Império do Brasil - 1705

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Império do Brasil, 1705

Fazia calor naquele fim de tarde, a senzala estava quieta. Mais um negro havia sido assassinado pelas mãos de Francisco, o capataz da Fazenda Santo Antônio. O cheiro de morte pesava sobre a fazenda, trazendo dor e tristeza aos escravos. Sangue e suor manchava o quintal de terra batida.

Os sons dos atabaques e tambores anunciavam aos orixás que mais um de seus filhos estava voltando aos seus braços, a cantoria triste pedia para que guiassem seu filho através da luz e o afastassem dos espíritos maus e da escuridão.

Luana chorava a morte de seu irmão, suas lágrimas escorriam pelo seu rosto e caíam no chão de terra enquanto limpava o sangue seco dos grilhões com suas pequenas mãos calejadas. Os mesmos grilhões onde seu irmão havia sido mantido preso e violentamente assassinado.

Seu irmão era um homem bom, não merecia morrer daquela forma, surrado e humilhado. Ele era forte, não tinha derrubado nenhuma lágrima enquanto era chicoteado até os ossos pelo maldito capitão do mato, coisa que irritou ainda mais Francisco, que chicoteou o pobre negro até a morte.

Luana se sentia culpada da pela morte do irmão, afinal ele tinha lhe defendido quando o capataz, bêbado até os ossos, fedendo a cachaça lhe agarrou e tentou violar a única coisa que tinha de preciosa. Esse foi o último ato de bom coração do irmão.

Luana era linda, todos tinham olhos para ela agora que seu corpo estava tomando forma de uma mulher. Era bela como a Lua, por isso, sua mãe lhe deu esse nome quando pequena. Seus olhos castanhos claros, atenuava ainda mais a sua beleza. Os negros da fazenda viviam lhe oferecendo favores para ganhar um sorriso daquela negrinha.

Com a perda do irmão, Luana só tinha a sua tia Naná como família, uma negra velha e sábia sobre as coisas da vida. Naná era irmã da mãe de Luana, e desde a morte de sua irmã, cuidava de sua sobrinha como se fosse sua própria filha. Tentava ensinar a ela como o mundo funcionava, como era violento e maldoso com os negros.

Depois da limpeza no terreiro, Luana voltou a senzala com o rosto manchado com uma mistura de lágrimas e poeira. Correu para os braços de Naná, e ali encontrou o conforto para chorar a morte de seu único irmão.

- Calma minina Luana, vassuncê sabe qui esse é o distino di tudo os nego da fazenda. Uma hora ou outra o pió ia di acontecê, pelo menos ele tá num lugá mió que nóis. - Disse a velha senhora acalmando sua sobrinha. - Mais chora minina, podi chorá a vontade, limpa esse seu coraçãozinho di toda maldade qui vassuncê viu.

- Ai tia Naná, ele num merecia isso não. - Desabou Luana.

- Minha fia, vassuncê ainda tem muita coisa pa vivê na vida, tem muita coisa pa sofrê. Tudo os nego vai sofrê, essa é a única certeza que nóis tem.

Luana deitou se sobre a palha e chorando, adormeceu.

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Alguns meses depois, os sons dos cascos dos cavalos chegaram aos ouvidos de Floriano, senhor da Fazenda Santo Antônio. Velho, calvo, baixo e rechonchudo, essas eram as principais características de um dos homens de negócio mais requintado de toda alta sociedade, além disso, era um pai amoroso e visto. Havia dias que aguardava notícias sobre seu filho Juliano, que partira ainda menino para estudar na Capital. Foi até a soleira da casa grande e viu seu menino, que nos últimos anos havia se tornado um homem feito, descer do cavalo.

- Juliano! Juliano! Não sabes como estou feliz em vê-lo!

Floriano olhava para o filho e não via mais aquele moleque que corria pela casa, via agora um homem capaz de receber sua herança e cuidar dos seus negócios. Juliano havia mudado muito em apenas um ano, e num piscar de olhos passou de menino franzino a homem forte, bonito, gentil, e de olhos verdes e profundos. Tinha completado 18 anos dois meses atrás, e estava pronto para cuidar dos negócios do pai.

COMPLETO - OS LEGADOS DO SOL E DA LUAOnde histórias criam vida. Descubra agora