II. Fugindo.

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1 mês atrás – Miami, Flórida.

Rafaella pisou no acelerador e apertou o volante com força enquanto revezava o olhar atento entre a pista que se estendia a sua frente e o espelho retrovisor. Seus ombros estavam tensos e sua expressão facial concentrada. Fez a curva fechada, entrando na avenida movimentada, mas não pôde relaxar porque a van ainda estava colada na traseira de sua BMW.

- Inferno... - Sibilou ao encontrar o congestionamento de carros enfrente ao farol vermelho.

- Acha que estão nos seguindo? - A voz de Camila soou tensa no banco do carona.

Rafaella engoliu em seco e olhou novamente para o retrovisor, conseguindo localizar a van branca a três carros de distância.

- Pega minha bolsa, Camila. - A adolescente se inclinou para o banco de trás e o farol ficou verde, a fazendo mexer no câmbio. - Liga pra sua mãe.

Camila não precisou ter uma ordem expressa sobre o que fazer com a bolsa. Abriu o zíper sem cerimônias e puxou o pequeno revólver prateado da Juíza para fora, o colocando entre os dois bancos antes de acionar o botão de discagem rápida do celular e o colocar no viva voz.

- Oi, meu amor. - A voz de Bianca flutuou dentro do carro no segundo toque.

- Bia, onde você está? - Rafaella perguntou rápido, ultrapassando alguns carros na avenida.

- No departamento, por quê? - Outro farol vermelho.

- Bianca... - Rafaella suspirou, analisando a distância da van agora. - Tem uma van seguindo a gente desde a saída do teatro.

- Você tem certeza disso?

- Bia, pelo amor de Deus. Tem uma porra de uma van seguindo a gente! - A juíza pisou no acelerador e os pneus cantaram no asfalto.

O som de passos e portas invadiram a linha rapidamente.

- Qual a descrição? - A voz da Comandante estava acelerada agora.

- Branca. Modelo V8. Placa 427 KWA.

- Onde vocês estão? - A pergunta foi acompanhada de seu chamado por um Sargento.

- No momento estamos subindo a Dixie.

- Ótimo. Venha para o departamento. - Bianca instruiu rápida. - Vou colocar as viaturas na rua.

O coração de Rafaella pulava feito louco dentro do peito e suas mãos suavam mais do que tudo. Estavam seguras desde que permanecessem dentro do carro blindado, mas podia sentir o nervosismo brotando dos poros de Camila ao seu lado. Precisava chegar no departamento e deixar a filha em segurança, esse era o único pensamento que corria desgovernado em sua cabeça.

Bianca ainda estava do outro lado da linha quando Rafaella avisou que faltava um quarteirão para entrar na rua do departamento. Sua sorte era que seu motor era mais potente do que a lata velha que tentava a alcançar.

Conseguiu ouvir o suspiro de alívio de Camila quando entraram na rua do departamento e avistaram as viaturas cercando o local. Passou acelerada pelo corredor enquanto a van era bloqueada pelos oficiais armados.

Por mais que a Juíza repetisse na própria cabeça que estava tudo bem e que nada realmente grave havia lhes acontecido, as possibilidades de que tudo poderia ter dado errado eram mais fortes. Observava no silêncio de seu corpo trêmulo a Comandante agradecer a equipe que as cercavam e Camila abraçar seu próprio corpo esperando para ser levada para casa. Não podia deixar de pensar que aquilo não era uma vida saudável. Todos os dias o
medo lhe preenchia em relação à Bianca que muitas das vezes nem podia ser localizada, mas aquilo já era algo quase superado. O que lhe perturbava a mente era o perigo que Camila poderia estar exposta constantemente. Não pra uma preocupação real até aquele momento, mas a veracidade do fato bateu em sua cabeça como um martelo impiedoso.

The Middle | Versão RabiaOnde histórias criam vida. Descubra agora