Nathan

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- Boa noite Nathan, está com medo de uma velha senhora? - Perguntou a mulher misteriosa.

Nathan ficou sem reação, não sabia o que fazer. Olhou bem aquela mulher, que de velha não tinha nada e a observou. Era uma mulher na casa dos 40 anos, bem vestida, daquelas que param a obra quando passam.

- Quem é você?! Como sabe meu nome?! Como você entrou e porque está aqui?! - Perguntou Nathan, demonstrando mais nervosismo na voz do que pretendia.

- Muitas perguntas para um primeiro encontro, não acha?! - Respondeu a mulher com sua voz sufocante e irônica, suave e forte, causando inúmeras sensações em Nathan - Irei responder a todas elas, mas uma de cada vez.

Levantou-se da cadeira.

- Tem algo para beber por aqui? Whisky, Vodca?

Nathan estava incrédulo, não sabia como agir. Foi até o rack da sala e pegou uma garrafa de Red Label que já estava lá há algum tempo. Serviu o Whisky para a mulher, a observou beber e deixar a marca de seus lábios com um forte tom de vermelho no copo baixo.

- Olha, você tem que ir embora, não sei quem você é e nem o que quer, mas você tem que ir embora!

- Tenho respostas Nathan, respostas que você sempre procurou, mas nunca conseguiu achar. - Acendeu um cigarro vagabundo de filtro vermelho. - Venho te observando há algum tempo.

Nathan estava preso ao modo como aquela mulher falava. Estava assustado e curioso, sentindo a sua privacidade violada. Não era possível que ela estivesse falando de seus sonhos, afinal, como ela poderia saber?

- Não sei do que está falando, de verdade, talvez esteja precisando de um médico ou psiquiatra ou qualquer outra coisa que não vai encontrar aqui. - Disse Nathan.

- Não me insulte! Sei bem quem você é e o que se passa com você, não estive te observando esse tempo todo para isso! - Disse a mulher levantando se da poltrona exibindo uma fúria intensa em seu olhar.

- Insisto para que saia, você não tem nada a ver com a minha vida. - Nathan aumentou o tom de sua voz, e empurrou a mulher em direção a porta. - Obrigado pela visita.

- Tudo bem Nathan, se é assim que deseja, irei embora, mas não desistirei fácil.

- Mulher maluca. - Pensou Nathan.

Nathan estava apavorado, não conseguia acreditar no que tinha acontecido naquela noite. Olhou para o copo em cima da mesa de centro, tinha um dedo a menos do que tinha colocado, mas não havia nenhuma marca de batom. Olhou o cinzeiro ao lado do copo. Cadê a bituca do cigarro que ela havia acendido? Talvez estivesse bêbado.

- Merda, como ela poderia saber dos meus sonhos? - Mas no fundo Nathan sabia que era sobre isso que a mulher havia falado.

Era tarde, tinha que dormir, havia mais um longo dia pela frente.

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"Nathan... você está aí?"

Nathan olhou para os lados, estava novamente no campo de girassóis, o sol brilhava cada vez mais forte. Correu rumo a colina, ultrapassando os obstáculos conhecidos com mais agilidade do que se lembrava da última vez em que esteve aqui. E ao chegar ao topo, mais uma vez nada havia. Tinha ouvido novamente a sua voz, suave como uma brisa fresca em um dia de verão. Sentou-se e ficou olhando o sol se pôr, aguardando para que algo acontecesse, mas para a tortura de Nathan, somente restou o escuro.

Acordou bem cedo aquela manhã, o sonho tinha se tornado estranho. Após ouvir sua voz, Nathan não a sentia mais, como se os sonhos nunca tivessem acontecido. Escovou os dentes com uma nova pasta mentolada, tomou seu café matinal e saiu para o trabalho. A sensação incômoda ainda estava lá, Nathan não saberia explicar, mas se tentasse diria que havia borboletas em seu estômago. Também não conseguia tirar aquela mulher da cabeça, tinha muitas perguntas para ela, muitas perguntas que não foram respondidas por ele tê-la enxotado de seu apartamento. Será que devia ter feito isso?

Teve um dia calmo, o que não era normal desde que Marisa tinha assumido como sua superior. Extremamente calmo.

