eight

1.6K 92 7
                                    

NA NOITE de domingo, reli O Apanhador no Campo de Centeio até me sentir cansado o bastante para dormir

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

NA NOITE de domingo, reli O Apanhador no Campo de Centeio até me sentir cansado o bastante para dormir. Só que eu não ficava cansado o bastante. E não conseguia ler, porque ler já não tinha o mesmo efeito.
Eu não conseguia desaparecer no personagem Holden Caulfield, porque não era capaz de me perder na história, não do modo que precisamos para nos tornarmos outra pessoa.
Eu não estava sozinho na minha cabeça. Ela estava cheia de medalhões, incêndios e vozes. Pessoas que eu não conhecia e visões que eu não entendia.
E tinha mais uma outra coisa. Fechei o livro e coloquei as mãos atrás da cabeça.
Lia ?
Você está aí, não está?Eu olhava para o teto azul.
Não adianta. Sei que você está aí. Aqui. Sei lá.
Esperei até que ouvi. A voz dela, se desdobrando como uma lembrança pequena e brilhante no canto mais escuro da minha mente.
Não. Não exatamente.
Você está. Esteve aí a noite toda.
Jasper , estou dormindo. Quero dizer, estava.
Sorri para mim mesmo.
Não estava não. Estava ouvindo.
Não estava.
Apenas admita que estava.
Homens.
Vocês pensam que são o centro do universo.
Talvez eu apenas goste daquele livro
Você pode vir aqui sempre que quiser, agora?
Houve uma longa pausa.
Normalmente não, mas esta noite meio que aconteceu. Eu ainda não entendo como isso acontece.
Talvez possamos perguntar para alguém.
Tipo quem?
Não sei. Acho que nós vamos ter que descobrir sozinhos. Assim como todas as outras coisas.
Outra pausa. Tentei não imaginar se o "nós" a tinha assustado, caso ela pudesse me ouvir.
Talvez fosse isso, ou talvez fosse outra coisa; ela não queria que eu descobrisse nada que
tivesse a ver com ela.
Não tente.
Sorri e senti meus olhos fechando. Mal conseguia mantê-los abertos.
Estou tentando.
Apaguei a luz.
Boa-noite, Lia .
Boa-noite, Jasper .
Eu esperava que ela não pudesse ler todos os meus pensamentos

