Chapter Twenty-Six

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– Eu tirei foto dos comprovantes e também das mensagens... – Ele ficou inquieto – Em algumas dessas mensagens, a pessoa com quem ele conversava, cita vocês duas e diz que quer vocês... – Eric parou por alguns segundos e depois a frase – Mortas.
 
Senti meu estomago embrulhar e eu entendi a sensação estranha que estava sentindo desde que vi Ricardo. Olhei pra Lica que tinha no rosto uma expressão estranha, apertei sua mão, fazendo-a olhar pra mim após isso.
 
Ela não disse nada, respirou fundo e virou seu rosto para o Eric.
 
– Nós podemos ler essas mensagens e ver os comprovantes dos depósitos? – Ela perguntou e ele prontamente disse sim.
 
Pediu um segundo apenas para ir buscar seu celular dentro da casa. Em seu rosto estava estampado chateação, eu imaginava que seria duro pra ela encarar a verdade dolorosa.
 
– Eu não quero acreditar nisso, Samantha... – Ela se lamentou.
 
Eu ia dizer que sabia disso, mas Eric voltou e eu preferi não dizer nada. Ele se sentou no mesmo lugar e entregou pra Lica o celular desbloqueado em algumas fotos.
 
Ela deixou o celular visível para eu ler e ver tudo. Tinha mensagens desde o dia que Matheus foi preso.
 
Número Desconhecido: Eu tenho três serviços pra você.
Ricardo: Quais?
Número Desconhecido: Primeiro deles, minta para as duas vadiazinhas que o noivinho pagou a fiança e está livre. Segundo, escreva uma carta falsa como se ele pedisse desculpas pelo o que causou, mas não seja nada sincero, eu quero que elas duvidem das intenções dele.
Número Desconhecido: Terceiro e mais importante, eu quero as duas mortas essa madrugada, não me importo da forma que for, eu só quero que elas parem de respirar, por tanto, contrate alguém que consiga fazer esse serviço.
Ricardo: O nosso combinado era só a Samantha, você não tinha me dito que a pessoa que estivesse trabalhando pra ela também teria que morrer.
Número Desconhecido: O combinado é o que eu quiser, apenas faça o que eu mando.
Ricardo: Ok, Senhor.
 
– Que filho da puta... – Lica rosnou – Ele só não sabia de tudo o tempo todo, como estava planejando tudo.
 
Concordei com a cabeça, eu não queria dizer nada, não tinha garganta pra isso, apenas queria terminar de ler essas mensagens e pensar no que fazer a partir de agora.
 
Número Desconhecido: Você fez tudo dar errado no exato momento em que contratou aquela desgraça pra fazer um serviço fácil. Agora que as duas estão longe, deixe-as pensam que estão a salvo e depois contrate outra pessoa pra fazer o que já era pra ter acontecido. Eu quero que a Manuela se sinta tão destruída que não consiga seguir em frente, por isso quero as duas mortas antes de acabar o mês, tá entendido?”
Ricardo: Sim, Senhor, eu não vou te decepcionar dessa vez.
Número Desconhecido: Você sabe muito bem o que vai acontecer se você falhar de novo.
Ricardo: Pode confiar em mim, até o final do mês elas estarão mortas.
 
– O Ricardo sabe ou imagina que você viu essas mensagens e os comprovantes? – Lica perguntou e Eric negou.
 
– Não, mas quando terminei, deixei claro que sabia que ele estava se envolvendo em coisas perigosas e extremamente ilegais... – Disse com um olhar distante, como se lembrasse do momento que isso aconteceu – Ele ficou inquieto e disse que era coisa da minha cabeça, que ele nunca se envolveria em nada ilegal.
 
– Você chegou a comentar que nós nos tornamos amigos? – Eu perguntei, ele me olhou e negou mais uma vez.
 
