Capitulo 20

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Estava faminta e sem saber exatamente onde estava, despertei quase perto do fim do sábado, passava das seis da tarde. Fui até a cozinha e logo a ficha caiu, droga aquilo não era mais uma cozinha, sem fogão, sem geladeira, os armários estavam vazios e foi difícil encarar novamente aquela realidade. Perguntei-me o que eu estava fazendo ali? Novamente sem casa, sem eira e nem beira. Que vida era essa que eu teimava em ter? Porque estas situações são tão recorrentes na minha jornada? O que eu ainda não aprendi?

Fui tomada novamente por aquela estranha sensação de abandono que eu conhecia bem. A casa estava quase que vazia, minha mãe havia deixado somente o meu quarto e o do Rodrigo. A casa tornou-se gigante, porém cheia de fantasmas e o silêncio tornava tudo maior do que realmente era. Voltei ao meu quarto e revisitando as palavras escritas nas paredes, vi que nada era tão difícil que não possa ser superado e fiz uma promessa a mim mesma , de que não mais iria passar por essa situação novamente. Era chegada a hora de ter o meu espaço, o meu canto!

As lagrimas rolaram em minha face e essa sensação de vazio se agigantou-se, chorei, chorei feito criança, as lagrimas inundavam minha alma, a cabeça doía e meu corpo ainda em fúria com as lembranças que tudo que vivi e a minha imaginação que me fazia pensar na Helô nos braços de outro, as meninas tendo novas referencias, um novo pai e  rico e cheio de possibilidades, podendo dar a elas conforto, viagens e passeios que certamente as fariam gostar dele. Ele poderia oferecer tudo aquilo que certamente eu não poderia, e mesmo que pudesse, isso nunca me foi importante, bens materiais não compra sentimentos ou será que estou errada?

Eu era nada diante deste meu oponente. Eu precisava me curar de tudo em especial de mim, se é que essa cura de existir seja possível! Caminhei até a sala e lembrei de uma garrafa de Gin que havia ficado no meu carro, corri até a garagem e em posse dela virei goles, goles, goles até apagar ali mesmo na sala, essa realidade estava muito além das minha compreensão por ora. Desliguei deste mundo ao qual o amor parece não ser importante, importante são as regras e dogmas impostos por essa sociedade burguesa e patriarcal.

Não sei por quanto tempo apaguei, despertei quando sentia uns tapas e ao abri os olhos era meu irmão gritando:

_ Acorda, acorda, você está louca!

Senti a água gelada tocando meu corpo e senti vergonha de mim, eu não conseguia abrir os olhos e encará-lo. Novamente eu estava no fundo do poço e desta vez sem lugar para ficar. O Rodrigo com toda razão resolveu me passar o sermão da montanha, falou da importância da família, da responsabilidade de ser mãe, como se eu fosse irresponsável, não suportando mais aquilo tudo, disse:

_ Chega por favor, não preciso ouvir isso. Quem você acha que eu sou? Uma destruidora de famílias felizes? Você acha que não entrei em parafuso quando percebi o que estava acontecendo entre mim e a Helô? Você acha que não pensei na segurança e na vida que ela tinha? Nas Meninas? Delas crescerem longe do Pai? Justamente nós que perdemos o nosso tão cedo e sabemos do tamanho desta dor ? Você acha que não lutei contra esse amor? Que não relutei? Que não fugi, mas não adiantou. Ela me quis antes de tudo!

_ Calma Fê!

_ Calma? Pare de me julgar, me respeita. Que monstro você acha que eu sou? A gente não escolhe quem amar Rodrigo! Você acaba de se casar e logo terá sua família e entenderá isso. Meu amor por aquelas três parece vir de outras vidas. Eu estou destruída e jamais desejaria para alguém a dor que sinto aqui dentro. Estou cansada de tudo isso!

Peguei minha mochila, coloquei umas roupas e dirigi sem paradeiro, vaguei por horas sem ter para onde ir e isso é desesperador para qualquer pessoa. O rádio parecia querer terminar a tragédia que se apresentava diante de mim, tocava um cd que eu havia gravado para a Helô, para ouvirmos em nossa primeira ida juntas á praia. Isso aconteceu no aniversário dela, passamos o dia na praia e a trilha sonora foi perfeita. Tudo me trazia ela, eu amava demais essa mulher e isso estava além do meu controle.

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