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O cansaço tinha tomado conta do Diabo, ele era imortal, mas mesmo assim depois dos ferimentos ele não aguentou. Adormeceu por exaustão muito atordoado pelo rum que bebeu enquanto Chloe limpava e tratava a perna dele. O álcool nunca tinha feito efeito nele, esta era a primeira vez. Todas aquelas novas sensações a dor de cabeça ao acordar eram uma novidade. A maior surpresa foi encontrar a humana sentada na sua cama, encostada no apoio de mogno trabalhado, com os olhos fechados e cabelo levemente despenteado.

"Chloe?"

Ela saltou da cama, ficando de pé num ápice. Ela parecia confusa, mas recuperou a compostura. Ela ainda vestia a roupa suja que usou quando fugiu para a floresta. "Como te sentes?" Ela perguntou.

"Bem, acho eu." Ele sentou-se ainda dorido. Examinou as ligaduras e voltou a olhar para ela. "Obrigado." Havia muitas perguntas que ele gostaria de fazer, mas foi o melhor que saiu naquele momento. Ele começou a sentar-se para se levantar da cama.

"O que estás a fazer?" Ela aproximou-se dele.

"Levantar-me claro, já é dia." Ele diz.

"Não!"

"Não?" Ele olhou para ela.

"Não podes forçar a perna."

"Que disparate." Ele diz ficando de pé, mas não se suportou por muito tempo. A dor voltou com mais força do que antes. Ele gemeu.

"Eu avisei!" Ela insistiu para ele se voltar a deitar afofando várias almofadas atrás dele. Ele resignou-se. "Tens fome?" Ela pergunta. Ele concordou. "Eu vou arranjar algo." Ela diz.

"Chloe?" Ela dá um passo atrás e olha para ele. "Porque não vais embora? És livre para ir agora."

Ela dá-lhe um sorriso tímido e olha para ele por alguns segundos. "Tu precisas de mim." Foi a única coisa que ela disse antes de sair em busca de alimento.

"Não imaginas o quanto." Ele sussurra encostando a cabeça e fechando os olhos.

oOo

Ela tinha passado o dia a ler para ele e quando chegou à noite ela mudou as ligaduras. Ela olhou para si mesma. "Eu deveria me ir refrescar e mudar." Ela diz. Ainda não tinha trocado as roupas que usou na sua fuga e sentia-se muito suja, mas a necessidade de estar com o Lucifer era maior. Ela estava a abraçar a sua diferença, ela só o conseguia comparar a um adolescente cheio de energia e extremamente rebelde.

"Sim está na hora de descansares minha querida Chloe. Boa noite." Ele diz.

"Eu vou voltar." Ela diz antes de sair e a Linda entrou no mesmo momento com uma travessa com chávenas de chá e um bule cheio.

"Oh, Chloe, não ficas para um pouco de chá?" Linda pergunta.

"Hmm... eu volto já." Chloe diz antes de desaparecer no corredor.

"Senhor." Linda deixa a travessa sobre a mesa de apoio. "Como te sentes?" Ela pergunta aproximando-se e olhando melhor.

"Não me curei, mas sinto-me melhor."

"Ainda achas que é a estrela?" Linda pergunta.

"Pode ser, eu sinto-me sem tempo Linda." Ele olhou-a. "E... e se ela... eu não a quero perder."

"Ela ainda está aqui. Ainda há esperança. Porque não lhe dizes como te sentes?"

"Ela sabe que eu sou o Diabo, não a posso forçar a lidar com o que eu sinto." Ele diz.

"E se ela se sentir da mesma maneira?"

"Ela disse algo?"

"Enquanto estava na cozinha estava manhã. Ela teve um momento em que disse algo. Ela parecia à beira das lágrimas."

"O que ela disse?"

"Ela sente-se responsável pelo que te aconteceu e culpa-se pelos teus ferimentos." Linda dá um passo mais perto. "Lucifer, se ela se sentir culpada e se algo acontecer com a estrela... ela sentir-se-á tão culpada que acabará no inferno."

Ele bufou. "Ela não foi feita para o inferno, ela é tão doce e gentil."

"Mas a culpa..."

"Por cima do meu cadáver... eu vou falar com ela e explicar que não existe nada para se culpar. Ela não irá para o inferno... nunca!"

Linda concordou.

Chloe entrou no quarto cerca de 20 minutos depois, a sua pele estava limpa e a camisa de noite e um robe eram as únicas coisas que a cobriam. O seu cabelo de ouro emoldurava o seu rosto. Ele achou-a perfeita, mas não disse nada. O quarto estava em silêncio. "Estavam a falar de mim?" Ela perguntou abertamente.

"Bem, sim." O Lucifer diz. "E existe algo que temos de falar."

"Eu devo ir." A Linda sai.

Chloe morde o lábio nervosa e mexe os dedos. "Não me queres mais aqui é isso?"

"Não é isso." Ele diz rapidamente. "Porque pensas isso?"

"Depois do que a aconteceu. Foi culpa minha." Ela diz.

"Não foi culpa tua. Eu não deveria ter te mostrado daquele jeito e nunca deveria te ter deixado correr para a floresta. Tudo o que aconteceu foi culpa minha e eu não podia deixar que nada te acontecesse." Ele diz. Ela ainda parecia lutar contra as suas palavras internamente. "Chloe!" Ela olhou para ele atentamente. "Não foi culpa tua, eu queria fazê-lo e voltaria se fosse preciso."

Ela senta-se na borda da cama, o sítio que ela já praticamente podia dizer que era dela depois de o ocupar o dia todo. "Porquê?"

"Porque tu és especial amor, tu sabes disso."

Ela negou à beira das lágrimas. "Eu não sou ninguém. Tenho a certeza que na aldeia ninguém pergunta por mim, eles diziam que eu sou estranha."

Ele tocou a mão dela. "Especial, tu és incrível."

Ela sorriu timidamente, um sorriso que fazia o coração do Lucifer palpitar. "O meu pai dizia-me isso."

"Eu sei que estás triste com a morte do teu pai. Não posso dizer que me identifico a relação com o meu pai é a pior da existência, mas eu sei o que é estar sozinho." Ela olhou para ele. "Eu sei que um dia o voltarás a ver. E tenho a certeza de que ele está orgulhoso da mulher que és." As lágrimas que ela tentava conter caíram livremente e antes que ele lhe perguntasse o que tinha de errado ela abraçou-o. Isso deixou-o tenso por alguns segundos, mas ele suavizou e abraço-a sentindo o seu corpo se fundir um pouco mais no dele enquanto as lágrimas molhavam a sua camisa.

Chloe e o DiaboOnde histórias criam vida. Descubra agora