos e a puxei para meus braços em um abraço apertado. Sei bem como é essa dor. Ela suspirou e começou a soluçar, suas lágrimas começaram a molhar a minha roupa. Passei as mãos em seus ombros tentando acalmá-la, quanto mais eu fazia isso mais ela chorava.

— Vamos confiar que vai ficar tudo bem! Você é a Thaís? Me recordo um pouco de você na primeira vez que reencontrei a Linda. — Ela levanta a cabeça com o rosto todo vermelho me olha e diz:

— Sou a Thaís, sim. Desculpa ser tão agressiva com você. — Ela sacode a cabeça. — Mas é porque não posso perder minha amiga. Ela é como uma irmã pra mim, não quero ficar sem ela. — Funga.

Fico alguns minutos em silêncio apenas observando a Thaís chorar encostada em meu peito.

— Thaís? — Ela levanta a cabeça e me encara. — Cadê a mãe da Linda? Não consegui entrar em contato com ela.

Era estranho aquela situação porque as duas eram bastante unidas. Me lembro de quando éramos crianças ela sempre saia com a mãe para ir a feira. Eu as via bastante felizes.

— Acho que ela não te contou, né? — Diz.

— Contou o quê? — Pergunto sem entender.

—Antony, faz três meses que a mãe dela morreu. Agora somos apenas ela e eu. —Diz e volta a chorar colocando o rosto no meu peito

— Mas... E o pai dela?

— Nem quero falar daquele babaca. — Diz me encarando. — Linda só teve mãe! Aquele idiota nem poderia ser considerado pai. — Sussurra.

— Então ela está sozinha? — murmuro.

— Não! Ela tem a mim e sempre terá. — Diz nervosa.

— Claro que ela tem você Thaís. Não sei o que seria dela sem você. — Falo e vejo seus olhos encherem de lágrimas mais uma vez.

— Por isso ela não pode morrer Antony. — Sussurra e suas lágrimas descem descontroladas.

Abraço seu corpo trêmulo tentando te passar um certo conforto. Meu coração estava apertado. Linda estava sozinha, sem uma família. Não me imagino sem meus pais, eles são tudo para mim. Abandonar ela neste momento é inaceitável. Dou um beijo no topo da cabeça de Thaís e sussurro:

— Vai ficar tudo bem. Não vou deixar vocês sozinhas. — Ela apenas concorda com um balançar suave de cabeça. Meu amigo se aproxima com nossos cafés e nos olha desconfiado.

— Olá! Quem é essa Antony?

— Essa é a Thaís, amiga da Linda!

— É um prazer te conhecer, Thaís. Sou Arthur, amigo do Antony. — Diz estendendo a mão para ela.

Ela só olha pra ele ao mesmo tempo em que ignora sua mão. Abre um sorrisinho meio sem graça, me larga e procura um lugar para se sentar. Arthur a observa e com um sorriso sacana no rosto.

— Essa amiga da Linda possui uma beleza estonteante. Adoro ruivas. — Diz e passa a língua nos lábios.

—Arthur, você é um grande babaca! Estou preocupado com a Linda e você pensando na amiga dela, por favor, me poupe dessas suas atitudes ridículas. Se não for pra somar, te peço para ir embora agora. Estou nervoso, a Thaís também, e você como o idiota que é só pensa com a cabeça de baixo! — Praticamente gritei com ele.

— Fala baixo cara, estamos em um hospital. Se te incomoda já não está mais aqui quem falou. — Diz levantando as mãos.

Ele me entregou o café e foi se sentar em uma cadeira próxima a Thaís. Como se eu não tivesse dito nada para ele agora, que amigo esse que eu arrumei... Passo as mãos em meus cabelos e volto a me sentar aguardando ansiosamente por notícias.

Algumas horas depois vejo o médico saindo da sala de cirurgia e já me levanto, Thaís e Arthur também se aproximam.

— Quem é o responsável por Linda Goulart? — Ele diz.

— Nós somos!— Respondo e mostro nós três.

— No momento ela está estável. Ela quebrou fêmur e o braço direito. — Diz olhando em sua prancheta. — Também conseguimos fazer a cirurgia para aliviar a pressão e reduzir o sangramento do traumatismo craniano que ela teve, porém o que mais me preocupa é que não sabemos quais serão as possíveis sequelas que ela pode apresentar devido ao traumatismo. Neste momento ela está na UTI. A colocamos em coma induzido para diminuir a atividade cerebral e acelerar a sua recuperação. Vamos ficar avaliando a sua melhora, pois as próximas 48h são primordiais para sua recuperação.

Fico imóvel tentando absorver tudo o que ouço naquele momento. Porra! Ela é muito nova e ainda tem muito a ser vivido.

Ela não pode morrer!

— Doutor, ela ainda corre risco de vida? — Pergunto com medo da resposta.

— Não posso descartar essa possibilidade. O estado dela é muito grave e pelos exames que fizemos, ela está com anemia e isso dificulta a recuperação. Mas ela ainda pode se recuperar. Vamos confiar que o seu organismo aceite o devido tratamento, tudo depende dela agora. — Diz olhando por cima dos óculos de grau.

— Doutor, podemos vê-la? — Minha voz saiu trêmula. Meu estômago estava revirando de nervoso.

— Já passou do horário de visitas, mas vou abrir exceção pra um de vocês e só por cinco minutos. Amanhã no horário certo podem entrar duas pessoas de cada vez. Aconselho vocês falarem com ela porque ela pode estar ouvindo tudo o que se passa à sua volta. Isso fará com que ela não se sinta abandonada e também lhe dará forças para se recuperar logo. Então, quem vem comigo?

Olho para Thaís que já levanta o braço rapidamente e fazendo gestos afirma que vai vê-la. Fico um pouco decepcionado porque gostaria muito de ver com meus olhos como ela está, porém deixo a amiga que é mais próxima ter a vez e decidi que amanhã irei vê-la.

— Antony eu agradeço muito por trazer a Linda para o hospital, mas eu preciso ver ela urgente. Tenho que estar perto da minha amiga neste momento. —Respira fundo e pisca várias vezes. — Sei que você também está muito preocupado, mas ela é minha melhor amiga e não suporto ficar mais nenhum segundo sem ver como ela realmente está. — Suas lágrimas começam a correr livremente em sua face.

Como poderia negar algo da pessoa mais próxima dela?

— Tudo bem Thaís. Não se preocupe comigo, apenas vai lá e vê como ela está. Depois me conta tudo. —Passo a mão suavemente em seu ombro enquanto ela concorda com um menear de cabeça.

Ela saiu juntamente com o doutor, fiquei observando até os dois sumirem no corredor. Olho para Arthur e fico por um momento sem reação, com uma voz gritando em minha cabeça: O estado dela é grave! Ela está na UTI. Estou em choque e me lembro que todas as pessoas que conheço que foram parar em uma UTI acabaram morrendo. Soltei o ar dos pulmões que nem sabia estar segurando.

—Antony, vamos para casa tomar um banho e descansar um pouco. — Arthur diz se aproximando. — Você precisa descansar.

— Eu sei Arthur. —Suspiro. —Só vou aguardar a Thaís para que ela possa me dizer certinho como a Linda está.

— Tudo bem...

De repente é amor (Reescrita)Onde histórias criam vida. Descubra agora