52 - Por ela.

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Semanas se passaram.

Talvez meses.

Ayla já nem sabia mais.

Parara de contar há algum tempo.

Para falar a verdade, ela deixara de notar várias coisas.

Como, por exemplo, o quão magra estava. Suas curvas naturais acentuadas, devido ao fato de ser baixinha, haviam sumido. Seus olhos negros com pontos brilhantes estavam opacos e sem vida. Os lábios ressecados e partidos. Olheiras fundas, bochechas magérrimas. Os cabelos sempre longos e bem cuidados, foram cortados precariamente até a nuca num gesto bem impulsivo.

E ao contrário da fase de bloqueio, que passara antes de tudo aquilo, ela vinha pintando feito louca e sem cessar.

MingHao, assim como Jun, estavam para lá de preocupados.

O médico mais do que qualquer um, afinal, a jovem vinha tendo crises e surtos cada vez mais frequentes e com intervalos cada vez mais curtos. Ele temia pela saúde mental dela. Já havia abordado o assunto com Joshua e SeungCheol, mas o líder dissera que não tinha muito a ser feito; que o anjo platinado deveria ficar com ela e fazê-la descansar, contudo Ayla não o ouvia.

Sequer estava passando tempo ao lado dele, evitava-o o máximo que conseguia.

A jovem passava dia e noite dentro da galeria, praticamente se mudara para lá, se recusando a sair ou sequer ver a luz do sol (mesmo que pela janela de alguns dos outros andares da empresa), o que deu a seu tom sempre bronzeado, um tom amarelado, indicando o quão a beira de ficar doente ela estava.

Além de perder a sanidade.

Por vezes, quando tinha seus surtos e crises, parava de falar coisa com coisa, ficava agressiva e fora de si. E nos momentos em que ficava lúcida, o que eram poucos, ela não se importava.

Nada mais importava.

Talvez, se ela caísse forte o suficiente, a um ponto sem volta, ela pudesse barganhar: sua vida em troca da do seu amigo.

Pensar em WonWoo doía. 

Sonhar com WonWoo doía ainda mais. 

Pintar WonWoo... 

... era insuportável. 

E foi por isso que quando retomou os sentidos, após mais uma de suas previsões, e fitou a obra em sua frente, Ayla a estapeou, jogando-a no chão.

Num ímpeto de fúria, ela saiu correndo, ao longo da parede, e derrubou todas as suas mais recentes pinturas, pisando sobre elas, riscando-as, danificando-as, como se aquilo pudesse aplacar, ao menos um pouco, a dor em seu peito.

Uma dor tão grande que, não cabendo mais dentro de si, vazou-lhe pelos olhos.

Ayla se agachou, abraçando os joelhos e chorando alto, como vinha fazendo com certa frequência.

Alguns poucos minutos depois, a jovem sentiu um corpo grande se abaixar ao seu lado e braços fortes, bem como asas um tanto quanto ásperas, rodeando-a. O Escolhido sentou-se, apoiando as costas contra a parede e puxou a jovem para seu peito, abraçando-a apertado e permitindo que ela chorasse o quanto quisesse.

- Pode chorar, coelhinha. Faz bem para a alma. E você vem carregando isso há um bom tempo.

Como se aquele fosse todo o incentivo que precisava, Ayla deixou as comportas se abrirem e se permitiu ser consolada pelo amigo.

Quando percebeu que já havia chorado o suficiente, ela se afastou e o encarou. O anjo sorriu fraco e levou os polegares até suas bochechas, secando suas lágrimas.

Fallin' ↬ Joshua HongOnde histórias criam vida. Descubra agora