6 - O que aconteceu com você?

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Enquanto o elevador subia, andar por andar, Ayla remexia-se inquieta, apertando as pastas firmes contra o peito. De todos os andares, o 13º era o único que nunca havia lhe sido concedida uma visita, então não era surpresa seu estranhamento quanto a JunHui pedir isso tão do nada.

Os três andares passaram em um borrão e, sem dar a ela tempo para pensar muito, as portas se abriram para revelar um andar inteiro imerso em escuridão. Ao pisar fora da caixa metálica, o frio em sua espinha se intensificou. Ayla podia até jurar que o silêncio presente ali quase criava uma neblina gelada e visível, daquelas dignas de filmes de terror; ela sentiu quase como se pisasse em uma das inúmeras camadas do submundo.

- Olá? Tem alguém aqui?

O som da sua voz ecoou no vazio daquele lugar e segundos após o silêncio reinar novamente, uma luz foi acessa no canto remoto, à esquerda dela. Uma luz solitária em um dos biombos. A cadeira se moveu, mas ela não conseguiu distinguir quem era. A passos lentos e muito cautelosos, prosseguiu:

- Senhor Xu? Meu chefe, o senhor Wen, disse-me que precisava dessas pastas, eu... - interrompeu-se ao alcançar o pequeno biombo.

A cadeira moveu-se novamente, mostrando a ela um homem que, com toda certeza, não era MingHao. O cara era mais encorpado, moreno e mais alto. Ela não via seus cabelos, mas tinha certeza de que eram curtos. Ao contrário do Xu que os mantinha próximos a altura do queixo com franjas caindo sobre o rosto.

Suavemente, com a graciosidade de um predador, ele levantou. Um pé após o outro, indo em direção a pobre secretária que recuou de mesmo modo. Uma vez que confirmou que o desconhecido lhe era, além disso, uma ameaça.

- Não fuja, cordeirinho. Preciso de você.

Ayla não sabia dizer o que a assustou mais. Se foi o modo como se moveu, se foi a voz que quase pareceu desumana, uma mistura de rosnado somado ao tom rouco que lhe devia ser próprio. Se foi o fato dele estar todo vestido de preto ou se foi quando, ao soltar as pastas e tentar correr de volta para o elevador, ele se lançou para frente. Correndo e empurrando-a fortemente contra uma das pilastras.

Ayla não viu o golpe chegando, só sentiu quando caiu ofegante sobre seu estômago pelo baque. Mas, antes que pudesse se pôr de pé, o estranho numa velocidade sem igual a pegou pela garganta, a prendendo com as costas contra a pilastra. Sem nem ao menos lhe dar tempo para recuperar o ar.

- Eu disse para não fugir. - ele quase rosnou, outra vez. - Estou programado para seguir meus instintos, que me mandam caçar quando vejo meu alvo tentando escapar.

Ele ergueu a cabeça para dar-lhe uma visão clara de si ao, a pouca luz proveniente que vinha de fora, pelas enormes janelas de vidro, tocarem seu rosto. Suas feições eram duras, mas ele possuía um rosto lindo. Embora, ele mostrasse um sorriso diabólico, seu olhar dizia o contrário. Aquele olhar...

- Quem... quem... é... você?

- Onde está?

- Onde... está... o que?

- Não se faça de desentendida. Preciso dela. Preciso de você.

Um pequeno ponto de cor iluminou seu olhar pequeno, antes de ser apagado por nada além de vazio. O homem parecia sofrer, necessitando ser ajudado. Ayla sabia que corria perigo. Sabia o quão temerosa pela própria vida se encontrava, mas vê-lo e sentir conhecê-lo, libertou outros tipos de sentimentos nela, além do medo.

Ela quis ajudá-lo. Salvá-lo. Não entendia, porém sentia que ele precisava. Com uma força de vontade, saída sabe-se lá de onde, Ayla, vagarosamente, levantou a mão e tocou-lhe a bochecha. Uma série de imagens foram projetadas diretamente em seu cérebro. Imagens rápidas e confusas. A pessoa em sua frente estava na maioria delas e então um nome escapou de seus lábios.

- WonWoo.

Por um segundo, ele sorriu inocentemente para ela, antes de grunhir alto, jogando a cabeça para trás e derrubá-la com ele no chão. WonWoo se contorceu em dor. Ayla conseguiu sentar com um pouco de dificuldade, devido ao movimento inesperado, e presenciou quando ele, ainda se contorcendo, ficou apoiado nos joelhos e mãos, até se pôr de pé e gritar.

A jovem ofegou ao ver saírem de suas costas duas longas asas negras. Ele silenciou. Sua cabeça abaixou até seus olhos estarem na altura dos dela. O olhar dele exalava puro ódio. Ayla tremeu. Conseguindo ficar de pé, esperou poder fugir ao olhar na direção da porta de saída, medindo quanto seria preciso correr para chegar até ela. WonWoo, pressentindo sua intenção, agilmente e com uma das asas a impediu, voltando a prendê-la contra a parede.

- O que aconteceu com você? - perguntou ainda meio incerta do por que.

- Gostou do que você fez comigo? - contrariou, sorrindo maldoso novamente. - Tentei salvar você e seu anjo e veja no que resultou. Espero que fique feliz, pois, a partir de agora, eu serei seu pior pesadelo.

- Meu anjo? - Ayla estava apavorada, mas aquelas palavras não lhe eram estranhas. Forçou a mente ao máximo, então outro nome. - Joshua! - quase gritou, um tanto emocionada.

- Oh. Vejo que se lembra. - outro sorriso. - Agora, vamos tentar de novo. Onde está a petúnia?

Ele se aproximou, apertando Ayla ainda mais com a asa. Um silêncio dela veio em resposta. WonWoo apertou mais e já quase inconsciente, pelo sufocamento, ela sussurrou:

- Shua, por favor. Preciso de você.

Cedendo, por fim, a escuridão que lhe chamava, a jovem fechou os olhos. Teve tempo apenas de ouvir um forte estrondo, o som de vidro quebrando, sentir um forte vento e então braços suaves a segurarem, quando o aperto afrouxou em seu pescoço.

- Estou aqui, Ayla. - a citada sentiu uma leve carícia em seu rosto. Seu anjo retirou sua franja da testa e segurou com o polegar sua bochecha. - Eu tenho você.

Ouvindo a voz suave, abriu os olhos devagar para fitar o rosto mais lindo e iluminado que já vira. Como se ele tivesse luz própria. Era tão belo, que sem se conter e sem se dar conta, usando o restante de energia que lhe restava, Ayla acariciou-o suavemente e sorriu, aninhando-se mais contra o peito dele.

- Você...

Antes que pudesse dizer qualquer coisa, os dois foram pegos de surpresa ao serem cegados por um forte, intenso e quente clarão que os apagou instantaneamente.



Fallin' ↬ Joshua HongOnde histórias criam vida. Descubra agora