Concordei com a Samantha e abri o envelope, era uma carta de apenas uma página. Não tinha muita coisa escrita. Respirei fundo e comecei a ler a carta.
“Samantha.
Eu sei que não tenho nenhum direito em estar te escrevendo, mas eu preciso ficar em paz. Não tem nenhuma desculpa que eu possa dar para o que eu fiz contigo, eu não deveria ter te agredido e entendo o que me aconteceu, eu mereci. Mas de forma sincera, eu não sei o que me deu para te agredir daquela forma, eu não sou isso, eu juro que não sou isso. Os dias que passei no hospital me fez enxergar o que eu tinha feito, eu tentei te machucar, eu não sei o que teria acontecido contigo se a sua guarda-costas não tivesse me impedido. Eu espero que você me perdoe um dia e se isso não vier acontecer, eu sei que mereço isso. Que a sua vida seja boa e que você encontre alguém a sua altura, porque Samantha, você é uma mulher incrível. Não deixe o que eu te fiz e o que eu te falei, faça nem por um segundo você duvidar disso. Eu estou voltando para o Canadá e chegando lá, vou tirar minhas coisas do seu apartamento e sumir da sua vida de vez. Me perdoa por tudo e fique bem!
Matheus.”
Terminei de ler a carta e coloquei o papel na mesa, levantei meu rosto para ver a mulher na minha frente. Ela encarava o papel jogado na mesa sem reação alguma, coisa que eu esperava. Após alguns segundos em silêncio ela tomou a palavra.
– Eu vou ser uma pessoa muito rancorosa se eu não perdoar o que ele me fez? – Perguntou e eu neguei com a cabeça – Porque eu te juro, Lica, eu não estou nem um pouco afim de dar o meu perdão.
– É claro que não, você está no seu mais pleno direito de não perdoar depois do que ele te fez... – Falei com calma, ela suspirou cansada e segurou minha mão em cima da mesa – Você não tem que perdoar uma pessoa apenas porque ela te pediu perdão.
– Ainda bem, porque eu não sei se um dia vou conseguir perdoa-lo... – Foi sincera e eu concordei com a cabeça – Agora, por favor, bota fogo nessa desgraça de carta.
Ri e me levantei, peguei o isqueiro de cima do balcão e coloquei fogo na ponta. Cheguei próximo a pia e fiquei observando a carta se destruindo aos poucos, olhei rapidamente para a mulher que estava me tirando o folego e vi que ela também observava vidrada. Quando o fogo chegou próximo ao meu dedo, me dando um toque de que logo ela se acabaria por completo, eu já joguei dentro da pia e deixei que o fogo fizesse o seu trabalho.
– Pronto, a carta virou pó... – Disse ligando a torneira – E agora está indo para o ralo.
Ela riu e me agradeceu debochada. Não demorou muito a nossa comida chegou, comemos conversando sobre amenidades. Antes de irmos para o quarto, eu olhei mais uma vez a área a e a garagem. Eu estava me sentindo estranha, como se algo fosse acontecer e eu precisava ficar atenta em tudo.
Ela me esperava na cozinha, entrei e tranquei a porta e as janelas.
– Você bebe? – Perguntou e eu olhei pra ela.
– Às vezes, por quê?
Ela não disse nada, se levantou e foi em direção à geladeira. Abriu e pegou duas long. Se virou pra mim e deu um sorriso sapeca.
– Você toma uma comigo? – Propos.
– Não sei se eu posso... – Falei e ela veio se aproximando, passou os dedos em meu rosto e desceu a mão até meu pescoço.
– Só uma, vai?
Acabei cedendo porque Samantha conseguia tudo que queria de mim.
Ela me entregou uma e abriu a sua, fiz o mesmo e batemos uma garrafa na outra, formando um brinde.
– A nós duas.
Samantha disse sorrindo e eu concordei. Fomos para a sala e ficamos tranquilas sentadas no sofá, tinha escolhido uma playlist de música qualquer no youtube. Samantha vez ou outra cantarolava um verso, prendendo minha atenção de forma forte.
– Você canta tão bem, meu Deus! – Falei baixinho, Samantha me olhou sorrindo e continuou cantando – Tem algo que você não faça bem?
– Me deixa ver... – Fingiu pensar – Não, eu faço tudo bem.
Concordei com a cabeça e só me passava pela a cabeça roubar um beijo dela. Não pensei muito, fiz o que estava desejando. Puxei Samantha pela a nuca e coloquei nossos lábios em um beijo decidido, posso até dizer cheio de sentimentos, esses que me parece ser recíproco, mesmo nós duas não sabendo o que significa.
A música que começou a tocar no aleatório do youtube, eu conhecia bem e Samantha começou a cantar olhando pra mim. Meu coração acelerou me fazendo acreditar que talvez ela estivesse cantando pra mim.
