7 - Eu amo tanto você

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Confusão foi algo fácil de ler na expressão do anjo.

Por ser quem era, ele se recuperou mais rápido. E, ao abrir os olhos, a primeira coisa que notou foi uma forte dor no braço esquerdo. Joshua se sentou, com alguma dificuldade e percebeu que algo mais estava errado. Vasculhou rapidamente o local a procura de Ayla, a encontrando inerte, jogada de qualquer jeito a alguns metros de onde ele mesmo havia caído.

Joshua não sabia dizer ao certo o que houve, mas estava claro que em algum momento, ele e a moça tinham sido atingidos e ela havia sido arremessada de seus braços rudemente.

- Ayla?

Chamou baixinho, tentando se pôr de pé, mas falhou. Voltando a cair sentado com um baque surdo. Girou, olhando em seu próprio corpo, procurando pela razão do seu desequilíbrio e não demorou a encontrar. Sua asa esquerda se encontrava quebrada. Sem entender, mas sem tempo para isso, rastejou até a jovem para verificar seus machucados.

- Não adianta. Ela está inconsciente. - uma voz rouca o surpreendeu. Joshua olhou na direção e encontrou o caído sobrevoando, quase que pacificamente, acima de si, com uma aura escura o cercando.

- Por que a atacou? Quem é você?

- Joshua. Joshua. Nós éramos bons amigos. Como pôde se esquecer de mim? Do que fiz por você?

WonWoo num gesto rápido, desceu e agarrou o anjo pelo pescoço, voltando a subir e ficar planando no alto.

- Como pôde entregar minha última esperança assim de bandeja? Sabe muito bem o quanto ela significa para mim. ELA É A MINHA VIDA! - aproximou o seu rosto do dele e sussurrou maquiavélico. - Ou... nesse caso, minha morte.

Joshua começou a se debater, mas sem muitos resultados. Seu poder de cura não estava funcionando. Ele não conseguiria batalhar com o demônio, nem se quisesse. 

Por que me machuquei tanto? Por que não estou me curando? Por que não está funcionando? O que há com o meu poder?

- Como está conseguindo impedir meu poder de me curar?

- Eu não estou impedindo nada. Se você não entende seu próprio poder, não cabe a mim ensiná-lo.

- Foi você quem nos apagou? Por quê? Para me subjugar?

- Não, Joshua. Preciso da sua amiguinha ali. Ela é a única que pode me devolver o que eu procuro desde que deixei vocês. Você só estava no lugar errado. Por que vir quando ela chamou, se você nem ao menos se lembra do por que precisa estar com ela?

- Como... conseguiu...?

- O que? Atingir você? - WonWoo riu diabólico, jogando a cabeça para trás. Ao abaixá-la, segundos depois, seu olhar quase perfurou o anjo. - Então você não está fingindo. Você não tem consciência mesmo. Isso é uma vergonha. Você me decepciona.

WonWoo liberou o pescoço de Joshua e o mesmo despencou, atingindo o chão com um estrondo, liberando todo o ar de seus pulmões. WonWoo aproveitou a brecha e voou até Ayla. Antes que conseguisse alcançá-la, Joshua se virou rápido o bastante, para alguém machucado, e o golpeou com a sua asa boa. O demônio passou voando por cima do corpo da jovem e atravessou a parede logo acima dela, indo cair longe da vista do anjo.

Joshua engatinhou até ela e a virou sobre as próprias costas. Ayla parecia serena, mas ela havia se machucado. E o anjo então recordou. A culpa era sua. 


Quando jogou o caído contra a vidraça, pensou que teria tempo para tirar Ayla dali, mas seu erro foi se deixar ser tocado por ela. Quando ele viu que ela o via, deixou seus sentimentos aflorarem e comandarem. A felicidade que sentiu por poder segurá-la, com ela tendo ciência disso, o impediu de ver o golpe chegando em retaliação.

WonWoo os atingiu numa velocidade tão grande que se assemelhou a um forte clarão. Devido a isso, Ayla caiu com o rosto voltado para baixo e, no momento, exibia hematomas nele, bem como parecia ter quebrado um pulso e torcido o tornozelo. 


