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Ela não pode compreender que eu não quero falar de feridas do passado? Ela conseguia virá-lo do avesso em poucos segundos. Era assustador para ele como ela conseguia controlá-lo como um cachorro. Em breve ele seria obrigado a chafurdar no passado e estava longe de estar pronto. Ainda não... mas quando estaria? Já passaram anos e ele não contou a ninguém.

"CHLOE?" Ela já estava longe. Como é que uma menina tão frágil podia andar tanto? Ele correu atrás dela. Quando ela sentiu que ele estava perto começou a correr também. "Pára por favor!" Por mais que lhe custasse admitir ela tinha razão... ele não a deixou entrar totalmente na sua vida, ele não lhe contou as coisas horríveis que fez. Lucifer só mantinha as aparências por medo do que ela poderia pensar dele.

Assim que a pegou pela cintura ela começa a lutar para se soltar. "Podemos falar por favor?"

"Eu não quero mais falar contigo."

"Então ouve o que tenho para te dizer." Ela não estava a olhar para ele, mas tinha parado de se agitar o que já era um começo. "Isto não é fácil para mim e eu já te pedi algum tempo."

"Leva todo o tempo que quiseres... Não te arrependas quando for tarde de mais." Ela diz chateada e ainda distante.

"Tu não sabes muita coisa sobre mim e eu não quero que me vejas de uma forma diferente quando te contar."

"Então não vais contar-me?"

"Eu vou contar a seu tempo."

"Enquanto estiveres a fugir o tempo nunca será o certo."

"Eu estou a fazer um esforço... eu quero falar contigo quando chegarmos a casa. Depois de nos acalmarmos."

"Espero que seja bom... se não eu juro que fujo." Ela diz sem saber o que dizer.

"Estamos numa ilha... não vais longe."

"Vou longe o suficiente para te preocupar por algumas horas." Ela testa.

Ele não queria experimentar. "Podemos ir então?"

"Espera." Ela curva-se para a água e pega alguma coisa. Lucifer também se aproxima para ver.

"É um búzio de Tritão... é dos grandes e ainda completo, és uma menina de sorte."

"A sério?" Ela diz maravilhada. Era fantástico ver um sorriso no rosto dela.

"Sim, normalmente só se encontra em alto mar."

"Que fantástico!"

"Posso contar-te um segredo?" Lucifer aproximasse.

"O que é?"

"Podes ouvir o mar com ele."

"Ouvir o mar? Como?"

Ele traz o búzio perto do ouvido e os olhos dela brilham instantaneamente. "É perfeito!" Diz ela olhando para o búzio com orgulho. "É para ti." Ela estendeu a mão para ele.

"Para mim?" Lucifer pergunta confuso.

"Sim, eu estive este tempo todo á procura de algo para ti... só não encontrava algo perfeito."

"É teu, tu encontraste-o."

"É uma prenda! Aceita."

Lucifer não consegui deixar de sorri. O sorriso mais tolo do mundo, ela era incrível e ele tinha sorte de a ter nesse momento. O mundo parecia simples de repente e ele estava a desperdiçar oportunidades para a conquistar ao manter os seus segredos.

"Eu ainda estou chateada contigo... Não penses que vou pedir desculpa pelo que disse porque não vou." Diz ela ainda séria.

Eu tenho de a deixar entrar... só um pequeno esforço e nunca mais terei de falar nisso.

Ele aproxima-se dela e beija-lhe o topo da cabeça. Inadequado! Demostrar sentimentos em público era inadequado... quer dizer... ali tudo é permitido. "Obrigada." É a única coisa que ele diz.

Isso fez o coração de Chloe derreter... ele era realmente romântico como a Maze disse. Como é que ele podia agir assim sabendo que ela estava chateada era um mistério para ela. Ele devia estar furioso com ela por o desrespeitar.

*

"Podemos falar quando terminarmos ou queres descansar primeiro?" Pergunta Lucifer.

"Podemos falar." Ela diz demasiado curiosa para se controlar.

Terminaram a refeição e foram para o escritório.

"Não quero que ninguém se aproxime deste corredor enquanto estiver aqui com a princesa." Diz Lucifer para o empregado, o pobre homem apenas treme e assente.

Isto era realmente necessário? Chloe pensa.

Lucifer abre a porta e deixa-a entrar em primeiro lugar. "Senta-te por favor." Ele diz fechando a porta.

Passaram alguns segundos antes de falar novamente. "Nunca pensei ter de contar isto a alguém e muito menos ter de te contar a ti. Nem sei como começar..."

A respiração dele estava instável. "Respira. Começa pelo início."

Ele dá-lhe um leve sorriso antes de continuar. "Eu tinha 6 anos eramos a família mais respeitada pelos saques que eram feitos pelo meu pai. A minha mãe acabou por morrer e eu e Michael ficamos com uma tia. Essa tia morreu cerca de dois anos depois e então ficamos totalmente sozinhos a partir daí." Ele ficou um tempo a refletir.

"Tenho a certeza de que a tua mãe te amava tanto como tu a amas." Ela tenta confortar.

"Uma noite... o meu pai estava no bordel a comemorar mais um saque e a minha mãe estava aqui em casa a tocar uma canção de embalar para mim e para o meu irmão, nós estávamos no quarto. Podias ouvir o piano em toda a casa... então o piano parou." Ele estava claramente em sofrimento.

"Não temos de falar disso agora." Chloe acalma-o.

"Eu tenho de te deixar entrar... Tu tens de saber."

"Lucifer..."

"O meu irmão já estava a dormir, mas eu esperava sempre até chegar à última nota para adormecer e então levantei-me para ver. Ouve um estrondo e então... notas irregulares suaram em toda a casa. Vi dois homens entrarem no cofre e então eu corri para a sala do piano onde a minha mãe estava... havia sangue por toda a parte e ela estava no chão."

"Mamã?"

"Lucifer... querido."

"Mamã!" A pobre criança começa a chorar.

"Shhh... não chores. Tens de ser forte... eu sei que consegues. Pega no teu irmão e foge, encontra o teu pai ele vai saber o que fazer."

"Mamã." Ele não a deixou.

"Lucifer, eu amo-te! Agora vai... salva as vossas vidas!"

"E tu mamã?"

"É tarde demais... eu vou estar sempre contigo querido. Foge!" Então a criança correu da sala.

"Eu só tive tempo de pegar no meu irmão e sair antes que me vissem, o meu pai encontrou-me na rua. Ele correu para casa e quando saiu trazia 2 cabeças dos bastardos que fizeram aquilo com a minha mãe... Eu não a consegui salvar!"

"Lucifer... tu tinhas 6 anos e salvaste o teu irmão aquela noite. Foste um herói."

"Como é que me podes ver como um herói quando o que fiz foi fugir?"

"Não sejas tão duro contigo."

"Eu não terminei de qualquer maneira... os corpos dos homens foram deitados ao mar e ninguém ficou a saber que foi um assalto. Todos pensam que foi uma doença."

"Porquê?"

"O meu pai tinha muitos planos. Ele conseguiu ficar com muitas propriedades e com o triplo da tripulação em menos de uma semana. Adivinha... ele queria ir para o mar, mas ele fez uma promessa à minha mãe. Ele não nos podia deixar... ele teve de ficar connosco e deixar o navio, começaram os esquemas e as hierarquias. O meu pai começou a nomear capitães e a negociar em terra e foi muito bom com isso."

PirataOnde histórias criam vida. Descubra agora