“I hate it when dudes try to chase me
But I love it when you try to save me
‘Cause I’m just a lady
I love it when we play 1950
It’s so cold that your stare’s ‘bout to kill me
I’m surprised when you kiss me”
– Eu odeio quando os caras tentam me perseguir, mas eu amo quando você tenta me salvar porque eu sou apenas uma garota. Eu amo quando nós tocamos 1950, está tão frio que seu olhar está prestes a me matar, fico surpresa quando você me beija...
Cantou me olhando nos olhos e eu sustentei isso até o fim. Respirei fundo e cantei o próximo verso.
“So tell me why my gods look like you
And tell me why It’s wrong
So I’ll wait for you, I’ll pray
I will keep on waiting for your love
For you, I’ll wait
I will keep on waiting for you”
– Então me diga o porquê dos meus deuses se parecerem com você e me diga o porquê disso estar errado. Então eu esperarei por você, eu rezarei, eu continuarei esperando por seu amor. Por você, eu esperarei, eu continuarei esperando por seu.
Ela escutou sorrindo e se aproximou aos poucos, nossos rostos estavam quase colados.
“Did you mean it when you said I was pretty?
That you didn’t wanna live in a city
Where the people are shitty?”
– Você estava falando sério quando disse que eu era bonita? Que você não queria viver em uma cidade que as pessoas são uma merda? – Alcançou minha mão.
Soltei minha garrafa de cereja vazia não me importando se ela cairia do sofá ou se fosse se quebrar.
““So tell me why my gods look like you
And tell me why It’s wrong”
– Então me diga o porquê dos meus deuses se parecem com você e me diga o porquê disso estar errado.
Se essa música demorasse muito pra acabar eu não ia ter paciência para esperar. Na verdade eu teria, se ela cantasse pra mim.
“So I’ll wait for you, I’ll pray
I will keep on waiting for your love
For you, I’ll wait
I will keep on waiting for you”
– Então eu esperarei por você, eu rezarei, eu continuarei esperando por seu amor. Por você, eu esperarei, eu continuarei esperando por seu.
A música estava acabando e a vontade de tê-la pra mim apenas aumentando.
“I hope that you’re happy with me in your life
I hope that you won’t slip away in the night”
– Eu espero que você esteja feliz comigo na sua vida, eu espero que você não fuja essa noite.
Passei a ponta dos meus dedos em sua bochecha e ela terminou de cantar antes que eu a beijasse.
“I hope that you’re happy with me in your life
I hope that you won’t slip away…”
– Eu espero que você esteja feliz comigo na sua vida, eu espero que você não fuja...
Busquei sua boca com urgência e Samantha logo subiu em meu colo. Não sabíamos que horas eram e nem quantas cervejas tínhamos bebido ao todo, só sabíamos do desejo forte uma pela a outra e decidimos nos entregar mais uma vez.
04h12.
Acordei com um barulho vindo do primeiro andar, Samantha ainda estava dormindo. Me sentei na cama e liguei o abajur, fiquei em silêncio pra ver se escutava mais alguma coisa até que o barulho se repetir. Fiquei em alerta e me levantei da cama, vesti minhas roupas que estavam no chão e fui até a minha arma que estava guardada dentro de sua maleta. Samantha acordou com o segundo barulho e falou baixinho comigo.
– É aqui? – Perguntou e eu fiz que sim com a cabeça – Meu deus do céu.
Começou a se desesperar e eu me abaixei perto dela.
– Eu preciso que você fique calma, você pode fazer isso por mim? – Perguntei baixo e docemente, ele acenou com a cabeça algumas vezes, concordando – Eu vou descer pra ver o que é e em hipótese alguma você saía desse quarto, tá me entendendo?
– É muito perigoso, Lica... – Ela falou baixo e eu dei só um sorriso – Sério.
– Você não tem que se preocupar comigo e sim em você, então eu vou repetir, não saía desse quarto de forma nenhuma. – Falei firme – E se eu não voltar em vinte minutos, liga para a policia, Ricardo ou o caralho a quatro e se esconda no banheiro.
Samantha concordou rapidamente, segurou meu rosto com as duas mãos e me deu um beijo rápido. Correspondi e sorri após isso.
– Toma cuidado, Lica.. . – Pediu e eu concordei.
– Eu volto logo, prometo.
Uma das coisas que eu aprendi nesse trabalho é que você não pode prometer nada, porque você não tem garantias. Mas eu não conseguiria sair desse quarto se eu não prometesse que voltaria pra Samantha e eu iria cumprir, de uma forma ou de outra.
Respirei fundo e segurei a arma com cuidado, abri a porta o mais devagar possível para não fazer barulho.
