🦋052🦋

684 58 9
                                    

Bárbara

Acho que estou tendo um déjà vu. Alguma coisa me parece muito familiar nesta cena.
A chuva, Victor se aproximando de mim e me deixando contra a janela
gelada, Victor na mesma sala de aula que eu, Victor tentando descobrir o que estou pensando ou... ou escrevendo.

Meu sonho! Isso é familiar para mim porque já tive um sonho que era praticamente igual ao que está
acontecendo agora.
Meus olhos correm pela sala inteira tentando analisar a situação.

Tudo está muito parecido, exceto que não estamos praticamente sozinhos na escola.
A escola está cheia, mas meus pulmões estão completamente vazios de
ar.

Ele se aproxima ainda mais de mim, dizendo suas palavras, e eu sem saber o que sentir sobre elas.
Gosto que Victor diga essas coisas para mim, e quase como se ele me considerasse dele, mas talvez ele me considere exclusivamente dele, e não acho que isso está certo.

Não sei o que meu rosto ou meu corpo transparece, só sei que a expressão de Victor muda.
Ele para de se aproximar de mim e fica calado.
Suas mãos começam a percorrer
meus ombros e meus braços, então chegam às minhas mãos, onde ele as segura com extrema importância
delicadeza, quase como se minha mão fosse se quebrar se ele a segurasse com muita força.

"Eu sou um idiota," ele diz, para a minha surpresa.

Fico calada.
Com certeza não esperava por isso, e agora não sei como reagir.

"Eu agi como um idiota perto de você por esse tempo todo, inclusive agora, e não quero que você tenha essa
imagem de mim, não quero ser isso, então... eu, eu quero
me desculpar."

Victor está tão ansioso que é quase como se alguém tivesse o ameaçando para pedir desculpas para mimn.
Percebo que suas mãos começam a suar frio e seus lábios se pressionando constantemente, como se ele estivesse em uma luta consigo mesmo para conseguir dizer.

"Eu," Ele continua. "Me... me desculpa, Babi."

Eu apenas o observo.
Quero falar alguma coisa, mas nada
sai da minha boca, nada vem à minha mente.
Apenas me concentro nele, nos seus olhos e na sua boca, sua mente
e seus pensamentos, mas tudo ainda me parece confuso demais.

Porque ele está pedindo desculpas para mim? Isso está confundindo completamente a minha cabeça.
Victor não pede desculpas para ninguém, eu sei disso, todos sabem.

"É sincero?" Pergunto, com medo da resposta.

Victor apenas sorri para mim.
Um sorriso inocente e sincero, e faz que sim com a cabeça.
Mas vejo que ele está pensando e sentindo coisas demais para poder dizer.

Dizer isso para mim realmente deve estar o matando, mas isso também me mata.
Agora eu quero lhe mostrar, mas se
eu fizer isso, me sentirei, de alguma forma, vulnerável.
Mas talvez eu já esteja.
Estou encarando Victor e pensando sobre tudo por tanto tempo que esqueço que estamos na escola.

Esqueço que estamos encharcados da água da chuva, de que pode ter
alguma aula nessa sala a qualquer momento, de que a chuva está mais forte do que nossas vozes, mas que eu só consigo ouvir a sua voz, e de que Victor nunca me pareceu tão deslumbrante como agora.

"Você não vai falar nada?" Ele pergunta, e consigo ouvir
uma palpitada do seu coração a cada palavra.

Ou talvezseja o meu.

"E-eu não sei," gaguejo. "Não esperava por isso."

"Para ser sincero, eu também não, mas achei que seria o certo."

Faço que sim com a cabeça, ainda em choque.

"Tudo bem," ele diz, ao ver minha expressão quase horrorizada de tão surpresa.
"Acho que vou me secar agora, temos que ir para a aula."

Diga meu nome Onde histórias criam vida. Descubra agora