– Também não, porque no dia que vocês chegaram aqui, eu conversei com o Ricardo e ele me disse que não era para tentar fazer amizade com vocês... – Ele disse – Não fiz o que ele pediu, mas nunca disse isso a ele.
 
Lica agradeceu e voltou a ler as últimas conversas.
 
– Essa conversa é de ontem... – Falei olhando a data.
 
Número Desconhecido: O mês está acabando e nada de você fazer o que eu mandei.
Ricardo: Já está tudo organizado, Senhor, amanhã elas estarão mortas.
 
– Seja lá o que a gente for fazer, devemos fazer agora... – Falei aflita.
 
– Eu estou pensando no que fazer.
 
Lica disse, depois passou a foto, era um dos dois comprovantes. O nome da pessoa que mandou era estranho e não me trazia lembrança de ninguém. Ela passou a foto de novo e era o último.
 
– Ele ganhou quinhentos e cinquenta mil para acabar contigo, Sammy... – Ela disse, sentia que ela estava chateada e eu entendia perfeitamente.
 
– Bom, estamos quase nos afundando na merda, mas vamos nos agarrar em um pingo de esperança? – Perguntei e os dois me olharam – O Ricardo nem imagina que nós sabemos disso tudo.
 
– É verdade e ele se acha muito inteligente, mas começou errando ao conversar com o mandante pelo celular e principalmente em deixar as mensagens salvas.
 
– Vamos combinar que nem o outro lá é tão inteligente assim, né? – Eu falei e os dois riram, concordando comigo.
 
– É questão de dias para descobrirmos o mandante disso tudo assim que Ricardo cair.
 
– E o que vocês vão fazer? – Eric perguntou.
 
Lica respirou fundo e ficou em silêncio por alguns segundos, se ajeitou na cadeira.
 
– A nossa melhor opção é ir na polícia, agora sabendo disso tudo e que ele esta ajudando quem quer que seja, eu tenho certeza que ele nunca foi na polícia em nenhum momento e que eles não fazem ideia do que está acontecendo. Então assim que entregarmos essas provas, contarmos tudo aos policiais e ele for detido, nós vamos até a sua mãe... – Lica disse e eu concordei – Ela é outra pessoa vítima dessa história e não sabe.
 
– Será que só isso é o suficiente? – Perguntei com receio.
 
– As mensagens e os dois comprovantes são mais que claros e... – Eric interrompeu nós duas.
 
– Eu esqueci de mencionar, mas eu também tirei uma foto do número da pessoa e salvei no meu bloco de notas... – Abri um sorriso – Não sei se isso ajuda, mas fiz.
 
– Ajuda e muito, cara... – Lica disse – A polícia pode rastrear o número e assim chegar na pessoa.
 
– Mas e se for daqueles telefones que não podem ser rastreados? – Ele perguntou.
 
– Esses telefones que você citou são totalmente simples, apenas para ligações e como eles conversaram pelo aplicativo de mensagem, é totalmente possível de rastrear.
 
– Então as horas do Ricardo estão contados? – Perguntei e Lica concordou.
 
– Podemos dizer que sim. – Ela piscou – Eric, eu não quero abusar da sua boa vontade já que você já ajudou demais e sem ter que fazer isso, mas você poderia nos levar até uma delegacia lá na cidade?
 
Ele revirou os olhos, mas acabou sorrindo depois.
 
– É meio óbvio que sim, garota... – Ele riu – Eu não sabia que o Ricardo seria capaz disso, mas agora que sei, quero que ele pague. E se eu puder ajudar mais pra que isso aconteça, estou disposto.
 
Após agradecermos, Lica se virou pra mim e me viu um pouco nervosa. Abriu um sorriso doce e segurou minha mão.
 
– Vai ficar tudo bem, Sammy... – Ela disse com o sorriso nos lábios, embora ele fosse verdadeiro, eu sentia uma pontinha de tristeza nele – Confia em mim?
 
