Capítulo 8

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Depois de alguns minutos saio do banho um pouco melhor. Foi como se a água tivesse levado parte daqueles sentimentos ruins pelo ralo. Decido cuidar um pouco de mim já que tenho um tempo até eles irem ao festival.

Coloco minha roupa intima e por cima meu robe de cetim favorito. Amo a sensação do tecido na minha pele. Sento no banco em frente da minha cama e faço massagem com hidratante pelo meu corpo. Ombros, braços, colo, barriga... O corpo todo, até que chego na parte das coxas. Um flash passa pela minha mente e lembro do toque que ali havia recebido momentos antes. Sinto um frio na barriga, meu corpo parece que leva um choque e um suspiro involuntário escapa da minha boca. Por mais difícil que seja, estou decidida a esquecer tudo aquilo, mas porque meu corpo não entende isso?

Coloco uma playlist que gosto no meu celular e decido descansar um pouco para não dirigir cansada. Aparentemente estou mais cansada do que eu imaginava. Acordo com batidas na porta e assim que olho o celular vejo que dormi por mais de 1h. Ajeito meu robe e vou em direção a porta. Eu falei para a Pepper que não estava bem para conversar, não quero ter que me explicar agora para ela.

- Oi. - Me olha de cima a baixo.

- Oi. - Ajeito meu robe mais uma vez.

- Você esqueceu sua carteira no carro. Imaginei que você iria precisar, já que... - Me entrega a carteira com um pouco de receio.

- Obrigada. - Pego a carteira e me viro indo até a poltrona em que se encontra minha bolsa.

Ouço a porta fechar e minha mente torce para que ele esteja do lado de fora e meu corpo para que ele esteja do lado de dentro. Fecho meus olhos com força assim que sinto sua respiração quente em minha nuca.

- Robert, o que você está fazendo? - As palavras saem com certa dificuldade.

-Eu... - Sinto seu rosto no meu pescoço sentindo o cheiro do perfume que ainda permanecia em minha pele. - Só queria conversar com você.

- Acho que não temos nada para conversar. - Apenas o tecido do meu robe separa meu ombro e sua boca que ali depositava beijos.

- Eu só achei que merecia uma explicação, sabe? - Finalmente resolvo me virar para ele.

- Posso saber o porquê de você achar isso? - Finalmente nossos olhos se encontram.

- Eu achei que estivéssemos nos divertindo. Com a Morgan, com Tony, com Pepper... - Suas próximas palavras parecem sair com dificuldade. - Principalmente um com o outro.

Saio de seu encontro e me sento na minha cama. Pouso meu rosto entre minhas mãos e tento regular minha respiração. Talvez eu deva falar com ele. Talvez eu sinta um gigantesco alívio dentro de mim assim que as palavras saírem pela minha boca.

- Eu sei porque você está aqui. - Digo sem sair da posição que estou. - Sei que nesse momento era para você estar comemorando seu aniversário de namoro. Sei que você terminou um relacionamento recente. Eu sei tudo isso.

- Soph...

- Ontem na piscina, tudo o que queria era me entregar a você. Mas alguém ali tinha que ser racional, Robert. Não fazia nem um dia que você havia terminado. Pensei comigo mesma "ele só está chateado pelo termino, amanhã ele não vai nem lembrar o que aconteceu." mas você lembrou. Tentei apenas levar na esportiva, aproveitar a nossa festa da piscina com Morgan, mas percebi que não conseguiria assim que senti teu toque em meu rosto. - Sinto em minhas mãos as lágrimas que eu já não conseguia segurar. - Droga, Sophie.

Vou até o banheiro, passo uma água no rosto e tento me recompor. Me olho no espelho por alguns segundo antes de voltar ao quarto. Ele permanece ali, no mesmo lugar, só que agora de braços cruzados com o olhar distante.

- Aparentemente não era essa a conversa que você esperava. - Volto a me sentar na cama, mas agora o observando.

