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Eilen

⊱✿⊰

Março, 1885

Estar preparado para uma situação nunca é coeso nem tangível. Até mesmo nos sonhos mais pragmáticos e realistas, deixamos respingar o mínimo de desejo que seja por algo no qual queremos que aconteça. Pensei estar pronta para uma aparição tão grande quanto aquela que faríamos, mas mergulhei demais em expectativas ensaiadas por sonhos bucólicos de minha mente.

Fomos convidados para uma festa na mansão do chefe de estado no qual comemoraria a alta do mercado na capitania. Yoongi ficou surpreso com o convite quando chegou e até pensou em não ir por não se sentir à vontade nesse tipo de evento.

Era óbvio que estaria repleto de pessoas interesseiras e com segundas intenções e também não queria me expor nesse ambiente, mas entendia que meu marido precisava de ligações e novos clientes caso desejasse prosperar com as vendas e isso não se conseguia dentro de casa.

Rita me ajudou a escolher um vestido que não fosse chamativo ou simples demais. Ele era em tons vermelhos, com pregas e decote canoa. As jóias seriam apenas um colar de pérolas e meu precioso anel de casamento.

─ Acha que está bom ou muito nada?

Encarei-a.

─ 'Perdoa a pergunta sinhá, mas por que tanta preocupação? Nunca a vi tão preocupada com uma festa.

─ Será a primeira vez que vamos aparecer em público como um casal. Não sou mais Eilen Almeida, sou a senhora Yoongi Min, esposa de um comerciante importante do litoral maranhense.

Ocupar a posição de esposa não assomava-se em nada a de uma jovem livre de compromissos. Era a imagem de meu marido em jogo.

─ Fico tão feliz pela sinhá. Vai deixar as outras 'tudo no chinelo.

Ri de suas idéias. Claro que não seria a mais bela, mas queria ser bonita para aquele que seguraria minha mão durante a noite.

─ Quero aqueles óleos no meu banho. Quero lavar meu cabelo e tentar fazer cachos no coque.

─ Tudo bem.

⊱✿⊰

Meu coração batia mais forte à medida que nos aproximávamos da grande mansão afastada do litoral. As carruagens e cavalos trotavam no caminho em fileira sobre o calçamento de pedras da estrada.

Muitas pessoas circulavam ao redor procurando uma forma de ver os rostos que chegavam a cada piscar de olhos, mensurando vez após vez o nível social de cada sobrenome considerado credor.

Respirei fundo quando paramos em frente a entrada e Yoongi desceu primeiro erguendo a mão me ajudando. Eu quase não via onde pisava por causa da longa saia e segurei o braço dele entrelaçando com o meu quando vimos as muitas entradas que tinham o longo corredor.

O exagero de luxo era algo absurdo de se ver e o número de pessoas presentes era muito maior do que pensei. Famílias chegavam se apresentando, rapazes levavam as moças para dançar no centro do salão ao som dos violinos, tambores e pianos.

Os vários lustres davam iluminação em qualquer canto que fosse visível e percebi que não teria como me esconder dos olhares curiosos. Como se os tapetes e cortinas de bordados árabes para o pavoneio exacerbado dos anfitriões não merecessem contemplação. Quanto desperdício.

─ Meu senhor conhece alguém aqui?

O questionei perto do ouvido e ele sorriu.

─ Não muito, mas o bastante para não ficarmos jogados ao vento.

REFUTADOS • mygOnde histórias criam vida. Descubra agora