Linda Goulart
Enquanto procurava um biquíni em minha mala, lembrava do momento que tive na praia com Antony. Está tudo tão perfeito que até tenho medo de algo dar errado porque quando tudo está indo bem na minha vida é um sinal de que algo está para acontecer.
— Linda... Linda! Acorda! — Diz Thaís enquanto estala os dedos a minha frente me tirando do meu devaneio.
— Desculpa. Estava viajando na maionese. — Digo com um sorriso sem graça.
— Então... Como está sendo esse seu romance com o Antony? Porque juro que se ele te magoar, eu o mato! Sério mesmo. — Ela diz fazendo sinal como se tivesse passando uma faca no pescoço. Não consigo conter o riso. Minha amiga é única.
— Na verdade, eu o amo! Acho que o fato dele estar cuidando de mim me fez perceber que ele não é o mesmo que conheci na minha adolescência. Agora ele é um homem completamente diferente, me sinto bem ao lado dele mesmo quando brigamos por coisas banais.
— Linda, tem certeza que o que você está sentindo não é apenas um sentimento de gratidão? Porque ele te ajudou. Não quero que você sofra e você sabe que o Antony era um completo galinha.
— Eu sei Thaís. E isso me dá muito medo, mas sinto que está sendo diferente. Ele não é o mesmo. — Suspiro. — Agora, mudando de assunto, quando começou seu lance com o Arthur? — Digo com a sobrancelha erguida.
— Bom... Começamos a nos envolver depois do seu acidente. Não é nada de mais, é só diversão. Combinamos bem na cama. Só isso. — Ela olha para minha mão. — Nossa Linda, esse biquíni é perfeito. Você tem que usar. — Ela diz mudando completamente de assunto.
Realmente aquele biquíni era lindo. A parte de cima era de cortininha na cor azul e a calcinha era com listras azul e branco, tão delicado. Retirei minha roupa ali mesmo e o coloquei. Fiquei olhando por algum tempo no espelho, admirando aquele biquíni, mas as marcas em meu corpo ficavam tão visíveis que me constrangia. Eu tinha uma dificuldade enorme em usar biquínis, gostava mais de maiôs porque escondia a maioria das minhas marcas. Mas a mala que Antony preparou não tinha nenhum maiô... Mordi o lábio, indecisa se realmente deveria sair somente com aquilo.
— Já sei o que se passa na sua cabeça, e nem pense nisso! Você está maravilhosa e ninguém reparará em suas cicatrizes. Vamos aproveitar cada minuto aqui, entendeu?
Olho para ela com as lágrimas já se formando em meus olhos.
Por que é tão difícil esquecer o passado?
Por que minha vida tem que ser assim?
Thaís se aproxima e me abraça. Me entrega uma saída de banho e me puxa em direção à porta.
— Esqueçamos o passado e vamos nos divertir, ok! Eu só vou ao banheiro primeiro. — Ela olha em meus olhos. — Você ficará bem?
— Sim. — Sussurro. — Vou te esperar la fora, com os garotos. — Ela confirma com um menear de cabeça e se afasta.
Vou para onde os rapazes estão, mas quando me aproximo, ouço um pouco da conversa e meu peito aperta dolorosamente.
— Me diz uma coisa... Esse lance entre você e a Linda tem a ver com aquela vingança? — Diz Arthur.
— Não sei do que está falando Arthur. — Fala Antony.
— Não se faça de santo Antony. Você disse que iria conquistá-la e depois partiria seu coração para ela sofrer pelo que te fez no passado. — Arthur fala sorrindo.
Mas que porra é essa?!
Meu coração erra uma batida ao ouvir do que eles falavam. Olho pelo canto da porta e Antony está pensativo. Ele não nega, apenas permanece em silêncio encarando o Arthur. Começo a sentir falta de ar...
Isso é muito para mim...
Não consigo respirar...
Coloco a mão em meu peito acelerado, meu coração parece que sairá pela boca. Foi tudo uma ilusão. Apenas mais um de seus truques sórdidos. Como pude confiar nele novamente?
Saio correndo, lágrimas começam a descer de meus olhos, embaçando minha visão. Ele fez isso tudo para se vingar de mim?! Não acredito! Ele me enganou esse tempo todo? E o pior é que ele conseguiu o que queria. Entro no bangalô, encontro Thaís saindo do banheiro.
