O espetáculo mais triste da história

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Você sabe de onde saiu as expressão "Só quer ver o circo pegar fogo?" Surgiu no Brasil!

No dia 17 de dezembro de 1961 pegou fogo o Gran Circo Norte-Americano, em que morreram 503 pessoas (a maioria, crianças) e mais de 800 ficaram feridas. Ele ficava na atual Praça do Expedicionário, no Centro. Tinha estreado dois dias antes. A tragédia deixou um trauma tão grande na população, que outro circo só estreou na cidade somente em 1975. Mesmo assim, muitos não quiseram ir, com medo de um novo incêndio. O fato provocou uma comoção em todo o país.

O Gran Circo Norte-Americano, de americano mesmo tinha só o nome e um artista, o palhaço Walter Alex. O proprietário, Danilo Stevanovich, era gaúcho de Cacequi, membro de uma família de sete irmãos que tinha uma rede de circos. Os anúncios diziam que era o maior e mais completo circo da América Latina, com 60 artistas, 20 empregados e 150 animais.

Stevanovich contratou cerca de 50 trabalhadores avulsos para a montagem. Um deles, Adílson Marcelino Alves, o “Dequinha”, tinha antecedentes por furto e apresentava problemas mentais. Trabalhou dois dias e foi demitido. Revoltado, Dequinha passou a rondar as imediações do circo. Na noite da estreia, dia 15, ele tentou entrar no circo sem pagar o ingresso, mas foi visto e barrado. No dia seguinte, o ex-funcionário voltou ao local e provocou o arrumador Maciel Felizardo, acusado de ser culpado da demissão de Dequinha. Na discussão, Felizardo agrediu Dequinha, que reagiu e jurou vingança.

Na tarde de 17 de dezembro, Dequinha se reuniu com José dos Santos, o Pardal, e Walter Rosa dos Santos, o “Bigode”, com o plano de pôr fogo no circo. Com três mil pessoas na plateia, faltavam 20 minutos para o espetáculo acabar, quando uma trapezista notou o incêndio. Em pouco mais de cinco minutos, o circo foi completamente devorado pelas chamas. Um elefante fêmea, Semba, que estava no picadeiro, fez uma corrida desesperada quando um pedaço de lona queimada lhe caiu sobre o couro. O animal abriu caminho e acabou salvando inúmeras pessoas – mas também fez vítimas em seu trajeto.

Por coincidência, naquele dia, a classe médica do estado estava em greve. O Hospital Antônio Pedro estava fechado. A população arrombou a porta e os médicos em greve foram sendo convocados através da rádio, pelos soldados do Exército, os quais compareceram ao hospital de imediato. Médicos de clínicas privadas também foram atender ao hospital.

Quando houve o incêndio, o cirurgião plástico Ivo Pitanguy trabalhava como professor na PUC e ainda não tinha inaugurado a famosa clínica na Rua Dona Mariana, em Botafogo. No dia, ele seguia para a Santa Casa da Misericórdia quando ouviu, pelo rádio, o anúncio de que o circo pegava fogo. Pitanguy seguiu para o Iate Clube do Rio e, a bordo da sua lancha particular, atravessou a Baía de Guanabara para se juntar ao mutirão que procurava ajudar as vítimas. O então presidente João Goulart também veio a Niterói prestar solidariedade aos familiares das vítimas.

O Ginásio Caio Martins foi transformado numa oficina provisória para a construção rápida de caixões, com carpinteiros da região a trabalharem dia e noite. Os cemitérios municipais de Niterói logo ficaram lotados; assim, uma roça na cidade de São Gonçalo foi usada como cemitério para enterrar o restante dos corpos. O palhaço Carequinha financiou a construção do novo cemitério.

Com base no depoimento de funcionários do circo que acompanharam as ameaças de Dequinha, ele foi preso em 22 de dezembro de 1961. Os cúmplices Bigode e Pardal também foram presos.

Em 24 de outubro de 1962, Dequinha foi condenado a 16 anos de prisão e a mais 6 anos de internação em manicômio judiciário, como medida de segurança. Em 1973, menos de um mês depois de fugir da prisão, foi assassinado. Bigode recebeu 16 anos de condenação, e mais 1 ano em colônia agrícola. Finalmente, Pardal foi condenado a 14 anos de prisão, e mais 2 anos em colônia agrícola.

A tragédia virou tema do livro “O espetáculo mais triste da história”, do jornalista Mauro Ventura, pela editora Companhia das Letras, lançado em 2011. Ele desmente o mito do Profeta Gentileza, de que ele seria um dos sobreviventes do incêndio. Na verdade, José Datrino, seu nome de batismo, motorista de caminhão, disse ter ouvido um “chamado divino” e resolveu consolar as pessoas. Ele é o autor de mensagens nas pilastras do bairro do Caju, no Rio.

 Ele é o autor de mensagens nas pilastras do bairro do Caju, no Rio

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