Fiz que sim com a cabeça, eu confiava de olhos fechados. Aproximei meu rosto do seu e fiz o que queria, colei nossos lábios em um beijo calmo. Não me importei com Eric vendo, eu apenas queria mostrar pra Lica que confiava plenamente nela. Após quebramos o beijo, nos olhamos e Lica falou para Eric.
 
– Nós vamos lá na cabana ligar as câmeras que instalamos e deixar o carro no mesmo lugar, não quero que ele descubra tão rápido que não estamos na cabana. – Ela disse e ele concordou – Você pega a gente lá?
 
Ele disse que sim e com isso nos levantamos. A volta para a cabana foi difícil, parte de mim me dizia que ele já estaria esperando nós duas lá e outra parte dizia para eu parar de ser tão medrosa. Quando paramos em frente a cabana, Lica me olhou e pediu que eu ficasse aqui dentro do carro e que ela voltaria em cinco minutos.
 
– Mas não temos que ficar juntas? – Perguntei aflita e ela sorriu.
 
– O melhor lugar pra você ficar é aqui dentro do carro trancada... – Disse – Eu prometo que volto em cinco minutos.
 
Concordei com a cabeça mesmo que isso não fosse meu desejo e ela saiu do carro, tranquei ele na mesma hora. Foi até a pequena entrada e encontrou a câmera escondida, ligou e voltou ela para o mesmo lugar. Destrancou a porta e sumiu de minhas vistas.
 
Os cinco minutos que fiquei sozinha naquele carro pareciam horas, só me dei conta de que estava prendendo o ar quando vi Lica sair pela a porta e a trancar. Ela desceu o degrau e veio em minha direção. Nossos olhares se conectaram e eu sorri sem perceber.
 
– Sammy, eu trouxe esse par de roupas pra você... – Disse assim que entrou no carro – Veste aí enquanto o Eric não para aqui do nosso lado – Eu coloquei os travesseiros e nossas roupas em cima da cama e de baixo do cobertor como se tivéssemos deitadas lá, sempre vi em filmes e achei que seria bom testar.
 
Ri do que ela disse e me vesti o mais rápido possível, Eric parou do nosso lado do carro quase um minuto depois. Descemos e entramos em seu carro.
 
Na viagem de volta para a cidade não trocamos nenhuma palavra entre nós três, o que dava uma amenizada no silêncio era a música baixa tocando no som do carro. A falta de trocas de palavras entre nós não era desconfortável, sabíamos que era necessário e que não tínhamos sobre o que falar, cada um de nós estávamos abalados de alguma forma. Eu estava com a minha cabeça escorada no ombro de Lica, enquanto fazia um carinho despretensioso em minha perna. Suspirei um pouco alto demais sem querer e ela voltou sua atenção pra mim, segurou uma de minhas mãos e falou.
 
– Tudo bem? – Lica perguntou baixinho e eu levantei meu rosto para olhá-la – Sua mão tá quase uma poça d’água.
 
– Eu estou nervosa, com medo de isso não dar certo e... – Suspirei – Eu nem sei.
 
– Vai dar certo... – Ela disse e apertou minha mão com delicadeza – E daqui um tempo nós duas estaremos rindo ao lembrar dessa história.
 
– Lá no Canadá? – Perguntei e ela riu baixo.
 
– Aonde você quiser, Sammy... – Ela disse, me fazendo sorrir – Como diria The Calling: pra tão longe ou tão perto, eu vou pra onde você for.
 
– Então nós vamos percorrer esse mundo inteiro... – Falei baixinho, como se isso fosse um segredo e talvez era, aquela história de que quanto menos pessoa souber, mais chances de dar certo é verdadeira.
 
Ela riu e concordou com a cabeça, apertei sua mão e vi que por alguns segundos eu tinha esquecido do que estava acontecendo.
 
– Eu queria ter te conhecido de outra forma, sabe? – Suspirei – Sei lá, em um restaurante, em alguma esquina ou até mesmo em alguma rua no Canadá.
 
