The Middle | Versão Rabia

I. Se a quiser viva.

Girou a chave preguiçosamente abrindo a porta do apartamento. Parecia que não descansava a dias, o que de fato acontecia. Largou a bolsa pelo chão enquanto adentrava o recinto. Parou com um sorriso gasto ao se deparar com Rafaella encolhida na poltrona, um pote de pipoca e refrigerante sobre a mesa de centro. O celular e o telefone sem fio lutando para não cair do estofado. Tirou os sapatos para subir no carpete.

Bianca passou as mãos pelos cabelos soltando um suspiro lento, talvez não tivesse sido uma boa ideia desligar o celular. Abaixou rente a silhueta feminina tirando a franja do rosto adormecido. O movimento leve a fez despertar aos poucos. Os olhos verdes piscaram tentando se livrar da neblina.

– Bi? - Murmurou fechando os olhos com força.

– Desculpe, não queria te acordar. - Sussurrou afagando o cabelo preto.

– Hum.. - Puxou o ar com força lutando para se levantar. - Estava tentando ligar pra você, mas só dava fora de área.

– Presumi. - Concordou forçando um sorriso que não passou despercebido.

– O que aconteceu? - Rafaella se inclinou quase completamente desperta.

– Precisava espairecer a cabeça.

– Por que? Manoela ligou aqui pra casa procurando por você, mas não me disse nada.

Bianca ficou de pé passando as mãos pela roupa.

– Vai me dizer o que aconteceu? Você não costuma sair do posto sem dar satisfação.

Bianca fechou os olhos com força tentando afastar a dor que sentia ao longo do corpo.

A raiva lhe sucumbindo mais uma vez.

– O FBI aconteceu. - Rosnou começando a andar pela sala. - Eu trabalho igual a uma escrava naquele inferno, deveria ao menos ter algum crédito. Eu cansei de dizer que estava tudo sob controle e que não precisava de ajuda federal. Agora me responda, para quê essas merdinhas de agentes estão aqui? Só pra me dar mais dor de cabeça. - Bufou gesticulando. Rafaella continuou muda prestando atenção na Andrade inquieta. - Sem contar essa mulher que, Argh! - Coçou a testa franzida.

– Que mulher?

– Gizelly Bicalho. - Respondeu com a voz enojada. - Ela é tão metida, arrogante, prepotente, debochada e... Por que você está rindo? - Parou confusa notando o sorriso fraco no rosto meigo de Rafaella.

– Você está descrevendo a tal mulher ou você? - Indagou risonha ganhando um muxoxo irritado da outra. - Desculpe. O que ela disse?

– Que eu era incompetente. Eu sou incompetente? Quem é ela para me falar uma coisa dessa? Pega a porra da minha ficha e veja quantas coisas eu já fiz nesses poucos anos de policia. Não preciso desse povo que se acha superior recitando ordens para mim ou meus comandados.

– Claro que não. - O tom rouco da Kalimann ganhou a atenção de Bianca. - Você sempre resolveu tudo sem precisar dessas coisas, mas pense bem, ajuda nunca é demais. E afinal, o que eles querem?

– Que trabalhemos juntos. - Respirou fundo se sentando no sofá maior. - Eu sei que ajuda nunca é demais, só que são os federais. Aí você sabe o que vai acontecer? Eles vão fazer um escarcéu, o cara vai se safar pra outro país e nós ganharemos um arquivo morto. Quem é o incompetente da história? Mas eles saem como heróis, né? - Desabafou jogando a cabeça contra o encosto ao fechar os olhos.

– Hey. - Rafaella chamou se levantando para se sentar ao lado da mulher. - Não vou te pedir calma porque sei que isso só vai te dar mais motivos para reclamar. Mas vai ficar tudo bem, okay? - Disse meiga apoiando uma mão no joelho da Andrade.