O CONTRATO

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Carmem Amber não sabia mais o que fazer com seu dinheiro, sua idade avançada era tão incomodante quanto sua fortuna exorbitante. Ela,apesar do peso da idade, com oitenta e um anos, estava totalmente lúcida , tão lúcida que sabia que as pessoas ao seu redor a bajulavam apenas por interesse de conseguirem uma fatia do seu "bolo de dinheiro". Carmem não excluía nem sua família dos aproveitadores de sua caridade, seus filho, filha, netos, bisnetos,sobrinhos, primos de primeiro e segundo grau, até parentes distantes apareciam na sua casa fingindo gostar dela querendo tirar proveito da sua imensa fortuna, verdadeiros abutres atrás da carniça. A palavra odiar era muito forte para expressar esse sentimento que ela tinha por seus parentes, mas ela tinha uma profunda mágoa por todos,exceto sua cuidadora Camila Bastos, uma jovem que só pensava em trabalhar para ter uma forma de sustentar sua família conturbada. A cuidadora, que já estava trabalhando há três anos na mansão de Carmem, nunca mostrara interesse no patrimônio da Sra. Amber.

- A senhora está escrevendo de novo dona Carmem, ainda mais com o carro em movimento? - Camila falou com sincera preocupação. - As recomendações do médico foi evitar qualquer tipo de esforço, seja físico ou mental, inclusive escrever no notebook. A senhora fica enjoada só de ler num carro em movimento, imagina escrever então!

- Minha querida Camila, se dermos ouvido aos médicos, nós apenas ficaríamos deitada numa cama tomando esses remédios placebos que não curam nada. Até porque eles não querem a cura de nada mesmo. Imagina, a indústria farmacêutica iria a falência se criassem remédios curativos, já pensou se o doente tivesse que comprar só uma vez o remédio e não precisasse fazer longos tratamentos gastando uma grana preta, a indústria farmacêutica, e os que dependem dela como os médicos,iriam todos tá fodidos! - Carmem Amber concluiu seu comentário comum sorriso irônico em seus finos e flácidos lábios e voltou sua atenção para o teclado do notebook.

Camila também riu olhando sua patroa pelo retrovisor do luxuoso Bentley preto.

- Desculpe a intromissão dona Carmem, mas o quê a senhora tanto escreve nesse computador?

A milionária Amber focalizou o rosto negro de Camila pelo retrovisor e comentou: - É uma surpresa e tanto para todos meus parentes e amigos. Vai ser um livro que vai chocar não só minha família, mas a maioria do mundo! - exclamou Carmem estreitando os olhos verdes acinzentados e cansados por sobre seu óculos de leitura dando um sorriso magistral.

- Tem hora que a senhora me dá medo com essas ideias malucas dona Carmem.

Carmem Amber soltou uma gostosa gargalhada seguida de um acesso de tosse.

Camila Bastos fez menção deparar o carro no acostamento pra socorrer a patroa da crise de tosse,mas foi impedida pela patroa com um gesto de mão indicando para prosseguir.

- A senhora precisa contratar um motorista pra que eu possa ir ao lado da senhora pra ajudá-la num caso desses! - sugeriu a jovem empregada.

- Já falei que não confio nesses homens metidos a pilotos. Você dirige muito bem, e é isso que importa! Quanto a minha tosse, só foi uma pequena crise por causa da minha incontrolável risada.

- Se a senhora tá dizendo,então por mim tudo bem!

As duas mulheres seguiram o resto do percurso até a mansão Amber praticamente em silêncio.Carmem estava totalmente compenetrada na escrita do livro.


O portão preto da gigantesca propriedade, com as letras C e A douradas em cada lado, se abriram dando passagem ao luxuoso veículo.

A mansão cobria uma área de um quarteirão inteiro no luxuoso bairro de Cambuí na cidade de Campinas. Dois robustos seguranças, nada convencionais se tratando de uniformes, já que esses usavam tênis, bermudas e regatas,diferente do tradicional terno preto, comunicaram, através de pontos eletrônicos, a chegada da patroa para outros seguranças no interior da colossal residência.

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