– Eu também queria, Sammy, mas que bom que nós nos encontramos, independente da circunstância... – Ela sorriu – E como eu disse, daqui um tempo nós vamos estar rindo disso tudo.
 
Deixou um beijo em meu rosto, sorri com o gesto e novamente encostei minha cabeça em seu ombro. Depois de um tempo chegamos na delegacia, onde iríamos expor as provas e mostrar que Ricardo sabia quem estava por trás de tudo e além do mais, estava trabalhando pra pessoa.
 
– Tá pronta? – Ela perguntou.
 
– Sim.
 
– Vocês querem que vá também? – Ele perguntou assim que estacionou o carro.
 
– Por favor! – Pedi e ele sorriu.
 
Descemos do carro, acompanhadas de Eric. Fizemos o caminho até a entrada da delegacia e eu sentia meu coração quase saindo pela a boca, ainda bem que eu tinha a mão de Lica na minha me puxando para a realidade.
 
Passamos pela a porta e vimos alguns policiais trabalhando, algumas pessoas acompanhando outras e atrás de um balcão, uma policial que estava nos olhando de uma forma atenciosa. Olhei pra Lica e antes que pudesse perguntar “e agora?”, ela respirou fundo e me olhou.
 
– E se eu disser que encontrei uma ex colega de exército? – Ela perguntou – A moça que está atrás do balcão da recepção serviu comigo, mas saiu um ano e pouco antes de mim.
 
– Vamos lá falar com ela então? – Perguntei e ela fez que sim com a cabeça.
 
Fomos até a moça que sorriu e cumprimentou Lica, elas trocaram algumas palavras do tipo “nossa, quanto tempo" e “eu não sabia que você tinha se tornado policial” e depois chegamos ao fatídico assunto. Lica explicou como tudo começou, contou sobre quando foi trabalhar comigo, sobre Matheus, sobre o cara que entrou em minha casa de madrugada e também sobre nossa ida para a cabana.
 
– Saímos da cabana e viemos aqui após descobrirmos que o Ricardo está envolvido em tudo, ele recebeu quinhentos e cinquenta mil reais para acabar com a Samantha e de quebra comigo. – Lica disse e entregou o celular do Eric para a policial – Aqui estão as provas, as fotos das mensagens e dos dois depósitos.
 
A policial leu tudo e começaram a tentativa de rastrear o número. Ficamos quase trinta minutos esperando e quando finalmente terminou, outro policial veio falar com nós quatro.
 
– Nós não conseguimos rastrear esse número, por isso só temos uma opção válida aqui nesse caso, ele provavelmente deve ter destruído o chip... – O policial disse.
 
– E agora? – Perguntei.
 
– Agora nós vamos emitir um mandado de busca para o Ricardo... – A policial respondeu – O mandado de busca é para olharmos o celular, contas bancárias e também em sua casa. Quem de vocês irão me passar o endereço?
 
Eric disse que poderia ser ele pois sabia de cor o nome de sua rua, prédio e número de apartamento. A policial anotou tudo e convocou outros três policiais para acompanha-la na busca e prisão. Pegou o número de Eric para quando prendesse Ricardo, ela ligaria avisando.
 
– Vocês tem algum lugar seguro para ficarem? – Olhei pra Lica.
 
– Nós podemos ficar em algum hotel, sei lá... – Ela cruzou os braços.
 
– Ok, eu manterei contato.
 
Nós nos despedimos da policial e saímos da delegacia, aquela sensação estranha tinha voltado e Lica percebeu que eu não estava bem. Me abraçou de lado e foi caminhando calmamente comigo até o carro.
 
– Eric, você está com o cartão que a minha mãe disponibilizou? – Eu perguntei.
 
– Estou... – Pegou sua carteira do bolso e pegou o cartão.
 
– Vamos usar ele pra pagar o hotel? – Perguntei e Lica negou.
 