- Sophie, eu posso explicar.

- Não, Robert, me ouve!

- Não! Agora você vai me ouvir. - Ele vem lentamente em minha direção e para entre minhas pernas. - Entendo que pareceu que eu estava te usando ou qualquer coisa do tipo. E sinto muito por isso, de verdade. Mas não é nada disso que você está pensando.

- Como não? Eu vi você conversando com aquela mulher na praça hoje mais cedo. Trocando risos, sorrisos e até cartão. Eu vi como você voltou. Todo feliz com um sorriso vitorioso no rosto. Eu sei disso porque enquanto eu via tudo aquilo eu borbulhava de raiva por dentro. Sem o menor direito, mas era assim que eu estava. Você só quer descontar a mágoa do fim do seu relacionamento.

- Que cartão? Aquele que joguei fora antes de ficar te admirando e observando como você leva jeito com a Morgan? - Sinto meu rosto corar. - E é claro que me senti bem com aquela mulher se interessando por mim. A única pessoa que eu queria que me desse bola estava me ignorando e me distanciando por um motivo que eu não sabia qual era.

Tento abaixar o rosto e olhar para o anel com qual eu estava "brincando" esse tempo todo. Sinto seus dedos segurando meu queixo para que eu olhe para ele e não tento lutar contra.

- Eu sempre te respeitei e gostei muito de você, Soph. Eu nunca faria nada que pudesse te desrespeitar ou magoar. Até porque tenho medo do que o Tony faria comigo. - Um sorriso escapa do meu rosto e vejo que do dele também.

Soltando meu queixo e fazendo um pequeno carinho na minha mandíbula, ele se distancia um pouco e se senta a poucos centímetros do meu lado. Se vira para mim e segura minhas mãos procurando meus olhos. Atendo seu chamado.

- Aquele namoro acabou a muito tempo. Tentei de diversas formas arrumar a bagunça, mas percebi que não dava. Só eu queria dar um jeito naquilo. Então deixei ela embarcar e vim passar um tempo com as pessoas que realmente me fazem feliz.

- Me desculpa. Eu não deveria ficar pensando coisas sem fundamentos. - Ele leva minhas mãos até sua boca e deixa um beijo ali.

- Eu é que peço desculpas por não termos essa conversa antes. Eu realmente sinto muito por ter feito você se sentir mal.

- Posso te pedir um favor?

- O que você quiser.

- Pode deitar um pouco comigo?

- Nossa, me lembre de ser um idiota mais vezes. - Vejo um sorriso malicioso se formar em seus lábios.

- Você não precisa de lembrete para isso. - Solta minhas mãos, coloca as próprias no peito e faz cara de quem foi profundamente ofendido. Dou risada e dou um tapa em seu ombro. - Só me fazer companhia. Vem cá.

Me ajeito encostando na cabeceira da cama e dou um tapinha no lugar que ele deve ocupar. Ali ele se senta e eu deito em seu peito enquanto ele me prende em um abraço. Ficamos em silêncio por um momento. Sinto seus dedos divagarem pelas minhas costas em movimentos circulares.

- Então quer dizer que você ia embora por minha causa? - Ele quebra o silêncio.

- E quem disse que ainda não vou? - Ergo uma sobrancelha o olho para ele.

- Bom, então tenho que ir arrumar minhas coisas para te acompanhar. - Ele insinuou sair dali e o seguro pela cintura.

- Não! - Ele me olha com uma cara de surpreso e sinto meu rosto corar. Mais uma vez. - Quero dizer, não precisa. Não vou embora tão cedo. - Me aninho em seu peito novamente e assim ficamos.

Nenhum de nós ousou quebrar o silêncio, apenas ficamos contemplando a presença um do outro. Não demorou muito para que pegássemos no sono.

Aparentemente havia sim uma pessoa que poderia me fazer mudar de ideia. E ele conseguiu.

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