I. A Algema e o Revólver.

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Olhou para o corredor tão conhecido e levou os dedos até o rosto retirando calmamente os óculos de sol o pendurando no robusto decote de sua blusa social branca. A calça preta colada em seu corpo traçava todas as curvas proporcionais da panturrilha ao quadril. O som do salto alto batendo contra o piso anunciou sua caminhada ao longo do caminho recebendo a total atenção daqueles que se encontravam ali. Inspirou presunçosamente e olhou para cada um dos rostos com certo desdém. Sabia o impacto que causava nos lugares, e não era só por causa do longo cabelo negro ou da pesada maquiagem nos olhos. A algema e o revólver em sua cintura ajudava muito no pacote.

Chegou até a grande mesa de madeira clara e cumprimentou carinhosamente a nova ocupante daquele cargo ao lhe entregar sua carteira. Esperou até que a jovem pegasse o aparelho e devolvesse seu documento. Fez um discreto reconhecimento do belo corpo moreno já preparando as investidas futuras. Olhou mais uma vez o local e um leve sorriso debochado tomou o canto de seus lábios ao reconhecer alguns dos rostos ali presente. A jovem moça morena a chamou pelo nome e lhe informou que poderia entrar. Fez um pequeno gesto com a cabeça em agradecimento lançando seu melhor sorriso charmoso prendendo a atenção da mulher sentada a mesa e se dirigiu a porta.

- Está atrasada doutora.

A voz suave informou, mesmo que sem necessidade, assim que sentiu a presença de mais uma pessoa no grande aposento. A dona dos cabelos negros fechou a porta e caminhou em direção a dona daquela voz que se encontrava atrás de uma grande bancada lendo alguns possíveis documentos. O cabelo chocolate preso em um coque mal feito deixava a franja solta no rosto de feições pequenas e as grandes argolas de ouro bem visíveis. Os olhos verdes se ergueram sobre o óculos de aro fino fitando duramente a bela mulher que tinha acabado de entrar em seu local de trabalho.

- Me desculpe excelência. Houveram algumas complicações e não pude chegar mais cedo. - Explicou-se com todo o respeito que tinha.

- Que seja. - Suspirou retirando o óculos de leitura o largando junto com os papéis na bancada. - Não quero saber de mais uma de suas desculpas esfarrapadas. Sente-se. - Indicou a cadeira a frente.

- Me perdoe o comentário, mas isso não é linguajar para uma juíza, meritíssima. - Contorceu o rosto em uma careta se sentando na cadeira oferecida.

- Se julgar minha linguagem mais uma vez lhe dou o beneficio de uma multa. Quer arriscar? - Ameaçou apontando a caneta na direção da mulher sentada a sua frente.

- Okay, não está mais aqui quem falou. - Encolheu os ombros. - Pois então, a que devo a honra do seu grandioso chamado? - Indagou para a mulher de maquiagem leve que batia a caneta na madeira incontrolavelmente.

- Está vendo isso aqui. - Apontou para uma pilha de pasta ao seu lado direito. - Queria te agradecer por essa pilha desnecessária de processos. - Sorriu sarcástica.

- Desnecessária? - Franziu a sobrancelha. - Todos eles eram necessários. Apenas fiz o meu trabalho.

A mulher de cima da bancada pegou uma pasta e começou a analisar folha por folha.

- Uma adolescente furtando um óculos em uma das lojas do shopping. Três rapazes consumindo maconha após a um show de rock. Jovem dirigindo sem a carteira... - Pausou largando os papéis. - Você está de brincadeira comigo?

- Mas são infrações.

- Infrações que você mesma pode resolver, Bianca. Você pode muito bem solucionar esses problemas com mais eficácia do que as medidas sócio-educativas que sou obrigada a sentenciar. Você sabe como a lei é falha, então pare de ficar me enviando essas coisas de pequeno porte, porque eu já estou farta de aplicar sermão em marmanjo. Se vira.

The Middle | Versão RabiaOnde histórias criam vida. Descubra agora