— O que houve Linda? — Ela pega em meus braços e olha diretamente em meus olhos.
— Você estava certa Thaís! Ele me enganou esse tempo todo. Preciso ir embora daqui! — Digo colocando minhas coisas de volta na mala.
— Espera! O que aconteceu? Me conta.
— Ouvi a conversa do Arthur com o Antony. Ele disse que o Antony queria me conquistar para me magoar e vingar seu passado. Ele me enganou Thaís, era um plano desde o início. Preciso sair daqui agora! — Digo sem paciência.
— Não acredito que aquele idiota fez isso?! Vou matá-lo. — Diz Thaís indo em direção à porta.
— Por favor, não faz isso. Apenas me tira daqui, amiga. — Digo entre soluços.
— Vamos, mas quando encontrá-lo, juro que o matarei. — Ela diz. Pega suas coisas e mexe no celular, acho que está chamando um carro de aplicativo.
Saímos sem dar satisfação, não queria ver o Antony. Manterei a distância daquele idiota. Fui muito burra em acreditar que ele gostava realmente de mim. Eu nunca devia ter me entregado para ele daquele jeito. Que tonta eu fui.
O carro chega e Thaís me puxa para dentro. Em seguida, começa a fazer um carinho nos meus cabelos tentando me acalmar, mas não consigo parar de chorar. Meu mundo mais uma vez está desmoronando. Parece que meu carma nesse mundo é sofrer...
— Vamos para minha casa. — Ela diz.
Permaneço em um choro silencioso. Preciso colocar para fora toda aquela dor que dilacera meu peito. Estava sendo pior do que quando meu pai me batia, porque quando ele fazia isso logo a dor passava, e essa dor que estou sentindo agora parece que não vai acabar. Quando chegamos a casa da Thaís fui direto para o banheiro tomar um banho. Precisava de um momento só meu e aquele seria o ideal para que eu possa desabar...
Enquanto a água do chuveiro caía sobre a minha cabeça, lágrimas desciam incessantemente. Eu não podia ficar abalada daquele jeito. Eu sabia que ele era um babaca de marca maior e me deixei cair no seu golpe. Como o povo anda dizendo por aí "O golpe tá aí, cai quem quer" e eu cai feio nesse golpe do destino. Saio do banheiro e vejo minha amiga deitada sobre a cama, meus olhos estavam ardendo e minha cabeça doendo de tanto chorar. Queria apenas um pouco de sorvete e um filme de comédia romântica para poder terminar de afogar minhas mágoas.
— Seu celular não para de tocar e é o Antony. — Ela diz encarando o celular tocando sobre a cama. Logo ele para de tocar. E de repente o celular dela toca.
— Quem é Thaís?
— Arthur. Provavelmente quer saber onde estamos. Posso atender? — Ela diz.
— Atende e diz que não sabe onde estou. Não quero ver o Antony hoje.
— E você acha que ele vai acreditar?! Linda, o Antony não é bobo. — Fala já atendendo o telefone.
— Alô? Sim, ela está comigo e não quer falar com o Antony. Fala para ele dar um tempo porque ela não está disposta a falar nesse momento. — Ela dizia enquanto soltava um suspiro. — Se ele vir aqui não vou recebê-lo. Antony você é um Babaca e otário... Não acredito que você fingiu gostar da minha amiga para depois se vingar dela... Não se faça de inocente, ela ouviu você falando com o Arthur e agora ela está magoada e não quer falar com você... Por favor, não insista! Dê tempo ao tempo. Adeus Antony. — Ela desliga e me encara.
— Ele está vindo aqui? — Pergunto, já sabendo a resposta.
— Sim. Mas você não precisa recebê-lo. Você sabe né? — Thaís fala se aproximando.
— Já que não tenho muita escolha, vou pôr um fim nessa história de uma vez por todas. — Digo enquanto procuro em minha mala uma roupa para vestir.
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De repente é amor (Reescrita)
RomansaLinda é uma mulher que enfrentou muitos obstáculos no passado, mas está determinada a construir um futuro melhor para si mesma. Com um novo emprego e a oportunidade de cursar faculdade, ela acredita que finalmente deixará seu passado para trás. No...