Eu esperava que ela não pudesse ler todos os meus pensamentos

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Complicada. Talvez essa fosse uma das complicações, ou apenas uma das 26
mil outras coisas sobre as quais ela não podia falar. E se todas as Barbara Stanley do mundo estivessem certas? E se eu tivesse escolhido o lado errado, afinal?
— Tome cuidado, cara. Talvez ela tenha marcado na Cidade dos Loucos.
— Se você acredita mesmo nisso, é um idiota.
Entramos no estacionamento da escola sem falar nada. Eu estava irritado, apesar de saber que Emmett só estava preocupado comigo. Mas eu não conseguia evitar. Tudo parecia diferente hoje.
Saí do carro e bati a porta.
Emmet me chamou:
— Estou preocupado com você, cara. Você tem agido de um jeito estranho.
— Qual é, eu e você somos um casal agora? Talvez você devesse passar um pouco mais de tempo se preocupando com o motivo de nem conseguir que uma garota converse com você, seja ela louca ou não.
Ele saiu do carro e olhou para o prédio da administração.
— De qualquer jeito, talvez você devesse dizer para sua "amiga", seja lá o que isso
signifique, para tomar cuidado hoje. Veja.
A Sra. Newton e a Sra.Stanley conversavam com o diretor Harper na escada da frente. Jessica estava aninhada ao lado da mãe, tentando parecer arrasada. A Sra. Newton estava dando um sermão no diretor Harper, que estava sentado como se estivesse decorando cada palavra. O diretor Harper podia mandar na Forks High School , mas ele sabia quem mandava na cidade. Estava olhando para duas delas.
Quando a mãe de Mike terminou, Jessica iniciou uma versão particularmente animada do incidente da janela quebrada. A Sra. Newton esticou braço e colocou a mão no ombro de Jessica , solidária. O diretor Harper apenas concordava com a cabeça.
Era, com certeza, um dia muito cheio de nuvens.
Lia estava sentada no volvo preto , escrevendo em seu caderno surrado. O
O motor estava ligado. Bati na janela e ela pulou. Olhou na direção do prédio da administração. Tinha visto as mães também.
Gesticulei para que abrisse a porta, mas ela balançou a cabeça.
Andei até o lado do passageiro. As portas estavam trancadas, mas ela não ia se livrar de mim tão facilmente. Sentei no capô do carro e deixei minha mochila cair no chão de cascalho ao meu lado. Eu não ia a lugar algum.
O que está fazendo?
Esperando.
Vai ser uma longa espera.
Tenho tempo.
Ela olhou para mim pelo para-brisa. Ouvi as portas sendo destrancadas.
— Alguém já disse que você é maluco? — Ela andou até onde eu estava sentado, com os
braços cruzados como Esme pronta para dar bronca.
— Não tão maluco quanto você, pelo que ouvi dizer.
O cabelo dela estava preso atrás com um lenço de seda preto que tinha desenhos de flores de cerejeira cor-de-rosa espalhadas. Eu podia imaginá-la se olhando no espelho, sentindo-se como se estivesse indo para o próprio enterro e amarrando-o para tentar parecer mais animada. Um vestido de corte reto que mangas curtas estilo anos oitenta xadrez caía sobre sua meia calça preta e sapatilhas francesas . Ela franziu a testa com os óculos escuros e olhou para o prédio da administração. As mães provavelmente estavam sentadas no escritório do diretor Harper agora.

— Você consegue ouvi-las?
Ela sacudiu a cabeça.
— Eu não consigo ler a mente das pessoas, Jasper .
— Consegue ler a minha.
— Não é verdade.
— E ontem à noite?
— Já falei, não sei por que acontece. Nós simplesmente parecemos... nos conectar. — Até mesmo a palavra parecia difícil para ela dizer essa manhã.
Ela não me olhava nos olhos. — Nunca foi assim com ninguém.
Eu queria dizer para ela que sabia como se sentia. Queria dizer que quando estávamos juntos daquele jeito em nossas mentes, mesmo com nossos corpos a milhões de quilômetros de distância, eu me sentia mais próximo dela do que jamais me senti de alguém.
Não consegui. Não conseguia nem pensar. Pensei sobre basquete, o menu do refeitório, o
O corredor verde cor sopa de ervilha por onde eu estava prestes a andar. Pensei em tudo. Em vez de falar disso, inclinei minha cabeça para o lado.
— É. As garotas dizem isso pra mim sempre. — Idiota. Quanto mais nervoso eu ficava, piores eram as minhas piadas.
Ela deu um sorriso hesitante e torto.
— Não tente me animar. Não vai funcionar. — Mas estava funcionando.
Olhei de novo para a escada.
— Se você quer saber o que elas estão dizendo, posso contar pra você.
Ela olhou para mim com ceticismo.
— Como?
— Estamos em Forks . Não há nada sequer próximo a um segredo aqui.
— É muito ruim? — Ela olhou para o outro lado. — Elas acham que sou louca?
— Basicamente.
— Um perigo para a escola?
— Provavelmente. Não recebemos bem estranhos por aqui. E nada é mais estranho do que
a herdeira Ravenwood, sem querer ofender. — Sorri para ela.
O primeiro sinal soou. Ela puxou minha manga, ansiosa.
— Ontem à noite. Tive um sonho. Você...?
Assenti. Ela nem precisava dizer. Eu sabia que ela tinha estado no sonho comigo.
— Fiquei até de cabelo molhado — ela disse.
Ela esticou o braço. Havia uma marca no seu pulso onde eu tinha tentado segurar. Antes que ela mergulhasse na escuridão. Eu esperava que ela não tivesse visto aquela parte. A julgar pela expressão do seu rosto, eu tinha certeza de que tinha visto.
— Desculpe, Lia .
— Não é sua culpa.
— Gostaria de saber por que os sonhos são tão reais.
— Tentei te avisar. Você devia ficar longe de mim.
— Tudo bem. Vou me considerar avisado.
De alguma forma eu sabia que não podia fazer isso, ficar longe dela.
Apesar de eu estar prestes a entrar na escola e encarar um monte enorme de merda, eu não ligava. Eu me sentia bem em ter alguém com quem podia conversar sem ter que editar tudo que dizia. E eu podia conversar com Lia ; na casa Ravenwood senti que poderia ter ficado lá sentado no mato conversando com ela por dias. Por mais tempo. Por tanto tempo quanto ela estivesse lá.