– Não, nós vamos usar ele pra sacar uma quantia em algum caixa eletrônico bem longe daqui e depois vamos pagar um hotel no caminho contrário com dinheiro vivo... – Ela disse e eu concordei – Ricardo pode estar de olho no extrato do cartão.
 
Combinamos que pegaríamos o dinheiro em um shopping que é próximo a saída de Brasília. Eric parou rapidamente em um posto de gasolina e encheu seu tanque, comprou água e uma barra de chocolate, que não durou nem 10 minutos comigo. Fomos até o shopping que ele tinha dito e ele que foi resolver isso, demorou mais que vinte minutos e voltou com dois mil reais. Entrou no carro e me entregou uma carteira com o dinheiro.
 
– O máximo que pude sacar foi dois mil reais... – Ele disse enquanto dava partida no carro – Se precisarmos de mais, eu tenho aqui.
 
– Obrigada. – Agradeci.
 
Seguimos o caminho contrário e após um bom tempo andando de carro por Brasília, encontramos um hotel simples, mas que serviria bem. Ele estacionou o carro e nós descemos, entramos pelo saguão do hotel e fomos até a recepção.
 
– Oi, boa tarde... – Fui educada – Eu gostaria de um quarto com uma cama de casal e outra de solteiro... – Fui falando e olhando para os dois que concordaram.
 
A moça sorriu e nos entregou a chave do quarto vinte e nove. Agradecemos após pagar e fomos para o andar do nosso quarto usando o elevador do hotel. Chegamos na porta do quarto e eu destranquei, entramos um por um. Era um quarto bonito, organizado e bem limpo. As duas camas eram próximas e a roupa de cama eram brancas com alguns detalhes na cor azul.
 
 
Eu não estava me sentindo tão cansada, mas meu corpo estava extremamente pesado, como se tivesse algo fazendo ele ficar desta forma. Penso que pode ser o nervosismo, a aflição e principalmente o medo de dar tudo errado. Me sentei na cama de casal e Lica se sentou no seu lado, atrás de mim, senti suas mãos segurando meus ombros e me guiando para deitar. Fiz o que ela queria e fiquei com a cabeça em suas pernas, suas mãos iniciaram um carinho lento e delicado em meu cabelo, fechei meus olhos afim de aproveitar tudo e acabei adormecendo.
 
20h43.
 
Acordei com um barulho muito alto e próximo de celular, abri meus olhos meio atordoada e sem saber onde estava, olhei em volta e encontrei Lica sentada na cama de Eric atendendo o celular. Na mesma hora me lembrei do que estávamos esperando, me sentei de qualquer jeito na cama e fiz um esforço tremendo para me manter focada no que ela iria falar. Lica colocou no viva voz.
 
– Heloísa? – Ela disse que sim e a voz do outro lado continuou, eu sabia que era da policial – Acabamos de prender o Ricardo, tudo que vocês me mostraram estavam no celular dele e encontramos também mais dois comprovantes de depósitos, um de ontem e outro de hoje de manhã... – Ela deu uma pausa e depois voltou – Nós vamos interroga-lo e depois ele será encaminhado para a prisão, onde aguardará o julgamento e a pena.
 
Eu queria me sentir contente e aliviada porque Ricardo foi preso e logo saberíamos o nome do mandante de tudo isso, mas eu não conseguia, pelo menos ainda não. Nada o impede o mandante arrumar outra pessoa pra continuar o trabalho e quem sabe até concluir.
 
– Por enquanto é isso, ele já está sendo levado para a sala de interrogatório e quando soubermos de algo, eu volto a ligar pra vocês, ok?
 
Lica agradeceu e desligou o telefone, ela me olhou e eu vi que ela também não estava aliviada da forma que deveríamos estar.
 
– Só nos resta esperar mais um pouco... – Ela disse e eu concordei.
 
Lica se levantou e veio se sentar do meu lado, encostei meu braço no dela e apoiei meu corpo. No momento eu só queria a minha mãe, mas o quão arriscado seria ir lá?
 
