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Eilen

⊱✿⊰

Janeiro, 1885

Em algumas semanas, a companhia de meu marido em curtos momentos do dia tornou-se menos ímproba, o revés das primícias daquele matrimônio, onde o receio e rubor que regiam meu corpo.

Mamãe exprimia em algumas várias epístolas que escrevia para mim sua preocupação e temor em fazer meu marido desamparar-me por conta de meus raciocínios revoltosos e imorais para uma jovem imatura.

Contanto que nada sensibilizasse nossa imagem em face à comunidade nobre maranhense, tudo me era permitido dentro dos limites de nossa casa. Apreensão esta ensinada por ela.

Talvez eu precisasse de um novo pensamento.

Lina fazia-me companhia na varanda da casa quando o Min apareceu subindo as escadas com um papel em mãos e seu olhar vagou até encontrar-me sentada ali.

─ Eu consegui o contato de um antigo amigo que está passando um tempo no Brasil, ele virá para lhe orientar nas aulas de leitura e escrita.

Me levantei sem vagar nenhum para uma dama e ele estendeu a carta para mim que, mesmo ainda não entendendo suas palavras, tornou-se singular para mim.

─ Verdade?

Ele se aproximou acautelado. Meu marido não tomava o espaço sem ser na intimidade do quarto. Poderia soar apático, mas reconhecia o quanto sua benevolência era-me importante.

─ Sim, está feliz?

Cruzei as mãos em frente ao corpo sem saber como reagir. Seu apoio assomava a uma forte torre que sustentava toda a insegurança no qual eu defrontava pelas manhãs e vê-lo fazendo tal esforço mesmo sem um sentimento mais profundo além de amizade deixou-me sem jeito.

─ Obrigada, meu marido. Isso é maravilhoso de tua parte.

Se afastou, mas não sem antes olhar-me.

─ Não é nada. Vou para o escritório, me chame para o jantar.

Sorriu, sem mostrar muito os dentes, assentindo.

─ Tudo bem.

Ele se retirou deixando-me sozinha na sala de piano e senti meus pés flutuarem de contentamento.

Meus pais, com certeza, iriam maldizer ou censurar a atitude do Min junto com todos os outros se soubessem que um marido permitiu tamanha liberdade a sua esposa. Ia contra tudo que era argumentado pelos mais velhos. Uma afronta.

Teria de mostrar um comportamento municiado de destreza e mestria em velar o lar que me foi conferido pelo casamento para compensar as liberdades que me eram concedidas. Não existia espaço para lapsos ou descuidos, onde só tinha de expressar o mérito do conhecimento que fui agraciada de receber.

⊱✿⊰

Minhas mãos não paravam quietas e já tinha arrumado a mesa na sala de piano da mansão algumas cem vezes. O lugar era perfeito para concentração pois estava longe de possíveis fontes de barulho e perturbação. Não sabia se o professor desejaria lecionar em pé ou sentado, numa mesa ou no estofado, eram muitas as dúvidas. Um toque soou na porta.

─ Pode entrar.

A porta se abriu e um homem alto e robusto atravessou com uma beleza única e nada discreta. Os óculos realçaram suas expressões marcantes e fofas.

REFUTADOS • mygOnde histórias criam vida. Descubra agora