Joshua se preparou para iniciar o processo de bênção quando o demônio o surpreendeu, caindo sobre si.

Os dois rolaram para longe da jovem e WonWoo parou sobre o anjo. Levantou o punho para acertar-lhe um soco, mas Joshua usou uma das pernas, impulsionando abaixo do abdômen do outro e o jogando para cima. WonWoo nem chegou a cair. Abriu as asas depressa, o que o manteve no ar.

Joshua rolou para a direita, se pondo de joelhos. Segurou o braço machucado junto ao peito e recitando algumas palavras conjurou sua espada, que logo apareceu em sua mão livre. WonWoo, sem se deixar abalar, investiu contra o anjo de mãos nuas. Ele já estava vulnerável, então não seria um desafio para si.

Enrolando-se em suas asas, ele se lançou sobre o anjo como se fosse um rolo compressor. Joshua conseguiu desviar, mas não rápido o suficiente. O vento produzido pelo outro o derrubou e arrancou sua espada da sua mão. O caído parou, se aproximou do anjo por trás, quando este se virou para buscar por sua arma, e deu nele uma gravata. O pescoço do anjo começou a queimar pelo toque maligno.

- Quietinho. Não desejo matar você. Só quero deixá-lo inconsciente.

- Não vou permitir que leve Ayla.

- E o que vai fazer? Mal se aguenta em pé.

- Farei o que for preciso para impedi-lo de prejudicá-la. ELA É MINHA PARA PROTEGER!

E enfatizando entre dentes a última frase, Joshua segurou o braço do demônio, mesmo que aquilo o estivesse lhe causando mais queimaduras, impulsou seu corpo para trás e depois, com o peso de ambos, se inclinou para frente, dando uma cambalhota e caindo sobre o corpo do caído. Acertou uma cotovelada nele, logo abaixo das costelas. WonWoo grunhiu alto. Joshua rolou de cima dele, aproveitando a distração do outro, que buscava por ar, e recuperou sua espada. Levantou-a prestes a atacar o demônio, para impedi-lo de atentar contra Ayla, quando uma voz desesperada o parou.

- Não faça isso, Joshua! - tanto ele quanto WonWoo, que olhou por cima da própria cabeça, na direção que ordenava ao anjo, se surpreenderam. - WonWoo não é seu inimigo. Ele só está confuso.

- Do que está falando, Ayla? - o anjo baixou a arma perplexo demais para fazer qualquer outra coisa. A moça estava de pé, parecendo até que bem, e se dirigiu até eles. - Você não estava machucada?

Joshua tentou levantar para ir ao encontro dela, mas falhou. Caindo sobre os próprios joelhos ao ver a jovem se voltar para WonWoo, caminhando e se abaixando ao lado dele. Ela pegou a mão do caído com uma das suas e com a outra tocou o rosto dele, sorrindo.

- Oi, querido. Senti sua falta.

O demônio sentou rápido e a puxou para um abraço apertado. Segurando as costas e a cabeça dela, pressionou o rosto em seu peito. Joshua presenciava tudo sem saber como reagir, mas podia jurar que viu uma lágrima escorrer do olho do caído.

- É você mesmo? Minha nossa... eu achei... achei...

- Eu sei. Sinto muito por tê-lo deixado.

- Não importa. Você está aqui comigo agora e é só o que conta.

Ela se afastou, segurou o rosto dele com as duas mãos e aproximou o seu até que ambos estavam com os narizes um contra o outro.

- Eu amo tanto você.

Ouvir aquilo foi demais para o anjo. Aquela cena não podia ser real. Aquela não era sua Ayla. Não podia ser. Sua pequena humana. Deveria haver uma explicação plausível para o que presenciava. Ele não queria e não podia acreditar no que via e ouvia.

Como ela pode amá-lo, se é por mim que sempre chama?

Engolindo a dor no corpo e o ressentimento pelo que via, se colocou de pé trêmulo e segurando o braço ferido com o bom, deixou escapar em um sussurro.

- O que significa isso, Ayla?



Fallin' ↬ Joshua HongOnde histórias criam vida. Descubra agora