Conseguiu sair do trabalho no horário normal e resolveu passar no Stones, caminhou por entre as ruas do centro da cidade observando os mendigos pedindo esmolas, as prostitutas oferecendo o corpo, até chegar ao pub. Nathan não conseguia parar de pensar naquela mulher estranha, e estava decidido a obter respostas. Abriu a porta do Stones, disse um Oi rápido para Jesse e fez o seu pedido, Red Label sem gelo. Não sentou na mesa dessa vez e sim no bar, queria perguntar sobre a mulher misteriosa para Jessie, saber se ela era bem conhecida ali. Observou alguns dos clientes do Stones, a maioria antigos - velhos conhecidos desconhecidos - até que o momento oportuno chegou.

- E aí Nathan? O que acontece contigo hoje parceiro? Tá quieto.... Parece que viu assombração! - Disse Jessie puxando assunto com jeito de barman amigão.

- Cara, assombração eu não vi não. Mas você lembra de uma mulher que estava sentada ontem ali naquela mesa? Mais ou menos na mesma hora em que eu estava aqui.

- Que mulher? Ontem fechamos assim que você saiu. Tinha um grupo de amigos no bilhar, o sr. Pedro que sempre vem aqui, aquela menina esperando as amigas. Agora mulher?? Não tinha nenhuma mulher naquela mesa. - Respondeu Jessie tirando sarro do conhecido – O movimento foi bem fraco ontem, não anda tomando muito Whisky não?

- Tinha sim Jessie. Ela estava lá, tomando um drink, sei lá. Uma puta coroa cara! - Retrucou Nathan.

Jessie olhou para o cliente e sorriu ironicamente.

- Não tô maluco não, e você sabe que eu não bebo pra ficar bêbado!! – Continuou Nathan ignorando o sorriso do barman.

- Nathan... Você vem aqui quase todas as noites, a gente bate papo e tudo mais, chego até a poder dizer que te conheço um pouco. E cara, acho que você está trabalhando demais.

- Não é possível! Eu a vi ontem, certeza!! - Nathan levantou o tom de voz.

- Então sou eu que estou maluco, cara, coloca a tua cabeça no lugar porque você está precisando. - Disse Jessie - Cara doido!

Nathan resolveu ir embora, estava pensativo, nervoso e irritado, não conseguia colocar a cabeça no lugar. Iria andar até a Paulista e tomar um táxi. Tinha certeza que tinha visto aquela mulher no Stones, tinha falado com ela em sua casa. Não sabia como ela havia entrado. Será que ela realmente existia? Nathan não conseguia colocar os pensamentos em ordem, não conseguia pensar direito sobre aquela mulher. Estava ficando maluco? Riu sozinho, era só o que faltava para sua vida melhorar, ficar maluco! Riu novamente e alto. Droga, agora estava rindo sozinho, devia estar maluco mesmo.

Estava perdido em seus devaneios sobre o "ser ou não ser, estar ou não estar" e assim que dobrou a Rua da Consolação, entrando na Avenida Paulista sentiu um arrepio e olhou para trás!

- Boa noite Nathan! O que está fazendo numa noite dessas andando na rua sozinho?

Lá estava ela. Nathan perdeu completamente a cabeça, não tinha mais certeza de nada. Não sabia se estava maluco e olhando para o nada em plena Avenida Paulista, conversando com uma mulher muito misteriosa. Riu novamente com a possibilidade de estar maluco.

- Por que está rindo? Do que está achando graça? - Perguntou a mulher misteriosa.

- Estou rindo porque estou ficando maluco, e pessoas loucas riem sozinhas. Você não existe e eu ainda estou falando com você. Por isso sou maluco, doidããão. - Continuou rindo sem parar.

- Nathan, pare de rir! Pare de rir e olhe pra mim, precisamos conversar. Tenho urgência em lhe dar algumas respostas que podem ser importantes pra você. - Disse a mulher. - Não me faça perder tempo.

Nathan olhou nos olhos daquela mulher, ela tinha os olhos tão profundos e de um azul tão escuro quanto o oceano. Ficou impressionado com o olhar dela, em como ela conseguia lhe mostrar que realmente era importante apenas o olhando. Ele estava hipnotizado.

Nathan agora tinha certeza que ela era real.

Nathan tinha mais do que certeza.

Nathan tinha medo.

- Vamos - Disse a mulher.

- Calma lá moça, vamos onde? – Respondeu um Nathan relutante.

- Vamos em um lugar onde não possam nos ouvir.

Foram até o Parque do Trianon, sentaram em um banco ao lado de um jequitibá-branco, era o entardecer daquele dia. O entardecer que mudaria a vida de Nathan para sempre.

COMPLETO - OS LEGADOS DO SOL E DA LUAOnde histórias criam vida. Descubra agora