Belaiel / Nathan

251 38 30
                                    

Belaiel continuou andando pela Avenida Paulista em direção ao bairro do Paraíso, era estranho olhar o mundo com os olhos humanos, as coisas eram diferentes, as cores, os sons e até mesmo o ar poluído atingia sua pele e parecia cortar como navalhas, o chão sob seus pés eram duros demais para se caminhar. Ainda assim Belaiel estava aliviado, sua missão estava sendo cumprida, havia enfim se revelado a seu protegido, muitas coisas importantes foram faladas sobre o destino, mas ainda havia muito a ser explicado, mas para isso era preciso que Nathan aceitasse o seu destino.

*****************************************************************************************************

Vinhedo, agosto de 2004.

Uma criança corria pelo campo de futebol improvisado, em uma mão, segurava uma fina linha que se estendia até o céu onde no fim uma pipa pairava com a força dos ventos. Com os cabelos grudados na testa suada e quente, Nathan ria e gritava com seus amigos enquanto corria pelo campo tentando manter a pipa no ar. Era assim que normalmente Nathan passava as suas tardes: brincando, correndo e aprendendo a ver o mundo com os olhos de um adolescente.

Eram quase seis horas da tarde quando Nathan chegou em casa. Estava imundo, cansado e com fome. Ele mal havia colocado os pés em casa e sua mãe já estava lhe esperando.

- Onde você pensa que vai rapazinho?! Pode tirar esses pés imundos da minha sala!! Tá pensando o que?! Olha a cor desses chinelos!!

Dona Helô, mãe de Nathan, era uma senhora católica, devota de Nossa Senhora Aparecida. Era uma boa mãe, um tanto rígida com o filho, mas era assim que homens tinham que ser criados. Seu esposo, seu Carlos, batalhava muito para manter o padrão de vida que eles levavam, taxista e ex-militar, prezava sobre tudo a ordem dentro de sua casa.

Nathan achava graça quando sua mãe falava com ele daquele jeito, afinal, ela nunca ficava brava com ele durante muito tempo. Pé ante pé, caminhou até a cozinha e com força abraçou a mãe que estava ocupada preparando o jantar.

- Ahhh!!!! Como eu te amo Dona Helô!

- Eu te mato, seu filho de uma égua!!! Quase me matou de susto! - Gritou Dona Helô enquanto colocava a mão no peito para acalmar o coração palpitante. - Vai já tomar banho! Hoje vou sair com seu pai e quero que você jante antes!

Dona Helô sorria enquanto acertava Nathan com um pano de prato.

- Então quer dizer que a Dona Helô e o Seu Carlão vão se divertir hoje à noite? - disse Nathan colocando ênfase na palavra "divertir" e sorrindo entre a frase.

Dona Helô jogou um pote plástico em Nathan que correu e escapou da mira da mãe por um triz.

Entrou para o seu quarto que ficava no final da casa térrea, pôsteres de bandas e vídeo games cobriam a antiga pintura azul clara, escondendo o quarto que um dia fora de uma criança e que agora abrigava um adolescente. Uma cama de solteiro coberta com lençóis bordados com pequenos aviões eram a única coisa que demonstrava a passagem da mãe pelo quarto, no canto oposto a cama, um pequeno guarda-roupas e uma escrivaninha encrustada com livros e revistas completavam a pequena e impressionante paisagem do quarto de um adolescente de apenas 14 anos.

Nathan pegou sua toalha que tinha um grande símbolo do Corinthians sobre o tecido preto e estava pendurada em um suporte improvisado com um prego atrás da porta de seu quarto e foi para o banho. Tomou um banho rápido e voltou para o seu quarto, vestiu um short surrado e uma regata para ficar bem confortável em casa. Colocou um CD do Guns 'n Roses no seu micro system Aiwa, que havia ganhado de natal no último ano e sentou-se em sua escrivaninha para desenhar. Alguns desenhos depois, sua mãe entrou no quarto, interrompendo o maravilhoso solo de Sweet Child O' Mine.

COMPLETO - OS LEGADOS DO SOL E DA LUAOnde histórias criam vida. Descubra agora