– Você acha muito arriscado ir até minha casa? – Eu perguntei e Lica suspirou.
 
– Um pouco, mas nada que a gente não consiga resolver depois. – Ela sorriu – Não acredito que o Ricardo tenha pessoas vigiando a casa, nós não estamos lá e outra, agora que ele deve estar sabendo que entregamos ele, como ele avisaria alguém?
 
– Mas e se tiver? – Perguntei.
 
– Eu vou arrebentar na portada. – Ela disse firme, sei que não é o momento, mas eu tremi na base.
 
Eric que até então estava calado, se levantou e foi até a porta.
 
– O meu porta malas é espaçoso, próximo da sua casa, Samantha, vocês entram nele e eu chego lá sozinho, converso com ela da forma mais discreta possível e pensamos num jeito de colocar vocês lá dentro sem serem vistas... – Ele disse, Lica riu – Eu vejo filme de ação e já vi isso num filme, não sei se vai dar certo, mas é melhor tentar.
 
Lica se levantou e estendeu sua mão pra om, a segurei e levantei. Saímos os três do quarto e fomos até o carro de Ricardo, entramos e ele deu partida. Eu fui explicando até cinco ruas de minha casa, que foi quando eu e Lica passamos para o porta malas, não era a coisa mais desconfortável do mundo, mas também não era legal.
 
Os movimentos começaram de novo e após alguns minutos pararam, escutamos a porta abrir e fechar e mais nada além de silêncio. Minha rua era calma e não tinha muito movimento de carros. Não sabemos contar quantos minutos ficamos sem saber o que estava acontecendo até escutarmos a porta abrir, fechar e o carro se movimentar de novo. Eu estava quase deitada em cima da Lica e ela, eu já conhecia, quando ela me sentia nervosa, sua primeira ação era fazer um carinho na minha perna ou nas minhas costas e agora ela estava com a mão por dentro de minha blusa, acariciando minhas costas delicadamente.
 
Dei um sorriso ao pensar nisso e automaticamente comecei a me acalmar. O meu peito foi ficando mais calmo que nem percebi o carro parar mais uma vez, só entendi que isso tinha acontecido ao escutar a porra bater e poucos segundos depois, o Eric abrir o porta malas.
 
– Vem, meninas... – Ele disse estendendo a mão para nós duas.
 
Segurei sua mão e ele me ajudou a sair, logo depois a Lica. Antes que eu pudesse olhar ao redor e ter certeza que era minha casa, escutei a voz emocionada de minha mãe. Procurei sua voz e a vi vindo em minha direção. Dei alguns poucos passos encurtando nossa distância e me deixei ser envolvida pelo o seu abraço acolhedor.
 
Nos abraçamos algumas vezes até nos soltarmos de verdade, ela cumprimentou Lica com um abraço e após isso, fomos para dentro. A casa continuava a mesma coisa, tirando a sala, que agora tinha uma longa e cinza cortina na janela.
 
– Eu fiquei um pouco paranoica, acreditando que alguém estava vigiando que decidi por essa cortina... – Ela falou enquanto nós nos sentávamos no sofá.
 
– Melhor coisa que você poderia ter feito, Senhora. – Lica disse e sorriu.
 
– Me chama de Manuela ou Manu, meu amor... – Ela sorriu e Lica concordou com a cabeça – O Ricardo não me avisou que vocês estariam vindo pra cá hoje.
 
– Então, se prepara porque temos que te contar algo relacionado a ele.
 
Falei e ela me olhou um pouco confusa, respirei fundo e olhei pra Lica pra que ela falasse.
 
– O Ricardo foi preso... – Minha mãe abriu a boca chocada – Ele estava trabalhando com a pessoa que quer a gente, como posso dizer, mortas.
 
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Oi, hoje é o meu aniversário 🧡

E o próximo é o penúltimo.

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