Os dias foram transcorrendo e a minha saudade só crescia, o silêncio imposto pela distância estava me matando, daria o que preciso fosse para saber o que se passava pela cabeça da Helô, por mais calma e compreensiva que eu tentasse estar, não conseguia entender os motivos deste silêncio. Um abismo estava sendo instalando entre nós. Talvez ela estivesse tentando calar seus sentimentos e até que era compreensível isso tudo.
A semana estava por findar era quinta feira e eu estava quase enlouquecendo, num rompante, perto da hora do almoço peguei uma das meninas que tinha carro no batalhão e resolvi almoçar na Escolinha, não deu nem tempo de tirar o uniforme, também não liguei, quis fazer uma surpresa, criar alardes, vai que eu não conseguia fugir.
Toquei o interfone e foi a Helô quem atendeu, me identifiquei como um mãe que estava em busca de informações e gostaria de conhecer a escola. Assim que ela abriu o portão ao me ver ficou visivelmente surpresa e me abraçou longamente, eu só pude retribuir aquele abraço caloroso e muito desejado. Fomos trazidas de volta à realidade pela minha colega que sem compreender o que estava acontecendo perguntou:
- Fernanda será que nós podemos entrar?
Foi a Helô quem respondeu com a voz embargada.
- Por favor, entrem meninas. Que surpresa maravilhosa recebê-las aqui. Deixa eu te olhar Fê.
Estávamos paradas na secretaria e a Helô me olhava com um olhar de admiração de cima a baixo, eu completamente sem graça, resolvi quebrar aquele clima dizendo:
- Tomei a liberdade de vir almoçar com vocês hoje, trouxe uma colega de trabalho a Sheila, esperamos não atrapalhar a rotina de vocês.
- Você jamais atrapalha, sejam bem vidas, é um prazer conhecê-la Sheila, eu sou a Heloísa dona da escolinha.
- Prazer Heloísa. Nós estávamos começando a almoçar no batalhão quando a Fernanda me chamou para acompanha- lá, dizendo que tinha uma missão muito importante. Como somos parceiras, aqui estou, espero não atrapalhar. Respondeu Sheila
- Que bom que vieram, apareçam sempre que quiserem, será um prazer ter vocês aqui. Fê você está linda de uniforme, as crianças irão ficar malucas quando te ver.
- Eu preciso guardar minha arma, não quero que eles me vejam armada, pode ser?
- Claro, você está certa. A Betina será a primeira a querer mexer.
Guardei nossos cinturões num armário com chaves na secretaria e fomos para o refeitório. Caminhar pelos corredores me trouxe lembranças que me deixaram emocionada. As professoras me viram e vieram falar comigo. Eu estava super sem graça trajada com a minha armadura, elas pareciam assustadas, sei lá!
Assim que entramos no refeitório as Pequenas me viram e gritaram:
- A tia Fê voltouuuuuuu! A Tia Fê voltou......
Elas pularam no meu pescoço e eu às abracei forte e cheia de saudades. A Sheila parada na porta nós observava sem dizer uma única palavra. Eu não disse aonde iríamos. Após toda aquela descarga de emoção, sentamos todas juntas para almoçar. Logo as perguntas começaram puxadas pela Betina. A primeira delas foi:
- Tia Fê você fica tão diferente vestida assim!
- Você gostou?
- Gostei, só não sei por que você fica com essa cara de brava, você não é malvada tia Fê!
- Obrigada Baixinha, eu não faço essa cara de propósito, eu nem percebo! Como vocês estão?
-Ahhh, todo mundo está bem, todo mundo pergunta de você e sente muito a sua falta. Continuou ela dizendo.

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Vidas pra Contar
RomansaDilemas, sentimento, escolhas e consequências. Um marido capaz de tudo para manter a sua família. Heloísa e Fernanda duas mulheres fortes e empoderas, porém cheias de traumas e perdas, terão coragem de romper com os padrões e viver este amor. Vidas...