A única luz que estava acesa era a da sala e eu já não conseguia ouvir mais nada, parte de mim pedia pra que quem quer que fosse já tivesse ido embora e outra parte de mim estava com medo, não por mim, eu já tinha desistido de sentir isso por mim, mas eu estava com medo do que poderia acontecer a Samantha caso eu falhasse.
Comecei a descer a escada, degrau por degrau, tomando cuidado para não fazer nenhum barulho. Quando desci o último degrau vi que a porta estava aberta.
Dei dois passos pra frente e antes que eu pudesse chegar até a porta, senti dois braços me envolvendo por trás. Um se fechou contra meu pescoço e outro segurou minha mão, a que estava com a arma. Ele tentou me fazer solta-la, mas eu não permiti. Impulsionei meu corpo para trás com toda força que tinha e fiz a pessoa que estava me segurando bater com as costas na parede.
Disferi algumas cotoveladas em quer que fosse e consegui me soltar. Mas da mesma forma que eu tinha me libertado de seus braços, ele também estava livre. Virei-me e ele disferiu alguns socos nada gentis em meu rosto, cambaleei para trás com os golpes.
Ele veio pra cima com a intenção de me atingir mais algumas vezes e eu instintivamente, atingi seu rosto com a coronha da arma em seu rosto, uma vez, duas vezes e na terceira vez, chutei sua barriga, forçando-o a ir para trás.
No mesmo segundo ele veio pra cima mais uma vez, tentou atingir meu rosto de novo e eu segurei seu braço, desferindo após isso alguns socos em sua costela. Ele tentou se defender dos socos e deu uma cabeçada em meu rosto. Senti meu nariz quebrar e dor veio de uma vez, mas eu não tinha tempo para isso.
Empurrei ele em direção contra a parede com toda a força que tinha e mais uma vez chutei sua barriga, ele se desequilibrou e caiu deitado no chão. Antes que ele conseguisse se levantar, me sentei em sua barriga e desferi socos até o mesmo desmaiar com as pancadas.
Saí de cima dele e subi as escadas e bati na porta do meu quarto.
– Samantha?
A chamei e não ouvi nada por alguns segundos até a porta destrancar e abrir. Ela pulou em meus braços e me abraçou com força.
– Ai meu Deus, você está bem.
Abracei-a de volta com a mesma força.
– Eu estou adorando esse abraço, mas eu preciso voltar lá pra baixo.
Ela me soltou e riu, desceu comigo as escadas e encontramos o rapaz ainda no chão. Tirei a mascará que cobria seu rosto. Era um rapaz novo, por volta dos seus vinte e dois anos, aí de cima dele e liguei para a polícia.
Fui até o deposito que ficava junto com a cozinha e procurei algumas cordas que pudesse usar. Assim que as achei, voltei até o rapaz e o prendi de uma forma. Amarrei seus braços por trás de suas costas e ainda o amarrei na escada, ele não teria como fugir quando acordasse.
Samantha se aproximou com calma após eu amarra-lo e passou a mão em meu rosto. Eu estava começando a sentir dor de novo, porque a adrenalina tinha passado.
– Você tá machucada, Lica... – Falou olhando meus cortes no rosto e passou o dedo com delicadeza em meu nariz, fiz uma careta porque qualquer coisa encostando o fazia doer – Você quebrou o nariz.
– Faz parte... – Dei de ombros e a vi revirar os olhos.
– Me deixa pelo menos eu cuidar de você, ok? – Pediu e eu concordei com a cabeça.
Eu não era nem louca de negar isso, porque eu estava mesmo precisando de alguns cuidados e principalmente se eles fossem os dela.
Eu não negaria de forma nenhuma.▪︎▪︎▪︎
Eu gosto que começo o capítulo com aquela carta ridícula do Matheus, aí faço ficar algo soft e gostoso para no final, ser essa coisa aí.
As partes em itálico/negrito são da música 1950, King Princess, desde que ouvi pela a primeira vez, eu quis por ela aqui na história.
Eu estou apaixonado na Lica, queria essa mulher pra mim, de verdade.
O que você estão achando até aqui? Eu gostaria muito que vocês me dessem um feedback. E estamos próximos do fim dessa história louca, talvez teremos apenas mais cinco capítulos.
Obrigado a todos os comentários, votos e a todos vocês que sempre estão aqui comigo, comprando minhas ideias loucas.
Vocês são muito importante pra mim, de verdade! 🌈
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A Guarda-Costas
ФанфикSamantha, filha da nova presidente do Brasil, é obrigada a aceitar um guarda-costas após ataques e ameaças contra si. Ela espera um tipo de pessoa, mas ao encontrar outra totalmente diferente, qual será a sua reação? É possível um amor nascer disso...