Capítulo 6: Baixa probabilidade

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(Sugestão de música: Como nossos pais - Elis Regina )

Narrador

Não era a primeira vez que se encontravam em uma situação como aquela. Sarah e Juliette sentiam, novamente, as mesmas sensações de um passado não tão distante.

~ 7 semanas atrás ~

Sarah olhava para seu pai deitado sobre aquele leito, tentando compreender a enxurrada de informações que este havia acabado de literalmente jogar em sua cara.

— Depois de quase 8 anos juntas, Pa! Você me vem com esse papo de não gostar da minha esposa? Vocês sempre foram carne e unha, foi o primeiro a apoiar a ideia de termos um bebê, nos implorava um neto!!! - Sarah passava as mãos pelo cabelo desesperadamente - não consigo acreditar nas coisas que estão saindo de sua boca agora! Você sempre foi tudo pra mim, você e minha mãe! Você a tinha como uma filha!

— Só posso estar sendo castigado pelo seu pecado, olha pra mim, Caroline!!! Seu pai à beira da morte e vocês vivendo como se nada estivesse acontecendo comigo, estou sendo cobrado por apoiar essa união ingrata de vocês durante todos esses anos!

— Essa pessoa não é você, pai! Não sei o que está acontecendo, queria realmente entender o que está passando na sua cabeça nesse momento - olhou nos olhos do mais velho, buscando resposta, mas este simplesmente desvia o olhar, visando um horizonte perdido inexistente - Não posso desistir do meu maior sonho, não agora, pai. Você precisa viver e ver seu neto nascer! Precisa se agarrar a alguma coisa maior que esse seu ego e teimosia!!!

— Quantas vezes vocês já tentaram, Sarah? Seis? Sete? Todas essas falhas não são suficientes pra você entender que tudo isso é errado? Que não deveria estar acontecendo? Quem está sendo teimosa, com essa história de querer filhos com alguém que claramente não serve nem para segurar uma criança no ventre?

— Eu te amo, mas dobre a língua para falar de Juliette! Sua nora tá lá embaixo preocupada com você! Estou há dias tendo que dar desculpas do real motivo dela não poder subir! Ela quer desistir do nosso sonho porque você não luta pela sua vida, porque você insiste em se entregar! - Sarah lutava contra o choro, Evandro não merecia suas lágrimas naquele momento - quero que tenha coragem de dizer as mesmas coisas que me disse para ela, para a pessoa que há quase uma década é parte dessa família, que sempre foi como uma filha pro senhor!

Evandro a encarou por segundos, que pareceram uma eternidade, não conseguia sustentar os olhos suplicantes de sua filha, sua garotinha que tanto amava, ainda mais quando tudo que estava fazendo, era mentir na cara de sua filha. Queria poder mudar o mundo e dar um jeito em toda a situação que estavam metidos, salvar Sarah e Juliette, queria ver o neto que tanto planejava com a nora, ainda que estivesse negando tudo há algum tempo.

Na recepção daquele mesmo hospital, Juliette encarava seu relógio de pulso enquanto esperava sua esposa voltar com boas notícias. Queria ter subido para ver o sogro, mas ultimamente Sarah sempre dava desculpas esfarrapadas para impedi-la de subir. Desta vez realmente tinham que correr dali para a clínica de fertilização, pois, já estava quase no horário marcado mas a loira não estava indo "rapidinho" como havia prometido.

Seus devaneios são interrompidos pela figura loira de Kerline, ex de Sarah, adentrando a recepção com um enorme buquê de flores em mãos. A morena sorriu presunçosa acreditando que a outra também seria impedida de subir, mas diferente disso, logo a mulher cruzou os corredores, indo em direção aos elevadores. Nem havia notado a presença de Juliette ali, ao menos não pareceu notar.

Não olha assim pra mim - SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora