Não olha assim pra mim - Sariette

Capítulo 3: Colidir

(Sugestão de música: Drivers license - Olivia Rodrigo)

POV Ju 

A princípio as palavras de Sarah me deixaram em êxtase, aquilo não podia ser sério, não agora. Fiquei petrificada como quem olha indiretamente para um basilisco, se esquecendo das consequências daquele simples ato. E eu me sentia assim naquele momento, como se as palavras de minha esposa, se ainda posso chamá-la dessa forma, fossem capazes de me petrificar. Tentei me conter, mas as lágrimas saiam como um rio pelos meus olhos, minha dor escorria por meu rosto, enquanto o grito ficava preso na garganta, mas tudo que consegui fazer foi ficar estática, enquanto meu rosto era banhado pelo meu choro.

Sarah caminhou até mim, dizendo algo que não fez o menor sentido: "Não é por falta de amor e sim pelo excesso do mesmo, talvez, um dia, você me entenda, minha estrelinha. É por nós, por todas nós." Que porra de excesso de amor é esse que a pessoa quer ir pra longe de quem ama, véi? Como ela podia ser tão cínica ao ponto de dizer que me ama, logo após me pedir em divórcio? Após simplesmente abrir mão de toda a nossa história em questão de segundos, como se pudesse apagar tudo o que fomos em mais de 6 anos juntas.

Aquilo foi o estopim para mim. Me soltei dos braços de Sarah com violência, sem nem sequer olhar em sua cara e subi as escadas, entorpecida de raiva, tropeçando nos degraus e focando apenas em não cair da mesma, afinal, meu filho não tinha culpa de ter uma mãe louca como Sarah!

Cheguei no quarto, abri nosso armário e apanhei a mala de viagem, começando a empacotar com as primeiras camisetas, calcinhas, sutiãs, shorts e calças que vejo pela frente, não me importava se as roupas eram minhas ou de Sarah, só precisava sair dali o mais rápido possível. Mal organizo minhas coisas e já escuto os passos de Sarah atrás de mim e não demora muito até que sua voz ecoe por nosso quarto:

— Juliette, pelo amor de Deus, o que você tá fazendo? - ela diz entre soluços, o que me faz concluir que também estava chorando. Cínica .

— O que tu acha que tô fazendo? Eu vou-me embora, Sarah, você esperava o que? Não adianta nada eu ficar nessa casa se tu já colocou um ponto final na gente! Quer que eu fique aqui fazendo o quê, se tu nem é mais capaz de olhar no meu olho, Sarah? - Falei aos berros, o nervosismo tomou conta de mim naquele momento.

— Amor, não vou deixar você ir para lugar nenhum agora, olha a hora, já são 23:30h, Juliette!! Amanhã você pode ir se essa ainda for sua vontade, mas, por favor, me escute, não vai agora! - Sarah diz em um tom preocupado, seu nervosismo é evidente em sua voz, pois já começava a falar mais rapidamente e gesticulando, mas eu não conseguiria ficar ao seu lado, não depois de saber que ela já não me queria mais.

— Eu vou ficar bem, Sarah, não que isso te interesse, considerando que justo hoje você decidiu jogar nossas vidas pro alto! - digo fechando e apanhando minha mala, virando-me para Sarah que mantinha uma expressão confusa no rosto, apenas a fitei por um instante antes de deixar nosso quarto e descer a escada. Peguei as chaves do meu carro e sai do meu lar com a certeza que parte de meu coração ficaria lá dentro, parte esta que tinha nome, sobrenome e dividia a vida comigo há mais de 6 anos juntas.

Joguei a mala no banco de trás, tomei meu assento no banco do motorista, dei partida no carro e saí como quem estava indo tirar o pai da forca, haviam tantas perguntas se aglomerando de uma vez só em minha cabeça: "Quando ela decidiu isso? Como ela decidiu isso? Por que ela decidiu isso? Seria novamente aquela rapariga atirada, de Kerline? Não, ela me jurou.. Seriam os sentimentos após a perda de seu pai? Mas eu estava lá pra ela.. Será que deveríamos ter deixado essa história de filhos para um momento mais oportuno? Mas foi ela quem insistiu.." Todas as perguntas martelavam minha mente ainda que eu buscasse manter minha atenção enquanto dirigia.