Ela ligou o carro antes que eu pudesse dizer alguma coisa mais e acenou quando se afastou do meio-fio.
Ouvi um latido. Me virei e vi o enorme cachorro preto de Ravenwood ---que rondava a cidade na maioria das vezes--- a apenas alguns metros, e vi para quem ele estava latindo.
A Sra. Newton sorriu para mim. O cachorro rosnou o pelo das costas eriçado. A Sra. Newton olhou para ele com tanta repulsa que parecia que estava olhando para os próprios Ravenwoods. Em uma briga, não se sabe ao certo qual deles ganharia.
— Cachorros selvagens têm raiva. Alguém devia avisar o condado.
É, alguém.
— Sim, senhora.
— Quem foi aquela que vi saindo no carro preto estranho? Vocês pareciam estar tendo uma
boa conversa. — Ela já sabia a resposta. Não era uma pergunta. Era uma acusação.
— Sim, senhora.
— Falando em estranho, o diretor Harper estava me contando que está planejando oferecer para a garota Ravenwood uma transferência ocupacional. Ela pode escolher qualquer escola em três condados. Desde que não seja a Jackson.
Não falei nada. Nem olhei para ela.
— É nossa responsabilidade,Jasper . Do diretor Harper, minha... de todos os pais em Forks. Temos que garantir que os jovens dessa cidade fiquem longe do perigo. E longe do tipo errado de pessoas. — O que queria dizer qualquer um que não fosse como ela.
Ela esticou a mão e tocou no meu ombro, do mesmo jeito que tinha feito com Jessica há menos de dez minutos.
— Tenho certeza de que entende o que quero dizer. Afinal, você é um de nós. Seu pai é um dos melhores médicos da cidade e sua mãe é uma boa mulher mesmo não participando do culto de pais na igreja -- sentia a alfinetada mas não liguei --- Você faz parte de Forks . Nem todo mundo faz.
Olhei para ela. Mas ela entrou na van antes que eu pudesse dizer outra palavra.
Dessa vez, a Sra.Newton queria mais do que queimar alguns livros.

Depois que cheguei à aula, o dia ficou anormalmente normal, estranhamente normal. Não vi
nenhuma outra mãe, apesar de suspeitar que estivessem enfiadas na diretoria. No almoço,
Alice certamente não parava de tagarelar sobre a nova promoção na sua loja favorita enquanto todos davam atenção e comentavam sobre outros conteúdos , como sempre, apesar de estar claro sobre o quê e sobre quem não íamos falar. Até mesmo a visão de Jessica no outro canto do refeitório digitando mensagens de texto loucamente durante a aula de inglês e de química parecia uma espécie de verdade universal reconfortante. Exceto pelo sentimento de que eu sabia sobre o quê, ou melhor, sobre quem ela estava escrevendo. Como eu disse, anormalmente normal

𝐌𝐎𝐑𝐍𝐈𝐍𝐆 𝐒𝐓𝐀𝐑 | 𝘫𝘢𝘴𝘱𝘦𝘳 𝘩𝘢𝘭𝘦Onde histórias criam vida. Descubra agora