Eu não sentia o chão abaixo dos meus pés. Eu não sentia o ar sair dos meus pulmões. Meu coração batia tão lentamente que eu mal conseguia me sentir vivo. A única coisa que eu sentia era um vazio imenso no meu peito.
Eu estava tão consumido pela dor que mal me reconhecia, mal conseguia me enxergar no meio de todo esse caos que a minha vida se transformou. Esses malditos oito dias que a Alya permaneceu desacordada desestruturam tudo ao meu redor, me tiraram do eixo, levaram embora meu foco, minha luz, meu ar e a minha esperança. Nunca imaginei que cabia tanta dor dentro de um ser humano até que – toda a dor do mundo parecia estar concentrada apenas sobre mim.
A certeza de que ela acordaria me trazia um pouco de paz nos meus momentos mais sombrios, nos momentos em que as minhas lágrimas pareciam me afogar dentro do meu próprio desespero, mas sempre havia a dúvida. Aquela maldita dúvida. A dúvida de que isso realmente aconteceria, a dúvida de que, por impiedade do destino a Alya poderia ficar desacordada por meses, ou até... Odeio falar isso... Poderia ficar desacordada por anos.
Se antes eu tinha alguma hesitação, posso afirmar que ela não existe mais quando me pergunto se seria capaz de sobreviver se a Alya não estivesse mais aqui. Nunca tinha tido a sensação da minha vida depender unicamente da vida de outra pessoa, mas agora me encontro aqui... Implorando e gritando com toda a minha força para que um ser maior a faça acordar logo porque sei que minha vida acabaria se isso não acontecesse.
Estou definhando aos poucos.
Se a alguns meses alguém me dissesse que o amor me deixaria tão desesperado, louco e entregue a alguém da forma como sou pela Alya, acho que eu riria da cara da pessoa e diria que isso não tinha como ser possível. Eu estava completamente satisfeito com a minha vida, com o meu trabalho, com a minha família, mas quando olhei naqueles olhos pela primeira vez sabia que nada mais na minha vida seria igual...
E eu não estava errado... Agora estou aqui, no chão gelado desse hospital, desesperado depois de mais um dia sem ouvir a voz da Alya, sem nenhuma novidade médica, sem nenhum sinal, presságio ou intuição que alimente a minha esperança completamente desfalecida. Estou com um medo absurdo de que isso perdure por mais tempo, que o silêncio e a mão fria da Alya sejam as únicas coisas que me restem dela acompanhados das nossas lembranças que me torturam bem mais do que me acalentam agora. Como eu sinto falta de sentir a vida bem na palma das minhas mãos. De ver o seu sorriso deixando tudo a nossa volta ainda mais lindo e dos seus olhos encarando os meus, me fazendo lembrar de que tudo que eu preciso está bem ali na minha frente, bem diante dos meus olhos. Eu nunca precisei de algo ou alguém como eu preciso da Alya e a minha mente insiste em me relembrar disso.
Não tenho paciência para nada, a verdade é que me tornei um verdadeiro porre. Odeio quando a minha mãe tenta me confortar ou quando o meu pai tenta me dar algumas palavras de consolo. Sei lá... Parece que eles já se conformaram com a situação da Alya e querem que eu me conforme também. Mas não vou me conformar. Não posso... Não quero!
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Home - What if it was never you?
Romance"Eu preciso que você me escute... Eu preciso que você ao menos tente me entender..." - Seus olhos fitam os meus desesperados, como se procurassem em um algum lugar distante um pouco de perdão. "Eu fiz isso porque amo você... Por favor... Só me escut...