II. Dois recados.

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Hoje tem mimo pra vocês.

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8 anos atrás - Miami, Flórida.

O campo verde não tinha sinais de elevações. Estavam em um parque ecológico e Rafaella se mantinha deitada debaixo da sombra de uma árvore grande, escondendo-se do sol fraco que fazia naquela tarde de sexta feira. Mantinha um sorriso frouxo nos lábios rosados e os olhos fixos na dupla que corria a sua frente. Camila gargalhava fugindo as garras de Bianca que retardava-se para não alcançá-la com rapidez. Rafaella não sabia que aquilo daria certo, ela apenas sentiu que deveria tentar. Bianca não foi completamente a favor quando comentou sobre a ideia de se aproximar de Camila, mas não demorou muito para que a Andrade também se apaixonasse pelo pequeno monstrinho.

No início não havia sido fácil. Camila se mostrava isolada para qualquer adulto que aparecesse e não foi diferente com o casal. Não se abria ou mantinha uma conversa estável e Bianca já havia desistido de tentar um contato mais profundo quando Rafaella conseguiu. Foi apenas uma frase em espanhol trocada, mas que fez os olhos da pequena brilhar com a familiaridade e abaixar as muralhas que a protegiam.

Milika avisou as duas sobre o histórico turbulento da órfã e o porquê da garota ter se isolado. Havia perdido os pais quando tinha três anos de idade e como o governo não conseguia encontrar um contato com qualquer parente fora dos Estados Unidos, deixaram a pequena no orfanato. Com o decorrer do tempo casais apareciam e se interessava pela cubana, mas nunca ficavam efetivamente. Eles apenas preenchiam as fichas, a escolhiam, ficava por um período curto de tempo e depois desistia da adoção. A assistente social havia dito para Bianca e Rafaella que era comum aqueles tipos de casos, já que a maioria dos casais preferiam crianças de no máximo dois anos de idade, mas as duas se negavam a crer naquela realidade.

Rafaella quase não teve tempo de reação quando a pequena correu em sua direção pulando em seu colo.

- Não! Não deixa ela me pegar!

Camila se encolhia nos braços de Rafaella pedindo ajuda contra Bianca que vinha logo atrás.

- Sai, Bianca. - Rafaella riu embalando a cubana nos braços. - Eu te protejo. Fica aqui. - Sussurrou para Camila que sorriu largo revelando a falta de um canino de leite na boca.

- Assim não vale. - Bianca guinchou largando o corpo cansado ao lado das duas.

A Andrade se ajeitou na grande toalha que Rafaella estava deitada, virando-se para encarar as duas com um sorriso contido nos lábios. Estava se deliciando com aquela sensação. Rafaella parecia cada dia mais feliz e completa, já Bianca estava criando um instinto diferente por Camila. Era mais do que afeição, era um mesclar de proteção e esperança. Algo que se intensificava a cada segundo que passava com a criança.

Desde o início do processo de socialização, Bianca e Rafaella visitavam a pequena diariamente. Quando Rafaella não podia, Bianca ia sozinha e vice-versa. Camila já estava mais entrosada do que já estivera um dia com alguém e isso era ótimo, levando em consideração que o casal já tinha a guarda provisória em mãos.

- Hey, Mila. - Bia cutucou o braço da menina que já começava a adormecer no peito de Rafaella. - Quer ir pra casa?

Camila negou com a cabeça antes de se afundar ainda mais no colo da Juíza. Não queria voltar para o orfanato, queria ficar ali. Ela achava o colo das duas mulheres confortáveis, sentia-se segura e talvez até amada quando estava com o casal. Coisa que ela nunca tinha experimentado com os outros casais que apareciam na adoção.

- O que você acha de passar o final de semana na nossa casa? - Rafaella perguntou, tirando os fios de cabelo que colavam no rosto da criança. - Na segunda-feira eu te levo para o orfanato pela manhã. - Sugeriu sábia.

The Middle | Versão RabiaOnde histórias criam vida. Descubra agora